Sobre a educação


Por Pedro Fernandes





As questões que preenchem os espaços discursivos acerca da educação no Brasil são tantas que chegamos mesmo admitir ser impossível contornar o quadro do decadentismo que se assiste de certos anos para cá. Uma, de todas as discussões, no entanto, se destaca: não sei se por deficiência nos próprios cursos de licenciatura, ou “falhas de percurso” obtidas ao correr dos quatro anos da faculdade, levanta-se no entorno do espaço escolar um movimento em prol de certa “facilitação” de fórmulas e/ou teorias sob o prisma de uma educação construtivista. Isso levando em consideração que o cenário pedagógico no Brasil vê-se “influenciado” pelas teorias de Piaget e Vigotski.

O construtivismo, base teórica dos estudos desses dois teóricos, ao chegar ao Brasil parece carrear todo pensamento das instâncias superiores, formuladoras de leis e paradigmas para o docente, a uma aplicabilidade mais que urgente delas no espaço escolar. No entanto, a teoria não parece ter sido bem recebida ou interpretada da forma como foi posta, o que pode ter ajudado ao culminante atual estágio do professor perante o discente.

A questão do facilitador e/ou mediador do conhecimento confunde-se, mesmo perde-se no cenário de tradicionalismo vivo e por vezes ainda marcante. Parece, inclusive, que os professores enxergaram nela uma lei de libertação, ou seja, agora eles passariam a desempenhar o papel de “jogadores” de conteúdo. A lógica seguida onde o tradicionalismo diz-se morto é essa: se o aluno absorve essa maratona de conteúdos, dez, se não, reprovado. (Entendamos esse reprovado entre aspas, muitas aspas; a legislação superior entra na dança com o discurso anti-reprovador.) A figura do professor perde autonomia, torna-se apática nesse baile. A construção do conhecimento perde seu sentido, uma vez que professor, aluno e o sistema educacional dançam a música em ritmos diferentes.

Unida a essa questão sobrevive também a idéia que se usou/pensou durante séculos de tradicionalismo, a de que o professor é simplesmente mero repassador de conhecimento, de informações; ao aluno não cabe escolhas, ele deve permanecer calado, tábula rasa de seus sermões.

O que mais se apregoa e um certo sistema tem tentado repassar isso é de que está no professor a culpa por isso; não é de um todo verdadeira essa afirmativa. A questão é bem mais complexa do que pôr a culpa toda no professor. Temos de ser realistas. Reside nele parcela de culpa, mas devemos enxergar que onde ele se insere também o leva ser o culpado. Basta que citemos um exemplo: os alunos que se preparam nos quatro anos de faculdade não têm e não lhes são incutidos sequer o sentido da palavra LICENCIATURA; é muito comum estudantes de licenciaturas se julgarem químicos, biólogos, físicos, matemáticos etc., educadores ou mesmo professores não.

Já quanto a sua parcela de culpa, professores devem parar de acreditar que todas as teorias construtivistas, todos os parâmetros são meros salvadores da atual situação da educação. Devem buscar o sentido da palavra autonomia; eles não são sujeitos para obedecerem a um conjunto de regras do ensinar melhor ou de seguir receitas teóricas xis ou ípsilon, isso não existe. Existem propostas e estas devem ser encaradas como mediadoras no processo de ensino-aprendizagem.

Essa autonomia que o professor deve possuir encontra-se na figura do provocador do conhecimento, do educador. Não se pode permanecer com espírito desacordado que é o que mais se enxerga nas salas de aula, nas salas de professores – nesta última parece mesmo existir uma verdadeira briga para ver quem reclama mais.

A profissão deve ser encarada com mais vigor e responsabilidade; ética para resumir as necessidades. O que se tem visto é que professor muitas vezes comporta-se como um agiota, interessado apenas no salário do fim do mês.

A educação necessita ser encarada como algo necessário e não como produto industrializado de venda e troca de favores; deve ser encarada como uma necessidade humana do coletivo, isto é, não se constrói, ou nesse caso se reconstrói, com ações isoladas. Para esse cenário não existem Emc’s, fórmulas, só resolve à base de uma revolução, revolução essa que deve partir do âmago de todos que nela estão envolvidos.


*Este texto foi publicado no Jornal De Fato, domingo, dia 27 de janeiro, no Caderno Domingo.


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