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Os papeis literários de Seamus Heaney

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Por Frances Clarke Em novembro de 2011, a Biblioteca Nacional de Portugal adquiriu uma de suas mais importantes doações dos últimos anos – os jornais literários do Prêmio Nobel Seamus Heaney. Os trabalhos, desde então, foram catalogados (tive a sorte de trabalhar nesta coleção) e agora estão acessíveis a pesquisadores do Departamento de Manuscritos. O arquivo como um todo é um recurso maravilhoso, pois abrange a carreira de Heaney de suas contribuições para a oficina de poesia, o Grupo de Belfast na década de 1960, até à sua coleção de poesia  Human Chain  em 2010. Juntamente com esse material, quase 50 anos de manuscritos de poesia (a partir de vários autógrafos e materiais datilografados) é uma semelhante e extensa coleção de rascunhos, palestras, ensaios, peças de teatro e comentários. Texto submetido ao jornal do Belfast Group com transcrição datilografada de "Blackberry Picking" Enquanto trabalhava no arquivo, eu estava particularmente i...

Cortázar, um cronópio em Berkeley

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Julio Cortázar numa de suas aulas em Berkeley. Foto de Carol Dunlop “Têm que saber que estou nestes cursos improvisando-os, bem pouco antes que vocês venham aqui: não sou sistemático, não sou nem um teórico, de modo que, à medida que vão sendo levantados os problemas de trabalho, busco soluções.” É menos inquietante quando um professor começa sua primeira sessão dirigindo-se aos alunos dessa maneira. Mas se está perdoado quando o professor é Julio Cortázar. Além disso, não era exatamente assim. O escritor argentino levava seu aparato de notas e um bom número de livros marcados para dar um curso sobre as chaves de sua obra entre outubro e novembro de 1980 na Universidade de Berkeley. Que faz o iconoclasta e anti-imperalista autor de O jogo da amarelinha dando aulas na universidade estadunidense só se explica porque perdeu seu velho amigo Pepe Durand, especialista em literatura colonial, com uma proposta que implicava “trabalhar pouco e ler muito”, tanto que lhe permitiu es...

Felizmente há luar!, de Luís de Sttau Monteiro

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Por Pedro Belo Clara Se em anteriores ocasiões trouxe até ao caríssimo leitor obras em poesia e em prosa assinadas pelas mais hábeis mãos que o mundo literário português conheceu, é justo que o campo seja agora extrapolado e, tornando-o mais abrangente e completo, atinja outros géneros igualmente inestimáveis. Neste caso, o do teatro. Felizmente há luar  é a mais famosa obra de um dos mais famigerados dramaturgos portugueses: Luís de Sttau Monteiro. Filho de um embaixador português em Londres, o autor deambulou por campos tão variados como o direito, o jornalismo, a ficção, o teatro e até o automobilismo (!). A sua incursão pelos caminhos da prosa, que mereceu a sua inicial prioridade, revelou-se curta: cinco livros, apenas, entre 1960 e 1965. Seria, assim, no papel de dramaturgo que Sttau Monteiro definitivamente se consagraria no panorama artístico português. Para tal, muito contribuiu o sucesso da peça que hoje aqui trago a análise. Graças a ela, Sttau Monteiro ...

Boletim Letras 360º #35

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Extensa e intensa semana! Tudo por Vinicius de Moraes que inteira justo hoje seu primeiro centenário. Tudo o que dissemos por aqui e nas redes sociais do Letras é, evidente, insuficiente. Mas ainda sairão coisas adiante sobre o poeta que redefiniu o diminutivo de poetinha. Estivemos em três lugares da sua obra: a poesia, a crônica e o teatro. Três lugares de extensa significação para a literatura nacional, porque em todos eles, Vinicius imprimiu uma marca única; nalguns casos, como na música, retirando o Brasil da periferia do mundo: basta repetir aqui que “Garota de Ipanema” é a quinta canção mais executada no mundo. Entre Vinicius e outros autores passemos ao que foi notícia pela linha do tempo em nossa página no Facebook. Vinicius de Moraes num breve pause da leitura de si para um foto. Segunda-feira, 14/10 >>> Brasil: A arca de Noé relançada Pode-se dizer que A arca de Noé foi o primeiro sucesso póstumo de Vinicius de Moraes. O LP com as canções do l...

A favela em “Orfeu da Conceição”: poetização e eurocentrismo*

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  Por Marina de Oliveira Capa de uma das edições de Orfeu de Conceição . Publicado inicialmente em 1954 na revista Anhembi , a peça fez sucesso no teatro e ganhou duas adaptações para o cinema . Embora alguns pesquisadores acreditem que Pedro Mico tenha inaugurado a temática da favela nos palcos brasileiros 1 , a primazia deu-se, de fato, com o musical Orfeu da Conceição , publicado em 1954, pela revista Anhembi . A peça de Vinicius de Moraes, composta por três atos, estreou em setembro de 1956, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo Haroldo Costa, ator oriundo do TEP, Teatro Experimental do Negro, no papel de Orfeu. Antônio Carlos Jobim assinou as músicas e Oscar Niemeyer criou a cenografia do espetáculo. A noite de estreia também contou com o lançamento de uma edição de luxo do texto, com ilustrações de Carlos Scliar. Subintitulada “Tragédia carioca em três atos”, Orfeu da Conceição inspira-se no mito grego de Orfeu, jovem tocador de lira que, diante do...