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Cristina Peri Rossi. Foto: Cristina Gallego |
LANÇAMENTOS
Dois livros apresentam a escritora
uruguaia Cristina Peri Rossi, um dos principais nomes da literatura de língua
espanhola do nosso tempo, Prêmio Cervantes em 2021.
1. De um lirismo contundente, seu
primeiro livro de poemas,
Evoé, lançado em 1971, Peri Rossi causou
escândalo ao explorar o erotismo lésbico. No ano seguinte seus livros foram
censurados e seu nome foi proibido nos meios de comunicação em seu país. Em
outubro de 1972, às vésperas do golpe que implantaria a ditadura militar no
Uruguai, fugiu para a Europa e exilou-se em Barcelona, onde vive até hoje. Consciente
de que “O poeta não escreve sobre as coisas/ senão sobre o nome das coisas”,
criou uma obra multifacetada, não dogmática, atravessada pelos temas do exílio,
do desejo — em suas múltiplas dimensões — e por um anseio constante de
transgredir toda ordem estabelecida pelo sistema patriarcal. A antologia
Nossa
vingança é o amor reúne — em edição bilíngue, com seleção e tradução de
Ayelén Medail e Cide Piquet — 150 poemas de seus dezoito livros de poesia, além
do discurso da autora para o Prêmio Cervantes e de um posfácio assinado por
Ayelén Medail. Livro sai pela Editora 34.
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2.
A insubmissa é o romance
de formação autobiográfico de Cristina Peri Rossi, premiada autora uruguaia e
uma das mais proeminentes escritoras de língua espanhola. Nele, acompanhamos
sua infância e juventude, contadas a partir da estranheza e da perplexidade
diante de um mundo sempre em conflito com os seus desejos: usar calças, não
comer animais, ter uma biblioteca, escrever, amar outras meninas. Através de
experiências familiares, fabulações e do tempo de um dolorido amadurecimento,
se desenha uma personalidade contestadora e determinada a viver os seus desejos
mais profundos a despeito das interdições impostas ao comportamento e ao corpo
de uma mulher. Tradução e posfácio Anita Rivera Guerra; publicação da Bazar do
Tempo.
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No ano do centenário de Dalton
Trevisan (1925-2024), Rogério Faria Tavares reuniu 13 dos principais autores
brasileiros contemporâneos para prestar homenagem ao vampiro de Curitiba.
Noemi Jaffe, Adelaide Ivánova,
Luís Henrique Pellanda, Veronica Stigger, Marcelino Freire, Cristhiano Aguiar,
Ana Elisa Ribeiro, Luci Collin, João Anzanello Carrascoza, Rogerio Pereira,
Mateus Baldi, Carlos Marcelo e Caetano W. Galindo colocam Dalton para “viajar”
pelo Brasil, seja por uma espelunca em Campina Grande ou pela cena literária de
Belo Horizonte, ou mesmo em sua Curitiba natal, que parece indecisa entre seu
passado provinciano e seus sonhos de modernidade. O vampiro está em todo lugar,
com seus caninos afiados, para colecionar os traumas, as obsessões e as taras
de uma sociedade insone e desigual.
Os elefantes viriam pela manhã é a
prova da enorme sombra que a obra de Dalton lançou na história da literatura do
Brasil. E como aponta a crítica Eliane Robert Moraes: “Dalton Trevisan tem
realmente o tamanho do mundo — e não é por outra razão que seu legado permanece
para sempre vivo”. Publicação da Autêntica.
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O novo título na Coleção
Reserva Literária, projeto conduzido pela editora laboratório Com-Arte e Edusp.
Inicialmente publicado em 1922,
como folhetim, no jornal
O Paiz, o romance
Uma paixão, de
Chrysanthème, acompanha Maria Luísa, uma jovem que se vê em um dilema entre o
desejo e a moralidade ao se apaixonar pelo cunhado Maurício, que vivia um
casamento difícil com a meia-irmã da protagonista. A narrativa cotidiana, que
se passa no Rio de Janeiro no início da década de 1920, é atravessada por
debates feministas que abordam a luta por uma maior liberdade feminina no
período e, principalmente, questionam o matrimônio como o principal ideal para
a mulher. Nesta nova edição do romance, recupera-se cuidadosamente uma obra
que, apesar de ter tido uma quantidade relevante de leitores em seu tempo,
ficou em grande parte esquecida por ter sido considerada “escandalizante” pela
crítica da época.
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Neste segundo volume, os
mosqueteiros abrem passagem para Louise de la Vallière, uma jovem dama de honra
que conquista corações e vive as armadilhas do amor em um cenário político
turbulento.
Traduzido pela primeira vez no
Brasil,
O visconde de Bragelonne, a tão aguardada última parte de
Os
três mosqueteiros, é repleta de conflitos e mudanças repentinas. Em um
cenário onde o destino das nações está em jogo e cada vez mais afetado pela
lógica burguesa em ascensão, D'Artagnan, Porthos, Aramis e Athos se sentem cada
vez mais sem lugar. Neste segundo volume, a jovem Louise de La Vallière,
considerada “a verdadeira heroína dessa história” e grande paixão de Raoul,
rouba a cena numa trama centrada nos amores e intrigas por poder na corte em
crise de Luís XIV. Apaixonada pelo rei, os encontros e desencontros amorosos
entre Louise e Luís IX encenam disputas de poder e ambições que descortinam o
quanto as paixões impactam nos bastidores políticos e militares da França. Com
um tom mais romântico, mas sem renunciar aos típicos duelos, aventuras e
reviravoltas dramáticas que marcam a saga, Dumas constrói um protagonismo
feminino em toda sua força bela e trágica em uma época dominada pelo poder dos
homens. Tradução de Jorge Bastos; publicação da editora Zahar.
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Nesta aguardada coletânea de
contos inéditos, a escritora argentina Samanta Schweblin, um dos maiores nomes
da ficção contemporânea latino-americana, reitera seu domínio da narrativa
breve com seis histórias que já nascem clássicas.
Em todas as histórias reunidas em
O
bom mal, personagens vulneráveis e profundamente humanas têm suas vidas
transformadas de modo irreversível quando confrontadas com situações
inquietantes que irrompem onde menos se espera: em plena ordem cotidiana.
Discípula de Edgar Allan Poe na arte da construção atmosférica, Schweblin
sugere mais do que afirma e, com isso, nos conduz a um clima de alta voltagem
premonitória. Ao adentrar seu universo, sabemos que basta um ínfimo detalhe
para que a tragédia se anuncie e o familiar se torne estranho, revelando-se toda
a fragilidade do nosso pacto com o real. Como afirmou o escritor espanhol
Enrique Vila-Matas, “há um antes e depois” da leitura de Schweblin, restando “a
lembrança de algo que nunca nos deixará”. Os contos dão atenção a personagens
que frequentemente não têm espaço na literatura. É o caso dos animais ― o
coelho em “Bem-vinda à comunidade”, ou o cavalo de “Um animal fabuloso” ― e das
mulheres mais velhas, inesquecíveis, de “William na janela” e “A mulher de
Atlántida”. Sem sociologizar, Schweblin enfoca os atípicos (“O olho na
garganta”) e outros aspectos de marginalidades sociais, como as atitudes do
rapaz desajustado de “O Todo-Poderoso faz uma visita”. Talvez por isso as seis
histórias deste livro sejam a um só tempo trágicas e venturosas, permeadas por
culpa, solidão e luto, mas também por laços de família, amor e saudade. Através
do insólito que desorganiza a vida, tudo se passa conforme o título anuncia: o
mal é um bem necessário. Ou, ainda ― porque nas narrativas nada é o que parece
―, a bondade pode ser maléfica. Publicação da editora Fósforo. A tradução é de Livia
Deorsola.
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Autor de uma vasta obra que
transita entre o romance e o ensaio, vencedor do Prêmio Goncourt em 1992,
Patrick Chamoiseau é hoje uma das vozes mais expressivas e politicamente
engajadas da literatura francesa. Livro de contos marca sua estreia entre os leitores
brasileiros.
Herdeiro da tradição antilhana de
Aimé Césaire e Édouard Glissant, o escritor martinicano, natural de
Fort-de-France, se interessa por formas culturais e estéticas de sua ilha
natal, em especial a oralidade poética das narrativas crioulas transmitidas por
contadores populares. Um dos principais teóricos do movimento da “crioulidade”,
sua escrita reflete a complexa realidade linguística e cultural caribenha, se
conectando ainda às dinâmicas globais da afrodiáspora e da decolonialidade.
Contos
dos sábios crioulos, seu primeiro livro de narrativas curtas publicado no
Brasil, remonta ao período escravagista das Antilhas. Associando elementos das
culturas africana e europeia, e apresentando personagens humanos ou
sobrenaturais, estas dez histórias dão voz a um povo que busca driblar a fome,
o medo e a vigilância colonial, ao mesmo tempo em que, por desvios e astúcias,
transmitem sua mensagem também aos senhores. Nessas narrativas de resistência,
por vezes recriações da cultura oral popular, o “grito alçado das plantações” —
retomando as palavras de Edimilson de Almeida Pereira no posfácio deste volume
— ecoa aqui renovado, com a força de um poeta e pensador cuja matéria-prima, a
linguagem, é forjada com precisão e criatividade sem iguais. Publicação da
Editora 34.
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Luiz Schwarcz reconstitui uma
vida de amor ao livro e trata da capacidade única desse objeto de atravessar o
tempo pela memória.
A quem pertencem as páginas de um
livro? Se autores dominam o espaço com suas palavras, as margens em branco e as
entrelinhas são o lugar real e simbólico em que leitores estabelecem uma
conversa única com o texto, diálogo secreto e silencioso que lhes permite
manifestar suas subjetividades. Dentre os possíveis leitores de um livro, o
editor surge como o primeiro deles, numa tarefa delicada, privilegiada e
discreta. Combinando ensaio e memórias, Luiz Schwarcz traz essas e outras
reflexões para tratar de sua experiência como fundador e editor da Companhia
das Letras, além de lembrar pessoas que foram essenciais ao longo de sua
trajetória, como Caio Graco Prado, José Paulo Paes, Paulo Francis, Susan
Sontag, Rubem Fonseca, Amos Oz, Oliver Sacks, Jô Soares, José Saramago e Jorge
Zahar. Ao transpor as vivências passadas para o curso da escrita presente, o
editor-autor presta homenagem àqueles que influenciaram seu trabalho e realiza
uma imersão sensível no mundo dos livros.
O primeiro leitor é publicado
pela Companhia das Letras.
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REEDIÇÕES
Nova edição da reunião de
contos que se consagrou como uma das obras mais admiráveis do período da
contracultura.
Lançado em 1975,
O ovo
apunhalado reúne 21 contos de uma das vozes mais contundentes e
apaixonantes da literatura brasileira. Escrito entre 1969 e 1973, o segundo
livro de Caio Fernando Abreu retrata de modo singular a violência, a
fragilidade, as paixões e os anseios de personagens que têm como pano de fundo
o Brasil dos anos de chumbo. No posfácio para esta nova edição publicada pela
Companhia das Letras, Carol Bensimon observa o modo como o autor retrata o arco
que começa na adolescência e segue até a vida adulta. Para ela, este livro foi
escrito por “um Caio atormentado, cheio de dúvidas, visceral, autêntico, às
vezes nostálgico, mas sempre fiel a seus desejos. Intenso”.
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RAPIDINHAS
Pela primeira vez no Brasil,
Marvel Moreno. A editora Moinhos prepara a estreia da escritora colombiana,
nome singular na literatura latino-americana do século XX, com a publicação de
dois romances:
Em dezembro chegavam as brisas e
O tempo das amazonas.
A
tradução é de Silvia Massimini Felix.
Nova tradução do único romance
de Bertolt Brecht. Conduzida pela escritora Carla Bessa para a editora
Lume, sai em maio
Romance de três vinténs. A narrativa acompanha um
criminoso conquistador que se casa com a filha do rei dos mendigos.
Ethan Frome. A mesma casa
publica também neste mês o romance considerado por muitos a obra-prima de Edith
Wharton e da literatura estadunidense do século XX. Com tradução de José
Geraldo Couto.
Tom Ripley repaginado. A
editora Intrínseca aproveita o sucesso alcançado com o novo projeto gráfico para
a principal obra de Patricia Highsmith e apresenta os volumes 4:
O garoto que seguiu Ripley e 5:
Ripley debaixo d’água.
Seja Breve. É o nome de uma
nova editora capitaneada por Cadão Volpato e Bernardo Ajzenberg. Na estreia,
saem cinco títulos:
Que não se repita, de Eugênio Bucci;
O príncipe
do boxe, de Fabio Altman;
Lugares para chorar no Recife e outros, de
DJ Dolores;
Despaixão, de Paula Lopes Ferreira e
Notícias do trânsito,
de Cadão Volpato.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Criação, de Gore Vidal
(Trad. Newton Goldman, Nova Fronteira, 672p.) Ciro, o neto do profeta persa
Zoroastro, parte como embaixador em busca de novas riquezas e respostas para
suas inquietações. A edição do monumental romance aqui recomendada tem apresentação
de Carlos Heitor Cony.
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2.
A escravidão na poesia
brasileira: do século XVII ao XXI, org. Alexei Bueno (Record, 714p.) Para
ampliar o seu repertório quando este tema não formou parte apenas da poesia de
Castro Alves. Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga, Machado de Assis,
Augusto dos Anjos, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade estão entre os
vários nomes da poesia brasileira selecionados nesta antologia que registra uma
marca indelével na história da formação brasileira.
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3.
Objeto cintilante: história
sulfúrea, de André Timm (Faria e Silva, 176p.) Através de três personagens,
este romance examina a vida de uma família em que a aparente paz fixada pela
entrega dos seus membros à vida virtual explode num registro perturbador e comovente
de como a tecnologia tem condenado todos a uma escravidão interminável.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Em março deste ano, conforme relembramos
na edição n.362 deste Boletim, passou-se os 100 anos do nascimento de Flannery
O’Connor. Nesta semana, editamos em nossa conta no Instagram
uma post com a
recomendação de três dos seus livros editados no Brasil.
BAÚ DE LETRAS
Ainda que sua obra só agora desponte
no Brasil, Cristina Peri Rossi não é uma desconhecida para os leitores do
Letras.
Em 2022, traduzimos
este texto publicado inicialmente no jornal
El País
e dedicado ao convívio amoroso entre a escritora uruguaia e Julio Cortázar.
Neste domingo celebramos por aqui
o Dia das Mães. Aproveitamos a data para relembrar esta lista apresentada em
2017
aqui: “Mães de tinta e papel” recomenda onze títulos que lidam de maneira
diversa com a figura da mãe.
DUAS PALAVRINHAS
Só quem está vivo consegue escutar
a voz do mundo, entender sua linguagem, seu rumor, os ermos e luminescências de
suas palavras e por estar vivo é que consegue responder.
— Em
O som do rugido da onça,
de Micheliny Verunschk
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