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A casa de Molière

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Por Mario Vargas Llosa No final dos anos cinquenta, quando fui morar em Paris, embora fosse alguém paupérrimo, podia me dar ao luxo supremo de um bom teatro pelo menos uma vez por semana. A Comédie Française tinha as matinês escolares, não lembro se nas terças ou nas quintas, e nessas se representava as obras clássicas de seu repertório. As sessões ficavam repletas de crianças com seus professores e as entradas que sobravam eram vendidas ao público muito baratas, eram para o extremo do palco – de um lugar a partir do qual só se avistavam as cabeças dos atores – custavam apenas 100 francos (poucos centavos de um euro de hoje). As encenações podiam ser tradicionais e convencionais, mas era um grande prazer escutar o cadencioso francês de Corneille, Racie e Molière (sobretudo o deste último), e, também, muito divertido, nos intervalos, escutar os comentários e discussões dos estudantes sobre as obras que estavam vendo. Desde então me acostumei a ver regularmente a Comédi...

carnaval

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Há uma linha tênue que separa as artes plásticas da poesia. E, em alguns casos, não poucos, uma se interpenetra na outra sendo impossível de, a olho nu, o leitor precisar o instante de princípio daquela e o instante de fim desta. Com esse propósito foi que convidei, ano passado, uma equipe de artistas a compor materiais a partir da obra literária de José Saramago a serem publicados numa edição especial lançada naquele ano sob o título de Variações de um mesmo tom: diálogos em torno da poesia de José Saramago (Selo Letras in.verso e re.verso). No rol dos convidados, uma artista plástica de Minas Gerais que coordena um já respaldado projeto de leitura por através da pintura de aspectos poéticos de obras diversas de poetas contemporâneos: Iara Abreu. A artista não só contribuiu com a edição em questão como colocou-me a par de outros artistas que igualmente contribuíram uns com material. Tenho, logo, um apreço com esses diálogos. Acho frutíferos. E a fim de mantê-los ininterruptamente, ...

Um novo livro em torno de Pessoa

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Por Pedro Fernandes Quisera eu puder dar contas de todo o itinerário posto em torno da figura de escritores como Fernando Pessoa. Verdade é que, não damos conta (no sentido de acompanhar ou esgotar leituras) nem do escritor mais simples quanto mais de um da envergadura de um Pessoa. A obra talvez contornemos, mas o que dela se diz, é tarefa de Sísifo. A biblioteca em torno do poeta português que se multiplicou em vários é uma biblioteca infinita.  Mas, algumas novidades que vão surgindo em torno do nome, não se pode fugir à regra da divulgação. Divulgação com o desejo de alcançar algum trocado para conseguir incorporar o livro nas nossas bibliotecas particulares. É o caso agora.    No momento em que são publicados inéditos do poeta em Portugal, chega ao Brasil, pela Companhia das Letras, uma Fotobiografia de Fernando Pessoa organizada por Joaquim Vieira e Richard Zenith. É dele a tarefa de colocar alguma ordem no interminável acervo pessoano; e é dele também ...

José Cardoso Pires

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O escritor José Cardoso Pires sentado a uma mesa do "Bar Americano". Fotografia não datada e retirada de um número da revista "Ler" editada pelo Círculo de Leitores.  Fonte: Blog Cais do Olhar José Cardoso Pires não é um fenômeno, no sentido glorioso retirado deste  contexto  capital, mas é, sem dúvidas, um dos que melhor aprenderam a lição de mestres  como William Faulkner e Ernest Hemingway e se tornou referên cia obrigatória entre leitores e es critores de língua portuguesa.  Não é  coin cidên cia, portanto, que outros importa ntes nomes da literatura em Portugal lhe façam vênias, sobretudo aqueles es critores que es colheram a es crita  como exer cí cio de  criação não só narrativa mas estéti ca, engendrando novas possibilidades de  contar e de  compor a sintaxe do texto; esses são nomes  como  Lídia Jorge e António Lobo Antunes. E há, nesse  contexto de  criação de Pires, dois ro man ce...

Mensagem, de Fernando Pessoa

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Por Pedro Fernandes O que dizer de um poema que, nas literaturas de língua portuguesa, é talvez o mais estudado de todos e, ainda assim, se apresenta como fonte inesgotável de leituras, seja porque o texto poético assim sugere, seja ainda porque seu escritor deixou uma série de desenhos representativos no modelo de construção de seu texto? Um estudo da gênese de Mensagem (deve haver) responderia muitas impressões simbólicas que estão aí. Se Pessoa era admirador das ciências ocultas, conseguiu reproduzir esse ocultismo na concepção desse poema, que a princípio poderia figurar como um épico ou exaltação do povo português, mas no fim, não se reduz a isso, e o que está planejado pelo seu escritor está para além dessa ingênua conclusão.  Publicado em 1934, graças o vencimento do prêmio Antero de Quental, instituído nesse ano pelo governo português, através do Secretariado de Propaganda Nacional, esse livro se constitui na única obra que Fernando Pessoa viu publicada na s...

Inéditos (sem fim) de Fernando Pessoa

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Desde o dia 30 de janeiro foi apresentado em Portugal (ainda sem data de aportar em terras brasileiras) pela editora Ática Sebastianismo e Quinto Império um novo título para a obra de Fernando Pessoa. O trabalho está sob o professor colombiano Jerônimo Pizarro. Em entrevista para o jornal Público Jorge Uribe diz que em D. Sebastião o leitor se encontra com Pessoa a falar de Portugal de maneira próxima a da tradição popular: “Acho que um dos principais interesses de Pessoa pela figura de D. Sebastião tem que ver com uma maneira de fazer frente a Camões: D. Sebastião é uma personagem de Os Lusíadas , de Camões, todo o poema épico é dedicado a D. Sebastião, mas o D. Sebastião que está por vir depois de Os Lusíadas é uma oportunidade para Pessoa se defrontar com aquele que era o seu precursor literário mais importante”. D. Sebastião seria para Fernando Pessoa uma figura histórica com potencial o suficiente para fazê-lo entrar na história de Portugal onde Camões a deixou. Sobr...