Dez mulheres da literatura potiguar


Há alguns nomes que se tornaram destaque num cenário mais amplo: penso que nomes como Zila Mamede (pela proximidade que manteve com figuras de maior escalão como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, com este nem sempre amistosa); Nísia Floresta (que morou parte da vida no Rio de Janeiro, viajou a Europa diversas vezes e despertou a atenção de Décio Pignatari sobre sua vida); ou mesmo Auta de Souza (lida por Manuel Bandeira) como os nomes do passado que ganharam certo destaque além das fronteiras do Rio Grande do Norte. Dos nomes contemporâneos sou suspeito falar, mas Diva Cunha e Marize Castro, suponho, estão entre as que têm melhor projeção além da literatura local. Estas estão numa listinha que preparei a seguir, mas há outras, um tanto desconhecidas. Apresento algum traço biográfico e algumas de suas obras. Que fique de estímulo a outros leitores. Ah, a numeração é apenas a título de organização! Não é isso aqui um ranking.

1. Nísia Floresta (12 de outubro de 1810, sítio Floresta/Papari - 24 de abril de 1885, Paris). Educadora, escritora e poeta, Nísia representa o ufanismo de sua própria época e uma necessidade de se auto-afirmar enquanto mulher haja vista seus ideais estarem anos-luz do nosso Estado porque ela os trazia da Europa, onde passou maior parte de sua vida; além da luta pela educação para mulheres e em favor dos direitos femininos, Nísia atuou à frente da causa abolicionista e da República. Algumas de suas principais obras: Direito das mulheres e injustiça dos homens (ensaio, 1832), Daciz ou uma jovem completa (novela, 1847), Fany ou o modelo das donzelas (novela, 1847), A lágrima de um Caeté (poesia, 1849), Dedicação de uma amiga (romance, 1850), Opúsculo humanitário (ensaio, 1853), Inéditos e dispersos (reunião de textos por Constância Lima Duarte, 2009).

Zila Mamede, uma das mais importantes referências para a literatura potiguar.

2. Auta de Souza (12 de setembro de 1876, Macaíba - 7 de fevereiro de 1901). Não é apenas o caráter feminino que dão traços à poesia de Auta, ela própria se constitui o típico físico do escritor da margem: pele escura, desprovida de beleza, com a vida marcada por tragédias e impossibilitada de uma vida plena por causa da tuberculose. Sua única obra publica, Horto, apesar ter escrito com bastante assiduidade aos jornais da época, data de 1900, que, desde então passou por sucessivas edições, entre elas, uma de 1936 com prefácio de Alceu Amoroso de Lima. Em 2001, são revelados novos poemas numa edição preparada pela pesquisadora Ana Laudelina Ferreira Gomes.

3. Palmyra Wanderley (6 de agosto de 1894, Natal - 18 de novembro de 1978, Natal). A importância da poetisa encerra no fato de que "ela representa a consolidação do verso modernista entre nós", assim apresenta Tarcísio Gurgel em seu Informações da literatura potiguar. Ela foi lida ainda por figuras como Tristão de Ataíde como um dos nomes mais importantes da Região Nordeste em seu tempo. Além de poesia, produziu textos para teatro como "Festa das cores". De sua obra vale conhecer Esmeralda (poesia, 1918) e Poesia Brava (poesia, de 1929), os dois únicos títulos publicados pela escritora.

4. Zila Mamede (15 de setembro de 1928, Nova Palmeira/Paraíba - 13 de dezembro de 1985, Natal) De jornalista, a bibliotecária, Zila foi poeta de ofício. Seus primeiros poemas são publicados no jornal Tribuna do Norte em maio de 1951. O primeiro título viria a lume dois anos depois. Além da poesia, seu trabalho se destaca pelo ensaio, sendo uma das primeiras a estudar a obra de Luís da Câmara Cascudo e a preparar uma bibliografia crítica da obra de João Cabral de Melo Neto e de Euclides da Cunha. Vale conhecer Rosa de pedra (poesia, 1953) e O arado (poesia, 1959). O leitor encontra as duas obras, outras e o inédito A herança, publicada numa edição limitada na década em 1984 numa antologia preparada pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2003. O trabalho sobre Cascudo está publicado em três tomos sob o título Luís da Câmara Cascudo: 50 anos de vida intelectual 1918-1968.

5. Myriam Coeli (19 de novembro de 1926, Manaus/Amazonas - 21 de fevereiro de 1982, Natal). Poeta e a primeira mulher no estado a exercer a profissão de jornalista. Seu universo poético em "versos límpidos" se marca pela "ternura, vigor, metafísica e cotidiano, dor e lúcida revolta", cf. Tarcísio Gurgel em Informação da literatura potiguar. Como Zila Mamede cursou Biblioteconomia e fez uma ampla carreira universitária, Myriam fez Filosofia na Faculdade de Filosofia do Recife e depois bacharelado e licenciatura em Letras Neolatinas; foi bolsista do Instituto de Cultura Hispânica e fez jornalismo pela Escuela del Periodismo de Madri. Como jornalista, escreveu mais de mil artigos, crônicas e reportagens; passou pelas principais redações da capital: Diário de Natal, Tribuna do norte, A República. Destacam-se da sua obra Cantigas de amigo (1980, poesia), Inventário (1982, poesia) e Da boca do lixo à construção servil: o livro do povo (livro póstumo de poesia publicado em 1992).

6. Madalena Antunes Pereira (25 de maio de 1880, Ceará Mirim - 11 de junho de 1959, Natal). Sua obra carrega uma qualidade literária que sempre a coloca como um marco na produção em prosa por mulheres no estado. Filha de uma tradicional família de usineiros, Madalena fez estudos em escola para moças no Recife. Colaborou com a imprensa ao publicar em 1912 um conjunto de missivas fictícias dirigidas a amigas supostas no jornal de sua cidade. Sua obra mais lembrada é também seu único livro Oiteiro: memórias de uma sinhá moça publicado em 1959.

Iracema Macedo.

7. Marize Castro (28 de dezembro de 1962, Natal). Autora de diversos títulos de poesia e ensaios. Esteve à frente de publicações importantes para o cenário das Letras no Rio Grande do Norte como o jornal O galo, a revista Odisseia e a coletânea de entrevistas semanais com escritores potiguares para o Caderno Viver, do jornal Tribuna do Norte. Sua poesia está em antologias importantes como a Antologia da nova poesia brasileira organizada por Olga Savary e Poesia circular, de Eduardo Gosson e Aluízio Matias. Em parceria com Ângela Almeida e Vânia Marinho organizou uma fotobiografia sobre Zila Mamede (Zila Mamede - se esse humano dos meus gestos); ainda sobre a poeta, Marize redigiu O silencioso exercício de semear bibliotecas, fruto de sua pesquisa de mestrado sobre o trabalho de bibliotecária (foi Zila quem fundou a primeira biblioteca no estado e cuidou da organização de várias outras). Destacam-se os livros Marrons crepons marfins (1984, poesia), Rito (1993, poesia) e Poço. Festim. Mosaico (1996, poesia).

8. Nivaldete Ferreira (2 de dezembro de 1950, Nova Palmeira/Paraíba). Nascida na mesma terra de Zila Mamede, a escritora veio para Natal muito cedo. Cursou Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem obras que circulam entre a poesia, a prosa e o teatro. Desatacam-se Sertania (1979, poesia), O clubinho da água (2005, literatura infantil), Entre o carrossel e a lei (2007, teatro) e Memórias de Bárbara Cabarrús (2008, romance).

9. Diva Cunha (10 de dezembro de 1947, Natal) Poeta, ensaísta e uma das mais importantes pesquisadores sobre o tema da literatura feminina no país. Foi professora na Universidade Federal do Rio Grande do Nortes e tem vasta obra que transita entre a crítica literária à poesia (gênero que melhor praticou sendo uma das herdeiras do verso breve e da temática sobre a mulher). Destaca-se de sua obra Dom Sebastião: a metáfora de uma espera (1979, ensaio), Canto de página (1986, poesia), A palavra estampada (1993, poesia), Literatura feminina no Rio Grande do Norte: de Nísia Floresta a Zila Mamede (2001, em parceria com Constância Lima Duarte, antologia de poesia).

10. Iracema Macedo (27 de junho de 1970) Com dedicação quase exclusiva à Filosofia (licenciada, mestra e doutora em Filosofia), sua obra literária se destaca na poesia. Sua primeira obra-solo só será publicada em 2000, mas muito antes este em coletâneas em parceria com André Vesne e Eli Celso (Vale feliz, 1991; Gravuras, 1995 e Ceia das cinzas, 1998). Destaque para Lance de dardos (2000, poesia) e Invenção de Eurídice (2004, poesia).



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