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Chico Buarque

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Novamente ponho meu Saramago na estante para dá lugar a outro escritor; já muitas vezes o fiz isso desde que me decidi por estudar o escritor português, em meados de 2006. Se não me perco nas contas e na sequência foi para falar de Carlos Drummond, depois de João Cabral de Melo Neto, Auta de Souza, e mais recente, Jorge Amado; enfim, tenho estado a passear por outros nomes tão importantes quanto o nosso Nobel. Agora, é para falar de Chico Buarque, ao preparar uma fala para um congresso que terá lugar em finais de abril desse ano em Recife. E por está entretido em Chico por esses dias quero deixar alguns dados sobre esse escritor, já eleito pela crítica estrangeira, o nosso Kafka. Vale salientar que Chico - como é sabido de todo o público nacional - começa pela música e desde então tem sido senhor de uma vasta obra - seja pelas peças teatrais, seja pelos romances, estes iniciados sua safra em princípios da década de 1990, quando da publicação de Estorvo, considerado oficialmente...

Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder

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Eleita a melhor de todos os tempos, comédia reúne dupla de homens travestidos e Marilyn Monroe em seu auge Apesar de ter se tornado célebre pelo humor e ironia de sua obra, a carreira de Billy Wilder pode ser dividida entre títulos sérios - Pacto de Sangue  (1944), Farrapo Humano  (1945), Crepúsculo dos Deuses  (1950) - e comédias escrachadas - O Pecado Mora ao Lado  (1955), Se meu Apartamento Falasse  (1960), Beija-me, Idiota  (1964). O exemplo supremo do segundo grupo é Quanto Mais Quente Melhor , considerado pelo próprio cineasta sua maior obra-prima. É também, ao lado de O Pecado Mora ao Lado , o trabalho pelo qual Marilyn Monroe costuma ser mais lembrada, embora, durante as filmagens, ela estivesse vivendo sérios problemas pessoais que a levariam à morte poucos anos depois. Outro empecilho era sua enorme dificuldade em decorar diálogos. Foram necessários alguns malabarismos, como colocar frases em gavetas, para ela se lembrasse das falas. Duran...

Pelo Dia Nacional da Poesia, um grande poeta (Parte 2)

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Desde 1h da manhã do dia 14 março de 2010, iniciamos no Orkut uma brincadeira leve e doce. É Dia Nacional da Poesia, e pela data seguimos o que falamos em nota aqui , seguimos enviando poemas de Paulo Leminski; ele o poeta que nos guia nesse brincar. A cada instante temos espalhado como torpedos virtuais com os versos breves do grande poeta. 1h33: "noite alta lua baixa/ pergunte ao sapo/ o que ele coaxa" 12h55: "pelos caminhos que ando/ uma dia vai ser/ só não sei quando" 14h35: "isso de querer/ ser exatamente/ aquilo que a/ gente é ainda/ vai nos levar/ além" 15h33: "não fosse isso/e era menos/não fosse tanto/e era quase" 16h18: "- que tudo se foda, /disse ela,/ e se fodeu toda" 16h35: "vazio agudo/ ando meio/ cheio de tudo" 16h37: "você está tão longe/ que às vezes penso/que nem existo//nem fale em amor/que amor é isto" ** E a brincadeira continuou até o fim do dia: 18h36...

Pelo Dia Nacional da Poesia, um grande poeta (Parte 1)

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noite alta lua baixa pergunte ao sapo o que ele coaxa Estes versos podem muito bem serem associados a outros versos imortais "Um galo sozinho não tece a manhã/ ele precisará sempre de outros galos", sendo que estes, do genial João Cabral de Melo Neto poderiam e vem antes. Mas, fundido o poema de João com este da epígrafe teríamos uma tensão e/ou pulsão poéticas de força tamanha como se se encontrassem duas grandes estrelas para formação de um sistema outro de sentidos. A quem ainda não conhece os versos que abrem esta post, apresentamos: trata-se do outro genial poeta, o curitibano Paulo Leminski. Se em João Cabral, os galos estão para a "trupe" dos próprios poetas e um canto de que uma manhã não se tece em apenas um grito, mas em vários, em Leminski os mesmos poetas - na "trupe" dos sapos - estão fundidos num coaxar na noite baixa e só por debaixo da cortina da noite. Coaxar - vejam como um poema puxa outro ou um grito puxa outro - que logo n...

O conto da ilha desconhecida, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes Esta é capa da edição brasileira de O conto da ilha desconhecida  (Companhia das Letras) Semelhante a uma parábola, O conto da ilha desconhecida apresenta-nos apenas um fato que se desdobra em dois momentos na narrativa: primeiro acontece de um homem que bate à porta do rei para pedir um barco, no intuito de encontrar uma ilha desconhecida; o segundo marca-se pela concessão do pedido, a busca e o sonho ou o sonho e a busca, marcados na tentativa de encontrar a ilha desconhecida. O pedido tão simples, assim como são simples os fatos que dele decorrem é o que marca o primeiro momento do texto, é o que desencadeia toda uma história sobre descobrimentos, conforme Gomide (2001), “sobre a possibilidade da criação e sobre a possibilidade do amor”. (p.363) Além destes dois descobrimentos apontados, acrescento mais um; este é a mola propulsora do texto: o descobrimento do ser enquanto ser. O pedido de um barco pode nos parecer simples à primeira vist...

Memórias do subsolo, de Fiódor Dostoiévski

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por Pedro Fernandes "Tanto o autor como o texto destas memórias são, naturalmente, imaginários." Famosa negativa da literatura feita pelo autor de Memórias do subsolo logo numa nota de entrada a primeira parte do texto que mais na frente se é corroborada pela própria personagem: "Está claro que eu mesmo inventei agora todas estas vossas palavras." Negativas que instauraram ou pelo menos reintroduziram novas reflexões entre as complexas fronteiras entre ficção e realidade; onde que estaria o fim de um e início do outro. Memórias do subsolo, de 1864, antes, portanto de obras como Crime e castigo, é não apenas por constatações desse tipo mais uma obra clássica da literatura. Não também pelo fato de seu autor ser colocado entre os clássicos, mas é que nela o rico estilo de narrar dostoiévskiano - suas indas e vindas, seus meneios com a palavra e com o pensamento - e além disso, o caudal de reflexões que este texto instaura naquele mais inocente leitor são e...