Cruz e Sousa
"Tem poetas que interessam mais pela obra, artistas cuja peripécia pessoal se reduz a um trivial variado, sem maiores sismos dingos de nota, heróis de guerras e batalhas interiores, invisíveis a olho nu. Tem outros, porém, cuja vida é, por si só, um signo." Assim inicia Paulo Leminski a apresentação que faz sobre a vida de Cruz e Souza, considerado, muito tardiamente, pela crítica literária como um introdutor do Simbolismo no Brasil pela publicação de dois livros, em 1893, Missal e Broquéis.
Filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro – Florianópolis, hoje – em 1861. Foi “escondido” ou “rejeitado” do/pelo público leitor durante muito tempo, apesar de a crítica o ter como introdutor do simbolismo no País. Sua obra ainda é um campo de investigação vasto que somente agora começa a ganhar atenção merecida. Fora isso, teve o autor uma vida conturbada. Uma tragédia, pode-se assim dizer. Essa tragédia pessoal vem agravar-se com o seu casamento. A esposa, Gavita Gonçalves, também negra, deu-lhes quatro filhos. Todos eles morreram muito cedo. Todos vitimados pela tuberculose. Com a morte dos filhos, Gavita enlouqueceu e permaneceu internada por longos períodos. Também vitimado pela tuberculose, Cruz e Souza morreu numa pequena cidade mineira, Sítio, onde se refugiara em 1898. Seu corpo foi transportado para o Rio de Janeiro em um vagão de animais.
Não obstante uma história de vida marcada pela miséria e pela dor, a produção literária de Cruz e Souza o coloca hoje entre os grandes simbolistas do século passado. Hoje chegam a compará-lo a Mallarmé. Impressiona a crítica em sua poesia pela profundidade filosófica e a angústia metafísica, temas sem dúvida oriundos de sua sofrida experiência pessoal.
Podemos encontrar, de modo recorrente, em sua obra, a tematização do amor, do mistério, das sensações, da angústia, da dor de existir, do conflito entre a carne e o espírito, da escravidão e da mulher. Em seu vocabulário poético predominam, de modo obsessivo, termos associados à cor branca – névoas, alvas, brumas, lírios, neve, palidez, lua etc.
Cruz e Sousa publicou ainda, além de Missal e Broquéis, Tropos e fantasias. Postumamente foram editados Faróis, em 1900, e Últimos sonetos, também em 1900.
* O texto fonte desta post está em ABAURRE, Maria Luiza; PONTARRA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português:língua e literatura. São Paulo: Moderna, 2000.
Comentários