Quatro tópicos sobre a relação entre Stefan Zweig e Joseph Roth

Stefan Zweig e Joseph Roth


1. Súditos do império perdido. Nascido no seio de uma família judaica, Zweig foi um apaixonado exemplar pela grande cultura e pela liberdade. A amizade com Joseph Roth começou em 1930 em Brody (Galícia); este era um jornalista que forjava, na ocasião, uma carreira de escritor. Mais que as letras, os que os uniu foi a admiração mútua e a nostalgia do Império Austro-húngaro, símbolo para ambos da Europa multicultural e unida, a pátria de pensamento e sentimento. A Primeira Guerra Mundial os fizeram despertar daquele sonho de paz e equilíbrio; o terror nazista contra os judeus os levaram para o exílio.

2. Autores geniais. Zweig e Roth foram criadores extraordinários. Do primeiro são célebres suas coleções psicológicas e as novelas – Novela de xadrez ou Coração impaciente, por exemplo. Do segundo destacam-se Jó – romance de um homem simples (Companhia das Letras) Marcha de Radetzky (recém editado no Brasil pela Editora Mundaréu). Zweig foi um mestre da biografia: Maria Antonieta ou Fouché são apaixonantes; e de retratos paradigmáticos como os de Nietzsche, Hölderlin e Casanova. Roth foi um jornalista genial, com artigos sobre temas sociais diversos. O relato de sua viagem pela Rússia soviética descobriu a tristeza do stalinismo; o comovedor ensaio “Judeus errantes” foi o pé de sua amizade com Zweig.

3.  A mútua admiração. A amizade dos dois se apoia na simpatia e a admiração, o trato e o respeito se alimentam de pequenos e grandes favores. Nos bons tempos, Roth e Zweig trocaram ideias: há muito de Zweig em alguns romances de Roth e o inverso. Nos maus tempos, Zweig apoiou quanto pode Roth, sempre afogado por dívidas e pelo alcoolismo, condição durante largo tempo às expensas do escritor. Mas, não terá alcançado grande feitio: Roth morreu de um coma alcoólico pouco depois de escrever A lenda do santo beberrão (editado no Brasil pela Estação Liberdade).

4. O suspeito e a pessoa de confiança. Roth, mas desconfiado e pessimista que Zweig, vilipendiado pela penúria laboral e a escassez financeira, previu o que restava aos judeus com os nazistas – “esse bando de merdinhas e assassinos”. Zweig, refinado e culto, foi mais inocente: acreditava no triunfo do humanismo. Identificava-se com Erasmo de Rotterdam, o pacífico; não acreditou que o populismo hitleriano triunfaria na Alemanha.

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Leia sobre Stefan Zweig aqui.


* A partir de "Stefan Zweig y Joseph Roth, amistad, genio y exilio", de Luiz Fernando Moreno Claros em El País

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