As benevolentes e o monólogo de um carrasco

Por Juliano Pedro Siqueira Jonathan Littell. Foto: Evgen Kotenko O mundo comemora de forma bastante tímida os oitenta anos da vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazista. Um passado não tão longínquo que deixou sobre a terra — além dos resquícios de uma maldade latente — um pressentimento de que tais atrocidades podem nos sobrevir numa escalada ainda mais sangrenta. E a literatura foi um instrumento visceral e imprescindível ao retratar o período da Segunda Grande Guerra, arrecadando vasto material manuscrito, inclusive, de autores que registraram, astutamente, em diários e ofícios clandestinos, os horrores do front e os bastidores infernais, tornando-os testemunhas fidedignas. Depois das experiências espinhosas com Arquipélago gulag , de Alexander Soljenítsin, Vida e destino , de Vassili Grossman e alguns volumes de Os contos de Kolimá , de Varlam Chalámov, pensei que tivesse consumido o que tinha de mais visceral e arrebatador sobre literatura de guerra. Enganei-me! Re...