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Ariano Suassuna, os encontros que (não) tive

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Por Pedro Fernandes 1.  Ainda por esses dias me surpreendi com uma amiga minha no mestrado que afirmou não saber quem era Ariano Suassuna. Mas, nem quando dos comerciais da TV Globo acerca de O   auto da compadecida , o filme, você ouviu falar, Da obra de Ariano Suassuna? Indaguei surpreso. Não. Respondeu ela. Fiz a pergunta porque todo mundo dada a popularidade da emissora e, claro, a quantidade sem fim de vezes que o filme foi reprisado; também eu, quando adolescente, que não tinha o acesso necessário aos livros e à literatura, tive contato pela primeira vez com o nome do escritor pernambucano através desse filme. 2. Em compensação pode haver autores e obras da literatura inglesa e estadunidense, que é área de habilitação de sua formação em Letras que eu nunca tenha ouvido falar. Muito óbvio, mas uma brasileira, estudante de Letras nunca saber sequer do nome Ariano Suassuna, é, sim, muito estranho. 3. Comecei a conhecer a obra de Ariano através da adaptação da pe...

Morte em Veneza, de Luchino Visconti

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Viagem de um artista em crise discute a existência suprema nessa obra musicada pelas sinfonias de Gustav Mahler O italiano Luchino Visconti consegue o impossível: verter para a tela uma obra do alemão Thomas Mann, densa e descritiva, cuja força nasce no volume do texto. Assim, o que é tratado em palavras na obra homônima escrita em 1912, o cineasta, sabiamente, transforma em imagens e trilha sonora. Assim, se o protagonista, Gustav von Aschenbach, era um literato no original, na versão cinematográfica ele é músico. É a bana sonora, aliás, a grande força deste clássico de Visconti, que usa as 3 ª e 5ª Sinfonias de Gustav Mahler para conduzir o martírio de Aschenbach (feito soberbamente por Dirk Bogarde). Ele é um teórico rigoroso que defende a existência de uma beleza suprema, e o papel do artista como seu grande recriador. Em Veneza, ele se depara com um garoto andrógino, Tadzio (Björn Andresen), que seria a encarnação suprema da perfeição. Uma admiração que o filme enfati...

Esperado ouro, de Marize Castro

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Por Pedro Fernandes Escrever me faz suportar todo incêndio - toda quimera (Marize Castro) Tenho revisitado Marize Castro. Desde alguns dos seus primeiros livros, como  Marrons crepons marfins  (1984 e título com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Fundação José Augusto) e Poço. Festim. Mosaico  (de 1996, Prêmio Othoniel Menezes) ao seu último lançamento, Lábios-espelhos  (2009). Quero, entretanto, tecer uma breve nota sobre  Esperado ouro (2005). Como uma nota, é breve; é mais para deixar escrito aqui alguns poemas que grifei na sua obra para uma leitura mais acurada do leitor. Pareceu-me que Esperado ouro  é um metalivro, porque é preenchido de uma poesia que é fala de si, ou uma escrita dobrada sobre si própria. Refletida pele-a-pele a palavra e suas dobras. Pele, dobras e carne. A mesma carne feminina, pulsante de desejo, instintivamente fêmea, ativa pelo cio divino: "Hoje descobri que quando estou dormindo/ Deus segu...

Raridades sobre Lolita, de Vladimir Nabokov

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Vladimir Nabokov realizado na paixão pelas borboletas e na escrita de um clássico. “Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. ” A repulsa a Lolita Este é já eleito um dos melhores começos para um romance na Literatura Universal. E, claro, a obra também se tornou uma das mais quistas (também odiadas) e mais conhecidas quando se fala o nome do escritor russo de nacionalidade estadunidense Vladimir Nabokov. Mas, isso não começou assim. O início da fama de  Lolita foi o da rejeição. Pelo menos cinco vezes. Um dos pareceres, de 1953, é taxativo: “É esmagadoramente nauseante, mesmo para um freudiano iluminado. Para o público, será uma obra revoltante. Não irá vender e causará um dano incomensurável a uma cada vez mais crescente reputação do escritor [...] Eu recomendo que ele seja enterrado sob ...

Ezra Pound: fascismo e traição

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Por Homero Aridjis Ezra Pound foi um homem com um grande talento literário. Durante as duas primeiras décadas do século XX ajudou a escritores da envergadura de James Joyce, William Carlos Williams, Robert Frost, Ernest Hemingway, Katherine Mansfield, entre outros a publicar quando necessitavam de um impulso e a todos eles deu conselhos para revisar suas obras. Mas Pound, o poeta de Idaho, também ficou conhecidos por suas atividades antissemitas na Itália fascista.  No México, ao longo de minha vida literária, escutei certos intelectuais exaltar Ezra Pound, não por seu melhor livro de poemas, Personae , nem por suas boas traduções, mas pelo pior lado: o do fascismo. Estas exaltações, como outras manifestações de reverência ao nazismo alemão, as considerei e desculpei, como mostras de um incurável complexo de inferioridade, racial e cultura. Ironicamente, às vezes essas exaltações estiveram precedidas de gente que pela cor da pele ou por sua condição social provavelme...

10 filmes inspirados em clássicos da literatura brasileira

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Não é objetivo por em ordem pelo valor ou pela qualidade das adaptações; esta é uma lista livre. Apenas agrupam-se alguns filmes brasileiros que tiveram seu enredo inspirado em romances também brasileiros. Há muitos que seguem essa construção, alguns até mais recentes, mas queríamos tocar na ideia de clássico . Depois, é muito possível que façamos mais outra listinha; por enquanto, estes merecem muito a atenção de leitores e de amantes do cinema nacional. Cena de Vidas secas. Vidas secas , de Nelson Pereira dos Santos (1963): A família de retirantes, Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo e a cachorra Baleia, que, pressionados pela seca, atravessam o sertão em busca de meios de sobrevivência, ganhou as telas do cinema quando ainda era charme a tela em preto e branco. A trama baseada na obra homônima de Graciliano Ramos, não só reaviva a narrativa enxuta do escritor alagoano como consegue avivar o retrato das personagens tão bem engendradas e t...