Uma lista dos livros que serão sempre lembrados como os únicos de um escritor

Ilustração: Sakuya Higuchi


É verdade que há escritores que se definem autor de um só livro; uns compreendem que, por mais que tenha escrito dezenas deles, cada um é só uma tentativa falhada ou o rascunho do grande livro. Já outros compreendem que o conjunto de títulos publicados forma um só livro. 

Ao dizerem isso, os escritores assumem, por dois caminhos uma anedota literária segundo a qual o esforço contínuo de quem se dedica a escrever é conseguir escrever a obra que o projete para a eternidade, para um lugar entre os do panteão da literatura. 

Quem se assumiu entre os escritores do primeiro grupo, se não publicamente, foi Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas é o grande livro que foi escrito das experimentações do escritor com as múltiplas formas narrativas, como o conto e a novela, e mesmo a poesia. Ou ainda, Ariano Suassuna, este sim, envolvido no trabalho contínuo de fazer e desfazer narrativas, qual Penélope à espera de Ulisses, findará por não alcançar concluir o que espera ser sua grande obra. Quando saiu A pedra do reino sabia-se que o escritor paraibano trabalha num só romance dividido em três volumes e que leva mais de duas décadas em composição. 

Entre os do segundo grupo, pode-se citar António Lobo Antunes. Segundo o escritor português sua tarefa é a de escrever uma só obra, por mais volteios que percorra e por mais fins que se anuncie. Sim, há muito que se diz a cada novo romance que é enfim o tal ponto final no grande projeto circular.

Mas, outras vezes a ideia do único livro é tão somente escolha casual dos leitores. Isso acontece quando, do conjunto de obras publicadas de um escritor, prevalece um mais quisto e logo mais vendido e sempre o primeiro título que vem à memória de qualquer um quando se diz o nome de tal escritor. Algo dessa natureza parece acontecer com quase todos; e os raros que fogem à regra podem ser facilmente colocados no grupo dos gênios. 

Bom, dos três grupos saíram os títulos da lista apresentada a seguir. Em grande parte, a leitura dessas obras já será o suficiente para se compreender o propósito literário e criativo de um escritor. Logo é esta uma lista um tanto quanto ambiciosa: servir ao leitor como um roteiro para a escolha do que ler de determinado escritor.

Não estão aqui, como é óbvio, todos os nomes possíveis. Nenhuma lista, sabe-se, é universal; nenhuma lista conseguirá contornar todos os interesses. Mas, estão aí algumas figuras da literatura igualmente lembradas (assim como seus únicos livros) como peças fundamentais no panteão. Tomara que gostem! Se não, têm toda liberdade de acrescentar o livro que lembrar e que não se vê aqui.

Uma dia voltaremos a esta lista, seja para ampliá-la, seja para propor uma com livros brasileiros.

A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy, de Laurence Sterne
Não é o caso de ser a obra deste escritor e clérigo anglicano inglês muito vasta. Mas este livro foi recebido desde seu primeiro volume, publicado em 1759 (o restante sairá no correr de uma década), de modo sonante pela crítica. É um livro tido como precursor do fluxo de consciência, além, é claro, de ser pura metaficção, esse modelo que agora dizem ser uma invenção da pós-modernidade.

O pequeno príncipe, de Antoine Saint-Exupéry
Seu autor escreveu vários outros títulos, mas foi com este livro que ficou reconhecido e é sempre lembrado. A obra foi publicada quando o aviador francês ainda estava exilado nos Estados Unidos. É um conto sobre solidão, amizade, amor e perda construído a partir das memórias do próprio Saint-Exupéry, de suas experiências de aviação no deserto do Saara. O autor compôs as ilustrações para a obra que já ultrapassou as duas centenas de idiomas e dialetos para os quais foi traduzida.

As relações perigosas, de Choderlos De Laclos
Ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade foi, no Brasil, o tradutor mais famoso deste romance epistolar do século XVIII. A obra é um fino retrato das relações de um grupo de aristocratas a partir das cartas que escrevem entre si, na época imediatamente anterior à Revolução Francesa. Publicado em 1782, foi considerado obra caluniosa porque tratava de outro modo a nobreza francesa, sem as idealizações retratadas pela literatura anterior. Talvez esteja aí o motivo porque sobrevive como a obra mais conhecida e a que propicia-nos conhecer a literatura deste general francês.

Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll
Sabe-se que o professor de matemática, metido a fotógrafo, e envolvido com o universo infantil construiu esta história pela oralidade; depois escreveu de próprio punho e ilustrou. Pronto nasceu assim, meio ao acaso, o que é considerada uma obra-prima da literatura infanto-juvenil. Até a continuidade das aventuras da personagem principal publicadas depois não conseguiram contornar o lugar deste livro repleto de alusões satíricas e fina paródia da literatura infantil do tempo do seu autor.

Doutor Jivago, de Boris Pasternak
Poesia, crônicas, crítica... Nada disso prevaleceu além deste livro na carreira meio desajeitada do escritor russo. Um livro que chegou a servir de motivação ao exército estadunidense na luta contra a ditadura comunista; e, controverso, não deixa de trazer os laivos de certa xenofobia contra o povo judeu. Enfim, situado entre o limite dos que o têm como uma grande obra e dos que a repudiam, pode-se dizer que este é o único livro de Boris Pasternak.

O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger
Este livro foi a salvação e a condenação do seu escritor. Estrondoso sucesso entre os leitores nos Estados Unidos, a história do adolescente revoltado e narrador farsante Holden Caulfied se fez a cabeça de muitos porque muitos atravessam a rebeldia dessa fase complexa da vida também serviu de justificativas para outras atrocidades e por isso muitas vezes censurado nos Estados Unidos. A principal polêmica em torno da obra é que o assassino de John Lennon tinha consigo um exemplar do romance quando flagrado na cena do crime. Depois dele, Salinger escolheu o silêncio e a reclusão. Mas, nada terá lhe saído da sua pena melhor que este romance.

Frankenstein, de Mary Shelley
Vez ou outra se fala sobre Mathilda, obra que Mary Shelley publicou um ano depois desta que nasceu numa conversa-desafio informal na Genebra de 1816. Mas nem a novela de 1819, nem o seu teatro ou sua incipiente poesia, são referência para a autora. A obra, inserida na literatura gótica do período, é precursora de toda uma força de criação literária ainda recorrente nos dias de hoje. 

Mulherzinhas, de Louise May Alcott
Adaptado reiteradas vezes para o cinema, o romance de inspiração autobiográfica que conta a história de quatro irmãs crescendo entre 1861 e 1865, durante a Guerra Civil Americana, é sempre lembrada como o único leiro que May Alcott escreveu. E olha que a escritora chegou a escrever uma sequência da história, Good Wives, mas quem lembra mesmo? 

Drácula, de Bram Stoker
Junto com o Frankenstein, de Mary Shelley, este romance meio epistolar e mais documental constitui a peça-chave de uma tradição literária que se espraiou além das fronteiras verbais. Sabe-se que Bram Stoker se inspirou em várias outras histórias alusivas a este conde, mas é a partir de sua realização, que a figura do Drácula passa a se apresentar como um mito do vampiro moderno: o do dândi sedutor em traje de gala e capa preta indestrutível. O escritor irlandês publicou contos e vários outros romances, mas nenhum supera a fama do romance de 1897, seu sétimo livro.

Peter Pan, de J. M. Barrie
A gênese desse livro é interessante; o escritor primeiro pensou a personagem para uma peça de teatro que ganhou notoriedade desde então, Peter and Wendy. Do teatro para um livro com mesmo título. A história de um garoto que se recusa a crescer e passa a vida em aventuras mágicas se tornou célebre entre o público infanto-juvenil de todo do mundo e até designação para uma condição psíquica recorrente nesta era da imagem cujo símbolo mais pop encontra-se em Michael Jackson; o artista, aliás, é um confessado fã da história.

Na estrada, de Jack Kerouac
Um dos pais da Beat Generation escreveu uma extensa obra. Muitos romances e até haicai. Mas, toda vez que se fala em Kerouac, além do homem sedutor e extravagante, vem a imagem do autor de On the road. O ideal de aventura e liberdade talvez esteja no cerne do gosto leitor, afinal, são dois elementos quase sempre recorrentes no imaginário de todos nós. O escritor estadunidense soube captar bem essa essência a partir de suas próprias experiências inclinadas ao heroísmo de seu tempo e o lance da criação marcada pela impulsão, desfazendo-se dos modelos mais tradicionais da exímia lapidação da linguagem.

Moby Dick, de Herman Melville
O livro que não deu fama nem dinheiro ao seu autor em vida. Que arrebatou uma legião de amores e de ódios. Não há meio termos sobre gostar desse romance cuja narrativa implica uma luta contínua entre instinto e razão. Mas, entre um e outro grupo, o que se sabe é que esta foi a única obra de Melville. Apesar de o escritor estadunidense ser autor de obras e de variadas formas: novela, conto, poesia, prevaleceu o romance aqui listado. Também não foi por causa do insucesso do que é hoje lembrado como seu único livro, um escritor fracassado. O início da carreira de Melville foi marcado por alguma fama e reconhecimento. Sucesso que só se internacionalizou depois de sua morte e da redescoberta deste livro publicado em três volumes em 1951 pela crítica e pelos leitores.

As viagens de Gulliver, de Jonathan Swift
Esta é uma obra-prima da sátira e por isso logo se tornou um clássico da literatura inglesa. Algumas fontes sugerem que Swift começou a escrever o romance em 1713; tudo era só para ser um exercício promovido pelo Scriblerus Club para satirizar gêneros da literatura popular. Do grupo, o escritor teria ficado responsável por escrever as memórias do autor imaginário da confraria, Martinus Scriblerus, e satirizar a forma narrativa contos de viagem. Terá levado todas as décadas seguintes para compor a obra que só ficaria definitivamente pronta em agosto de 1725. Autor de panfletos, poemas e várias outras sátiras, ficou lembrado para sempre o escritor de As viagens de Gulliver.
    
Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar
Publicado em 1951, este romance significou a consagração da escritora belga. Trata-se de uma autobiografia imaginária sobre a vida do romano Adriano. Pouco antes de sua morte, o imperador decide escrever uma longa carta-testamento ao jovem Marco Aurélio; nela, passa em revista os principais episódios de sua extraordinária existência: a relação de afeto com a mulher de Trajano, Plotina; as campanhas militares em diversas regiões da Europa; as viagens à Ásia Menor; a paixão pela caça; as discussões filosóficas com os principais pensadores do seu tempo; as relações com Trajano, seu antecessor; e o casamento com Sabina. Mas, o centro vital do seu relato é mesmo o seu amor pelo jovem grego Antínoo, que se matara no auge do esplendor físico. A partir dessa perda, Adriano se interroga sobre o destino, a precariedade da vida e a inevitabilidade da morte, que não poupa senhores nem escravos.

A sangue frio, de Truman Capote
O relato do brutal assassinato de uma família de fazendeiros na cidade de Holcomb, no interior do Kansas, Estados Unidos, levou o jovem escritor e jornalista a uma obsessão: descrever as situações que levaram os dois assassinos ao crime, a partir do ponto de vista deles. A obra está entre as principais criações situadas entre o jornalismo e a literatura e que resultariam, mais tarde, numa forma recorrente neste segundo campo: o romance jornalístico.

O amante, de Marguerite Duras
Esta novela foi a que deu projeção internacional e ficou sendo a obra principal da escritora francesa também reconhecida pelo trabalho no cinema (dos quais destaca-se Hiroshima Mon Amour, dirigido por Alain Resnais) e para o teatro. O amante ganhou o prêmio máximo da literatura francesa, o Goncourt em 1984. Filtrada por uma memória ao mesmo tempo autobiográfica e ficcional, a narrativa (que se passa em 1929) reconstitui os embates entre uma adolescente que mantém uma relação com um oriental dez anos mais velho que ela. Intensamente lírico e erótico, a narrativa acompanha com rara felicidade a descoberta e o esgotamento da sexualidade, consumida em fogo lento pela escrita corrosiva de Duras.

Pedro Páramo, de Juan Rulfo
Este é o único romance do escritor mexicano; publicado em 1955, logo se tornou um dos melhores e mais influentes livros da literatura hispano-americana tendo recebido elogio de escritores de estéticas variadas como Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes, Octávio Paz, Günter Grass e Susan Sontag. A trama se passa na cidade de Comala, no estado de Colima em época indefinida mas que muito se aproxima do período da Revolução Mexicana e da Guerra Cristera. O que faz de Pedro Páramo uma grande obra (e única, totalmente) de um escritor é a capacidade de compressão da linguagem e o tom autêntico com o qual Rulfo molda o que ficou conhecido como Realismo Mágico.

Paradiso, de José Lezama Lima
Este é um dos romances mais desafiadores da literatura universal, assim, não é à toda que se tornou num dos mitos da literatura latino-americana. Edificação máxima do esplendor barroco, fusiona heranças culturais e literárias de vertentes híbridas. Percorre a Grécia antiga, a América criolla, a Europa de Dante, Góngora, Goethe e Voltaire. Sabe-se que o escritor cubano levou mais de duas décadas na gestação da obra. Nela, o leitor acompanha o crescimento da asmática personagem José Cemí, da infância à vida adulta, em meio ao desenvolvimento de sua vocação poética. Mas, à José Lezama Lima pouco importam as convenções para o que dão amálgama aos chamados romances de formação: toda a lógica do mundo, as observações, as descrições, as reflexões pessoais, cedem a uma iconoclastia poética.

A terra desolada, de T.S. Eliot
O poeta estadunidense, radicado na Inglaterra, despensa apresentações quando nos referimos às produções poéticas modernistas, marcadas por outras presenças singulares tais como Ezra Pound, Fernando Pessoa, Walt Whitman, Charles Baudelaire e Carlos Drummond de Andrade. Este poema foi concebido durante um período dos mais turbulentos na vida do poeta: tomado por transtornos psiquiátricos, a separação dramática de sua companheira, igualmente afetada pelos distúrbios. É seu próprio chão devastado o gatilho para uma reflexão sobre a aridez da modernidade, tomada pela guerra e a incerteza do futuro.

Folhas de relva, de Walt Whitman
Antes de T. S. Eliot, o poeta estadunidense demonstrou com toda a força radical as possibilidades novas para a poesia; este livro inova tanto do ponto de vista formal, pelo uso dos versos livros e longas linhas rítmicas, quanto do conteúdo, pela defesa à democracia e a capacidade de transmudar em poesia situações corriqueiras e prosaicas. A primeira edição publicada pelo próprio poeta contava apenas com um prefácio e uma dúzia de poemas; mas Whitman trabalhou longamente na revisão e acréscimo de sua obra durante as quatro décadas seguintes. E o resultado foi uma edição de quase quatro centenas de poemas.

As flores do mal, de Charles Baudelaire
Extremamente perfeccionista, este livro de poemas publicados em 1857 quase não viu a luz, devido as idas e vindas do poeta francês. A obra desde sua aparição se tornou revolucionária em dois momentos singulares da literatura: o simbolismo e o modernismo. Em As flores do mal, Baudelaire reuniu uma síntese de seu universo poético: a queda, a expulsão do paraíso, o amor, o erotismo, a decadência, a morte, o exílio e o tédio são algumas das obsessões aí recorrentes.

Decameron, de Boccaccio
Esta é uma coleção de uma centena de novelas escritas entre 1348 e 1353. São histórias contadas por um grupo de sete moças e três rapazes que se abrigam numa vila isolada de Florença para fugir da Peste Negra que afligia a cidade. As histórias aí narradas vão do erótico ao trágico, retratam a sagacidade de figuras humanas interessadas em subverter a miséria de suas vidas. Escrito no vernáculo da língua florentina, a obra se tornou numa das principais criações em prosa da literatura clássica italiana. É ainda considerada um marco literário na ruptura entre a moral medieval , em que se valorizava o amor espiritual, e o início de uma narrativa mais naturalista-realista, pela maneira como registra os valores mundanos que vieram redundar no humanismo.

O homem sem qualidades, de Robert Musil
Considerado um romance filosófico, ambientado nos últimos dias do Império Austro-Húngaro, mostra-se, em muitos momentos, dissertações alegóricas sobre diferentes temas e sentimentos humanos. A obra é considerada uma das principais do modernismo e uma das mais importantes da literatura alemã do século XX. O seu autor trabalhou na ideia por mais de duas décadas e não chegou a vê-la concluída. A ideia era que a longa narrativa se estendesse ainda por um terceiro tomo que ficou incompleto, circunscrito a duas partes, das quais, apenas a primeira chegou a ser revista integralmente. A segunda ficou sem a revisão para duas dezenas de capítulos; e a terceira ainda estava inacabada em 462 páginas que ganhou edição póstuma pelas mãos de Martha, companheira do escritor. 

A divina comédia, de Dante Alighieri
É interessante que o título da obra-prima de Dante, tal como conhecemos hoje foi atribuído por Boccaccio. Este é um poema de forma épica e teológica considerado um dos mais importantes da literatura italiana. Escrito no século XIV, está dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. Não se sabe quando Dante teria começado a escrever sua obra; inovadora, na linguagem, o poeta terá preferido o dialeto toscano de seu tempo e não o latim na sua composição. Esta obra é uma das principais fontes de acesso à cosmovisão medieval.
  
Fausto, de Goethe
A obra do escritor alemão é vastíssima e inclui, muito provavelmente ao lado deste poema trágico, um título que ganhou fama desde a onda de suicídios que marcou o período romântico em seu país, Os sofrimentos do jovem Werther. Fausto está redigido como uma peça de teatro com diálogos rimados, pensado mais para ser lido que para ser encenado. Constitui numa das obras mais significativas da literatura alemã e foi o trabalho da vida de Goethe. Uma primeira versão saiu em 1775 (um esboço que ficou conhecido como Urfaust); em 1791 saiu outro esboço (Faust, ein Fragment). A versão definitiva saiu em 1808. Mais tarde, o poeta volta a esta obra para a composição da segunda parte, editada em 1832.

Dom Quixote, de Miguel de Cervantes
O livro surgiu a partir da paródia das então famosas novelas de cavalaria, renova a narrativa e abre caminhos para o que seria, mais tarde, chamado de romance. Tomado pela loucura, depois de uma overdose de leituras de novelas da cavalaria, o fidalgo Alonso Quijano transforma-se no cavaleiro Dom Quixote; parte como seu fiel escudeiro Sancho Pança numa empreitada para salvar figuras dos males do mundo e sempre tomado de amores por Dulcineia del Toboso. O sucesso da obra foi tanto aquando sua aparição que levaria o escritor espanhol a retornar a história compondo uma segunda parte ainda mais criativa e original.

Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa
O escritor brasileiro trabalhou em contos e novelas, duas formas da prosa pelas quais também ficou reconhecido, mas mesmo estas obras e toda sua vida estão dedicadas ao grande romance. Situada no sertão brasileiro, que se torna transmutado pela rica e experimental linguagem do escritor mineiro, o enredo é alimentado pela prosa livre do jagunço Riobaldo que se apega a duas circunstâncias para composição de sua narrativa: o pacto com o demônio (recurso herdado da tradição recorrente dentre obras no próprio Fausto, de Goethe); e sua paixão por Diadorim, uma figura do seu bando de aspecto diverso e encantatório. O grande trabalho de Rosa, além da narrativa, é a maneira como funde o fluxo de consciência e o realismo; destaque-se ainda o prodigioso trabalho com a linguagem, ativando todas as potências da língua portuguesa.

Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski
A obra do escritor russo é vasta e divide leitores que consideram seu autor um expoente da literatura russa e aqueles para quem este lugar é de Liev Tolstói. Publicado em 1866, a narrativa é em torno do jovem estudante Raskólnikov que comete um assassinato e se vê perseguido por sua própria consciência que o impede de levar uma vida corriqueira como se nada tivesse acontecido. Precursor das inovações narrativas quanto às representações da interioridade dos sujeitos, este é sempre lembrado como o principal romance de Dostoiévski.

Lolita, de Vladimir Nabokov
Tal como a obra do escritor russo citado na dica acima, a obra de Nabokov é extensa, mas foi com este romance que seu nome ficou reconhecido, não sem alguma polêmica, é claro, reativada de tempos em tempos. Recusado por várias editoras, Lolita só veio a público em 1955 por uma editora francesa. A aparição da obra logo gerou duas correntes de leitores: os que consideravam a obra-prima da literatura contemporânea por seu estilo inimitável; e os que consideravam mais um atentado à moral e os bons costumes. O protagonista do romance é o obsessivo Humbert, professor de meia-idade que, da cadeia, à espera de um julgamento por homicídio, narra, num misto de confissão e memória, a desastrosa atração por Lolita, adolescente de doze anos.

Os miseráveis, de Victor Hugo
Esta é considerada uma das magnum opus do escritor francês e a primeira obra que sempre vem à memória do leitor quando citado seu nome. Publicada em 1862, este romance foi logo considerado um fenômeno; só em Paris (e a obra foi publicada simultaneamente em várias cidades do mundo, incluindo Rio de Janeiro, no Brasil) foram 7 mil exemplares em um dia. Fundado numa forma precursora do romance de denúncia social, aqui se entrevê ainda a visão filosófica e política do escritor. A história passa-se na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (19815) e os motins de junho de 1832. Em cena, a vida de Jean Valjean, um condenado posto em liberdade, até sua morte. Em torno dele giram personagens que formam uma cosmovisão da França daquele período: Fantine, Cosette, Mairus, dentre outras.

Nota

As sinopses dos livros indicados nesta postagem não existiriam sem a consulta aos conteúdos publicados neste blog até o presente, à Wikipedia, às sinopses oferecidas pelas editoras que publicam tais obras no Brasil, dentre as quais, sublinha-se com devida atenção para as desenvolvidas pela Folha de São Paulo  na sua coleção de títulos importantes da literatura universal em "Biblioteca Folha".

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