Boletim Letras 360º #637

 
James Baldwin. Foto: Sedat Pakay


LANÇAMENTOS
 
Lançado originalmente em 1953, o livro de estreia de James Baldwin é publicado no Brasil.
 
Harlem, Nova York, década de 1930. John Grimes acorda no dia do seu aniversário de catorze anos e ninguém ao redor parece se lembrar da data. Apesar do entorno apático e por vezes violento, o protagonista não abandona seu otimismo. É então que ele percebe que a fé pode dar um novo rumo para a sua vida e decide mergulhar em uma profunda jornada espiritual. Proclamem nas montanhas é um romance de formação com caráter semiautobiográfico. A devoção, na trama, ganha uma dimensão múltipla: se por um lado reflete o desejo de autoconhecimento e de redenção individual, por outro funciona como um mecanismo capaz de organizar a sociedade norte-americana como um todo — seus hábitos, anseios e temores —, sobretudo quando se trata da experiência negra. A culpa e a noção de pecado, assim, se revelam chaves imprescindíveis para compreender os delicados vínculos que unem e distanciam os personagens. Para a escritora Roxane Gay, que assina o posfácio da presente edição, o livro de estreia de James Baldwin é “um libelo contra a hipocrisia, o recurso de dois pesos e duas medidas, os falsos profetas e aqueles que usam a fé como arma, e não como escudo”.  Tradução de Paulo Henriques Britto e edição da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Depois do sucesso com Misericórdia, chega aos leitores brasileiros um novo romance de Lídia Jorge.
 
O cenário deste romance extraordinário é uma antiga fazenda em Portugal — uma casa “suficientemente distante do Atlântico para não se ouvir a rebentação durante a tempestade, mas não tão longe que o salitre da poeira das ondas não lhe atingisse a fachada”. Com a maior parte dos membros de sua família tendo deixado as dificuldades dessa paisagem em busca de trabalho em lugares distantes, uma jovem luta para reconstruir seu passado a partir das muitas e diferentes histórias que lhe são contadas. Marcada pela ausência do pai, que partiu quando ela ainda era criança, ela mergulha em uma jornada de resgate da memória e dos laços familiares, guiada por lembranças nebulosas, silêncios e saudade. Os únicos sinais deixados por ele chegam em forma de cartas enviadas dos lugares mais distantes do mundo — sempre acompanhadas por desenhos minuciosos de aves exóticas: o cuco da Índia, o íbis de Moçambique, o ganso da Terra Nova, o beija-flor das Índias Ocidentais. Lindamente escrito e imaginado, este romance evoca a atmosfera de uma comunidade rural em um mundo em transformação e explora temas atemporais como família, independência e a experiência muitas vezes dolorosa da emigração. Diante da manta do soldado sai pelo selo Contemporânea da editora Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
 
A obra mais recente e reveladora de Cristina Peri Rossi, a escritora vencedora do prêmio Miguel de Cervantes.
 
A insubmissa é o romance de formação autobiográfico de Cristina Peri Rossi, premiada autora uruguaia e uma das mais proeminentes escritoras de língua espanhola. Nele, acompanhamos sua infância e juventude, contadas a partir da estranheza e da perplexidade diante de um mundo sempre em conflito com os seus desejos: usar calças, não comer animais, ter uma biblioteca, escrever, amar outras meninas. Através de experiências familiares, fabulações e do tempo de um dolorido amadurecimento, se desenha uma personalidade contestadora e determinada a viver os seus desejos mais profundos a despeito das interdições impostas ao comportamento e ao corpo de uma mulher. Tradução e posfácio Anita Rivera Guerra; publicação da Bazar do Tempo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Com um humor irreverente e inesperadamente tocante, eis a história de uma mulher que descobre quem realmente é antes que seja tarde demais. Por Vita Sackville-West, a amiga íntima de Virginia Woolf.
 
Após a morte do velho estadista lorde Slane — antigo primeiro-ministro da Grã-Bretanha e vice-rei da Índia —, todos presumem que a viúva de oitenta e oito anos lentamente se apagará em sua dor, mantendo-se tão decorosa, adequada e dedicada quanto sempre foi na vida conjugal. No entanto, a aparentemente serena lady Slane tem outros planos. Primeiro, ela desafia a intromissão condescendente dos filhos e foge para uma casa alugada em Hampstead. Lá, para total espanto de sua família, ela desfruta de uma nova liberdade, relembra suas ambições juvenis e se cerca de companhias pouco convencionais — que lhe revelam o quanto se sacrificou sob a pressão das expectativas dos outros. Com tradução de Evelyn Diniz, Toda paixão exaurida é publicado pela editora Morro Branco. Você pode comprar o livro aqui.
 
Antologia apresenta em língua portuguesa a obra de Eugeniusz Tkaczyszyn-Dycki.
 
Algo que nos sobreviva recolhe poemas desde o livro de estreia Tkaczyszyn-Dycki, em 1990, até suas publicações mais recentes; é uma pequena mas representativa amostra de uma das mais expressivas e originais vozes da poesia polonesa contemporânea. A história da família do poeta e os destinos dos seus conterrâneos da região fronteiriça polono-ucraniana, marcados pela guerra, invasões e deportações, as próprias experiências e recordações epifânicas e traumáticas, a enfermidade psiquiátrica associada à figura da mãe e do filho poeta, assim como o próprio fazer poético, ocupam lugar de destaque nesta poesia lírica e dialógica por excelência, como objetos de representação mimética e exploração metafísica ao mesmo tempo, numa linguagem ascética e extravagante, contemporânea e barroca, mas também generosa, acolhedora dos nomes das coisas e pessoas, os esquecidos ou marginalizados em particular, dos diversos registros e vozes da língua polonesa e sua herança poética. Organizado e traduzido por Henryk Siewierski, o livro é publicado pela editora 7Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Outro inédito no nosso idioma, romance histórico da escritora iraniana Nahal Tajadod.
 
Por meio de uma narrativa envolvente, O faminto reconstrói o encontro transformador entre Maulana Jalal Al-Din Muhammad Balkhi — mais conhecido como o poeta Rumi — e Shams de Tabriz, o enigmático dervixe errante que o despertou para a poesia e a transcendência mística. Com elegância e sensibilidade, Tajadod recria esse momento entre os dois grandes personagens, que mudará a história de Rumi e Shams, bem como da poesia mundial. A autora entrelaça fatos históricos e uma narrativa lírica em primeira pessoa, na voz do próprio Shams. Este livro não é apenas uma biografia romanceada, reconstruindo uma história de busca, amor místico e separação a partir dos dizeres do próprio Shams (referenciados à margem do texto); é também um convite ao leitor para uma experiência imersiva, na qual o sagrado e o profano se confundem em um percurso de transformação. Entre memórias, diálogos e reflexões, a narrativa pulsa com a beleza da poesia e a intensidade de uma jornada interior. A edição conta com prefácio do escritor e diretor de cinema Jean-Claude Carrière e ilustrações do artista visual iraniano Ali Boozari, cujos desenhos partem da caligrafia persa para representar os personagens que aparecem ao longo do livro e traduzir em imagens os significados mais profundos do texto. Publicação da editora Ercolano; tradução de Régis Mikail. Você pode comprar o livro aqui.
 
Os dezoito textos que compõem este livro capturam os detalhes mais íntimos de seus personagens, explorando os não-ditos e os pequenos gestos.
 
Lidos em conjunto, eles compõem uma dimensão grandiosa do cotidiano, repleto de momentos inesperados e de pura poesia. Depois de Tramas de meninos, João Anzanello Carrascoza desenlaça novos fios, desta vez dando protagonismo ao universo feminino nas mais diferentes vivências e idades: filhas que vão ao encontro dos pais; mães que esperam seus filhos; a passagem da infância para a vida adulta e amores que surgem na época da velhice. Assim, formam-se histórias que, embora independentes, dialogam entre si num jogo a ser descoberto pelo leitor. Em Tranças de meninas, as relações familiares, os vínculos entre amigos e os momentos de intimidade entre casais são desenhados com sutileza. Alguns resistirão ao tempo e ao desgaste, enquanto outros, mais delicados, poderão desmoronar diante de um acontecimento, um gesto ou uma palavra. Conduzindo os leitores por caminhos de tensão e fragilidade, aqui o silêncio é tão revelador quanto o que está dito. Publicação da Alfaguara. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição da tradução de Mário Da Gama Kury para uma das principais tragédias de Sófocles.
 
Antígona trata a luta obstinada da heroína por sepultar seu irmão Polinices, desrespeitando a ordem de Creonte, rei do estado de Tebas, que o considera um traidor e, por isso, determina que ele não merece ser enterrado. Desobedecendo as leis e rasurando o lugar dominante dos homens no espaço público, Antígona representa uma poderosa afirmação da voz feminina na literatura ocidental, além de ser uma das personagens mais emblemáticas do teatro. A nova edição sai pela Coleção Clássicos Zahar com texto de apresentação de Luiza Romão. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Uma nova tradução das Geórgicas. A editora Mnēma, que tem se destacado no Brasil com a publicação de novas edições de obras da literatura antiga, publica um dos livros principais de Virgílio com tradução, apresentação e notas de Matheus Trevizam.
 
A gênese de um dos principais livros de Mario Vargas Llosa. O processo de criação de A cidade e os cachorros, publicado em 1963, foi examinado pelo historiador Carlos Aguirres. A cidade e os cachorros: biografia de um romance sairá pela Ateliê Editorial no segundo semestre.
 
Aos amantes da história da arte de gravar. A Com-Arte e a Edusp publicam com tradução de Julia Vidile o Tratado da gravura, de Abraham Bosse. Aparecido pela primeira vez em Paris, em 1643, este livro organiza e sistematiza possibilidades da água-forte e discute técnicas de gravação em metal.

DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. O Novellino, Anônimo (Trads. Talita Janine Juliani e Tiago Augusto Nápoli, Mnēma, 288p.) Ao lado de obras como o Decameron este conjunto de narrativas é considerado a base da literatura italiana. A obra possivelmente composta entre os séculos XIII e XIV que ganhou a primeira tradução em língua portuguesa tem texto do italiano Alberto Conte. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Números naturais, de Marcella Faria (Editora 34, 192p.) Um conjunto de narrativas que se estrutura a partir das feições da matemática para dar conta daquelas circunstâncias existenciais marcadas pela ilusão do acabamento. Você pode comprar o livro aqui
 
3. Fabián e o caos, de Pedro Juan Gutiérrez (Trads. Paulina Wacht e Ari Roitman, Alfaguara, 200p.) Neste romance, um exame crítico da ordem social gerida pelo poder a partir da vida dos que estão à sua margem: um gay unicamente interessado pela música é marcado pela presença de outro jovem totalmente o seu oposto. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Em junho de 2022, o jornal El país visitou a biblioteca de Mario Vargas Llosa em Madri. Na entrevista e no passeio pelos livros, o escritor recorda suas afinidades de leitor e suas paixões perenes — como Os miseráveis, de Victor Hugo, Madame Bovary, de Flaubert e Tirant Lo Blanc, de Joanot Martorell. Disponível aqui
 
BAÚ DE LETRAS
 
E por falar em inéditos de James Baldwin aqui no Brasil, vale voltar a esta resenha de Going to Meet the Man: and Other Stories escrita por Renildo Rene; trata-se de um conjunto de contos até agora sem previsão de chegar aos leitores de língua portuguesa. 

DUAS PALAVRINHAS
 
A ficção opera através dos sentidos. Nenhum leitor que não vivencie de fato, que não seja levado a sentir a história, vai acreditar em qualquer coisa que o escritor de ficção simplesmente lhe diga.
 
— Flannery O’Connor
 
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.

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