O lance é leiloar
Sabemos que é de desinteresse do estado cuidar da memória do
seu povo. Desde que o capital desenfreou-se para manutenção de outras ordens ou
desde quando cresceu um interesse pelo novo, não sabemos precisar ao certo este
lugar, que tem sido assim. De modo que, há coisas que vão sendo vendidas pelos responsáveis
no intuito de passar adiante, de preferência para as mãos de algum responsável que
tome para si o interesse de preservação negado pelo poder público. Parece que é
este um mercado sem crises. Recentemente uma quantidade significativa de
objetos pertencente a Oscar Niemeyer foi a leilão; houve peças, como quadros
desenhados pelo arquiteto, que chegaram às cifras dos R$ 200 mil.
Em Portugal, objetos pertencentes a Fernando Pessoa já foram
só este ano duas vezes a leilão; depois de um que vendeu materiais como uma
escrivaninha pertencente ao poeta, foi a vez de mais um evento do tipo, realizado
entre os dias 12 e 13 de novembro passados, em Lisboa que levaram a leilão peças
como edições de revistas e manifestos e dois poemas autografados por Pessoa e
dedicados à sua afilhada Signa, filha de António Teixeira-Rebelo (seu ex-colega
no Curso de Letras).
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Gabriel García Márquez. Foto de 1976, catorze anos depois de ter escrito "Neste povo não há ladrões". |
E uma vez estivemos falando por aqui dos escritores do Boom
Literário na Literatura de Língua Espanhola, na próxima quarta-feira, 21 de
novembro, em Londres, um texto original do conto “Neste povo não há ladrões”,
do colombiano Gabriel García Márquez, um dos escritores de 1962, texto com
correções e anotações do próprio escritor, também será leiloado.
Para a Christie’s, casa responsável pelo leilão do objeto, o
texto é tido como o primeiro manuscrito de Márquez leiloado em nível
internacional. Aparece escrito à máquina, mas conta com muitas anotações e
correções, um fato que “permite uma rica aproximação aos métodos de trabalho do
escritor”.
A versão original deste conto que foi adaptada ao cinema em
1965, pelo diretor mexicano Alberto Isaac, difere muito da edição publicada na
coleção “Os funerais da Mamãe Grande” (1962), incluindo o próprio título, que a
princípio era “Às vezes sucede um milagre”. O manuscrito tem 33 páginas e
inclui uma seção revisada do romance A má
hora, que o Prêmio Nobel de Literatura publicou nesse mesmo ano.
No leilão em que a peça de Gabriel García Márquez está incluída
ainda outras peças como edições originais de Razão e Sensibilidade, de Jane Austen, A Origem das Espécies, de Charles Darwin, e O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, em alguns casos com dedicatórias realizadas
pelos próprios autores, além de cartazes de Franz Kafka e Simon Bolívar.
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Fonte: informações do Blog da Casa Fernando Pessoa e do Portal Uol Notícias.
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