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Raul Pompeia

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A vida de Raul Pompeia foi breve. E agitada. Nasceu a 12 de abril de 1863 em Jacuecanga, interior de Angra dos Reis, Rio de Janeiro. O pai, Antônio d’Ávila Pompeia, formado pela Faculdade de Direito de São Paulo e herdeiro de uma tradicional família de cafeicultores da região de Rezende, havia se instalado aí para assumir o cargo de juiz municipal. A estadia durará de entre 1859 e 1873, quando se muda em definitivo para o Rio de Janeiro. Neste ano, o filho é matriculado como aluno interno na 3ª série primária do conceituado Colégio Abílio, no bairro das Laranjeiras; ficou aí pelos quatro anos seguintes. Os leitores que costumam estabelecer conexões entre a biografia do autor e sua obra, costumam creditar que esse período fermentou a realização do romance pelo qual Raul Pompeia ficaria reconhecido ― O Ateneu . Publicado em 1888, primeiro em folhetins no jornal Gazeta de notícias e depois em livro, este livro passou para o cânone literário brasileiro por razões de variada...

A viagem do elefante, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes O caráter fabulador das viagens, reais ou imaginárias, já foi posto à prova pelo escritor português. Cito para efeito as rotas alteradas de Blimunda a vagar nove anos por territórios da Ibéria à busca de seu amado Baltasar em Memorial do convento , as rotas sem rumos de uma barcaça gigante de pedra a vazar o Atlântico e de seus habitantes em A jangada de pedra , as rotas de uma viagem marítima em torno de si em O conto da ilha desconhecida , as rotas condenadas e coordenadas por deus a Caim, no seu recente romance homônimo, ou ainda, a viagem real empreitada por um guia turístico por Portugal em Viagem a Portugal . Como todo grande escritor, em Saramago a viagem é tema recorrente em sua escrita, até o aflorar na doce frase que epigrafa esse seu mais recente livro, "Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam". A viagem do elefante  vem mostrar que tudo na vida, inclusive ela própria é peremptória, é território movediço, pla...

Literatura e uso

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Por Pedro Fernandes Por causa destas faltas e outras semelhantes é que pomos a inventar histórias de tesouros, ou já as encontramos inventadas, sinal de muita necessidade antiga, não é só de hoje. E há avisos que devem ser entendidos com muita atenção, ao mais pequeno engano desfaz-se o ouro em pez e a prata em fumo ou fica um homem ceguinho, têm-se visto casos. (José Saramago, Levantado do chão ). Do interior da materialidade de outras reflexões que costurei acerca da Literatura eis que se me apresenta mais esta: Literatura e uso. Chamo-a aqui e acho por bem colocá-la em pauta. É sobre tal relação de que este texto trata. Há vários sentidos com que empregamos a palavra “uso” e, consequentemente, vários sentidos para a relação aqui proposta. Mas o que eu quero é justamente aquele uso corriqueiro que leva em consideração o sentido de “manipulação” do texto literário; sobretudo do texto literário enquanto matéria de estudo no campo dos estudos da linguagem. Acerca de ...

Chico Buarque

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Novamente ponho meu Saramago na estante para dá lugar a outro escritor; já muitas vezes o fiz isso desde que me decidi por estudar o escritor português, em meados de 2006. Se não me perco nas contas e na sequência foi para falar de Carlos Drummond, depois de João Cabral de Melo Neto, Auta de Souza, e mais recente, Jorge Amado; enfim, tenho estado a passear por outros nomes tão importantes quanto o nosso Nobel. Agora, é para falar de Chico Buarque, ao preparar uma fala para um congresso que terá lugar em finais de abril desse ano em Recife. E por está entretido em Chico por esses dias quero deixar alguns dados sobre esse escritor, já eleito pela crítica estrangeira, o nosso Kafka. Vale salientar que Chico - como é sabido de todo o público nacional - começa pela música e desde então tem sido senhor de uma vasta obra - seja pelas peças teatrais, seja pelos romances, estes iniciados sua safra em princípios da década de 1990, quando da publicação de Estorvo, considerado oficialmente...

Quanto Mais Quente Melhor, de Billy Wilder

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Eleita a melhor de todos os tempos, comédia reúne dupla de homens travestidos e Marilyn Monroe em seu auge Apesar de ter se tornado célebre pelo humor e ironia de sua obra, a carreira de Billy Wilder pode ser dividida entre títulos sérios - Pacto de Sangue  (1944), Farrapo Humano  (1945), Crepúsculo dos Deuses  (1950) - e comédias escrachadas - O Pecado Mora ao Lado  (1955), Se meu Apartamento Falasse  (1960), Beija-me, Idiota  (1964). O exemplo supremo do segundo grupo é Quanto Mais Quente Melhor , considerado pelo próprio cineasta sua maior obra-prima. É também, ao lado de O Pecado Mora ao Lado , o trabalho pelo qual Marilyn Monroe costuma ser mais lembrada, embora, durante as filmagens, ela estivesse vivendo sérios problemas pessoais que a levariam à morte poucos anos depois. Outro empecilho era sua enorme dificuldade em decorar diálogos. Foram necessários alguns malabarismos, como colocar frases em gavetas, para ela se lembrasse das falas. Duran...

Pelo Dia Nacional da Poesia, um grande poeta (Parte 2)

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Desde 1h da manhã do dia 14 março de 2010, iniciamos no Orkut uma brincadeira leve e doce. É Dia Nacional da Poesia, e pela data seguimos o que falamos em nota aqui , seguimos enviando poemas de Paulo Leminski; ele o poeta que nos guia nesse brincar. A cada instante temos espalhado como torpedos virtuais com os versos breves do grande poeta. 1h33: "noite alta lua baixa/ pergunte ao sapo/ o que ele coaxa" 12h55: "pelos caminhos que ando/ uma dia vai ser/ só não sei quando" 14h35: "isso de querer/ ser exatamente/ aquilo que a/ gente é ainda/ vai nos levar/ além" 15h33: "não fosse isso/e era menos/não fosse tanto/e era quase" 16h18: "- que tudo se foda, /disse ela,/ e se fodeu toda" 16h35: "vazio agudo/ ando meio/ cheio de tudo" 16h37: "você está tão longe/ que às vezes penso/que nem existo//nem fale em amor/que amor é isto" ** E a brincadeira continuou até o fim do dia: 18h36...