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Milan Kundera

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O nome de Milan Kundera não mais estranho ao leitor brasileiro. Sua obra tem livre circulação no país e a permanência da adaptação cinematográfica de A insustentável leveza do ser pelo cineasta Philip Kaufman no centro das obras do chamado círculo Cult, são elementos que justificam essa afirmativa. Além disso, o nome do escritor está em todas as listas de aposta para o Prêmio Nobel de Literatura, inscrevendo-o no rol dos nobelizáveis quais foram da nossa cena João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado ou Guimarães Rosa. O que isso significa? Significa que, venha o prêmio ou não, Kundera é já um dos expoentes da literatura universal. Afinal, não foi o fato dos brasileiros citados ou qualquer outro escritor que mereça a honraria algo que os destitua do lugar alcançado por sua obra. Milan Kundera é o típico escritor nascido e criado numa cultura erudita e faz dela uso na composição de uma simples na forma e profunda no conteúdo evocado. O pai Ludvik Kun...

Monteiro Lobato

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Por Pedro Fernandes Monteiro Lobato não é um autor apenas de publicações infanto-juvenis como, infelizmente o mercado editorial o reduziu. Como uma das figuras que mais apostaram no livro como aparelho de renovação cultural e intelectual frente à ignorância que grassa o Brasil, é bem verdade que ele explorou (e bem!) a base necessária para a formação de uma geração de leitores. E isso tem muita importância, certamente. Só me pergunto é se, na atual conjuntura, com tantos meios concorrentes com os livros de papel, como se portaria o escritor? É uma pergunta que vem de outra curiosidade futurista: como se comportaria Fernando Pessoa, um dos criadores da revista Orpheu , marca singular no modernismo em Portugal, nos dias de hoje em que se pode fabricar perfis de sair com eles em qualquer rede social. Podemos supor que Lobato até se aproveitasse do meio virtual considerando-se como se apropriou dos meios disponíveis em seu tempo. Ou que travasse uma luta contra, da mesma ma...

Dia Mundial do Livro

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Por Pedro Fernandes Nota:  as ideias aqui apresentadas são notas de um texto em elaboração, e se os jornais colaborarem, poderá aparecer sob forma acabada de texto. 1.  Pela data quero retomar aqui algumas discussões que venho travando noutros espaços acerca de uma questão um tanto quanto delicada para o estágio atual do livro: uma "massificação" (o termo é esse porque não achei outro que o valha) da obra literária. E isso começou numa comunidade no Orkut dedicada ao escritor português José Saramago em que um orkuteiro entrou para postar um link para baixar livros online e eu me manifestei contrário à ideia: "Baixar um livro que não encontramos de modo algum por aqui pode ser, mas as obras do Saramago, todas, acho um desrespeito para com o escritor... Se ainda fosse um "crepúsculo", um "lua nova", "lua cheia", "lua minguante", "lua quarto-crescente", tudo bem, é comercial, não vale nada mesmo..." Ironizei. Ao ...

Um Cão Andaluz, de Luis Buñuel

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A carreira do espanhol Luis Buñuel passou por várias fases distintas - a mexicana, do realismo brutal de Os Esquecidos  (1950), a espanhola, de Viridiana  (1961), e a francesa, de impiedosas sátiras sobre a burguesia. Nenhuma delas, entretanto, sintetiza tão bem sua obra quanto a surrealista, que compreende os curtas Um Cão Andaluz  (1929) e A Era do Ouro  (1930). É neles que aparecem as características que levariam o espanhol a ser considerado por Alfred Hitchcock o melhor diretor de todos os tempos: o humor provocador, algo grotesco, a ironia destilada contra a hipocrisia da igreja católica. Um Cão Andaluz , escrito em parceria com o artista plástico Salvador Dalí e inspirado em sonhos dos dois, é o exemplo máximo da adaptação para as telas do movimento criado por André Breton. Não existe uma trama definida conduzindo o filme, apenas mergulhos no inconsciente, uma compilação não-linear de imagens aparentemente desconexas (o próprio diretor dizia que ...

Entrevista com João Ubaldo Ribeiro

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O Caderno Viver do jornal Tribuna do Norte publicou hoje uma entrevista ao escritor João Ubaldo Ribeiro. Na entrevista o escritor fala do convite e de sua participação no I Encontro de Escritores de Língua Portuguesa que terá início no próximo dia 28 de abril. No mais lê-se o já despojamento do escritor que foi à sua posse na Academia de Letras de bermuda: ** A sua presença nos eventos literários em Natal havia sido cogitada em anos anteriores, o que parece não ter dado certo. O fato de ser este um encontro de representantes da literatura de Língua Portuguesa no mundo, interferiu em sua decisão? Não me lembro bem desses convites. Eu sempre estou pensando em ir a Natal, porque gosto muito de Natal. Eu e minha mulher temos uma ligação forte com a cidade. Temos muitos amigos, compadres e assim por diante. Sempre estou pensando em ir à Natal, mas dificilmente eu posso. Eu não me lembro desse último convite. Não interferiu em nada o fato de ter representantes da língua portug...

A maior flor do mundo, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes Não tenho muito o que falar sobre livros para crianças. E por um motivo apenas: não fui uma criança leitora. Meus pais mal tinham condições de por comida dentro de casa; livro, então, foi sempre um produto de luxo. Além do que, semi-analfabetos, esse objeto nunca lhes serviu e nunca lhes serviria para nada. Depois, as escolas pelas quais passei, essas que poderiam ter me incentivado o hábito da leitura, nunca sequer souberam o que era uma biblioteca, coisa que eu propriamente também só vim conhecer na adolescência, quando na cidade para onde eu ia diariamente estudar entrei num cômodo velho com algumas estantes povoadas por alguns livros antigos da literatura nacional e uma centena de Best-Sellers desses que já vêm com um enredo pré-fabricado antes mesmo da sua composição. Os livros infantis que li foram na adolescência para a fase adulta. Li poucos, é verdade. Na vida adulta, entre essas leituras, está, por ossos do ofício, A maior flor do mundo...