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Requiem – Uma alucinação, de Antonio Tabucchi

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Por Pedro Belo Clara Se somente fosse tomado em consideração o apelido deste autor, cuja obra aqui apresento, por certo que o leitor, com justa razão, não o consideraria de origem portuguesa. Como tal, seria adequado concluir que este trabalho que assino representa uma inocente “batota” ou uma aceitável traição ao propósito primordial desta coluna quinzenal, que se propôs, desde a sua fundação, a somente apresentar obras de autores oriundos de terras lusitanas. Permita-me, no entanto, que esclareça o tema um pouco melhor, uma vez que o mesmo não é tão linear como se poderá assumir. De facto, Antonio Tabucchi é um autor italiano nascido na cidade de Pisa durante a década de quarenta. Acontece que Portugal foi uma das grandes paixões que pintaram a vida de Tabucchi, ao ponto de, em 2004, requerer a nacionalidade portuguesa. Por isso, creio ser inteiramente justo que um dos seus mais emblemáticos trabalhos seja incluído do rol das habituais análises propostas por esta col...

Lewis Carroll: porque um dia odiou ter escrito Alice no País das Maravilhas

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Fac-símile da primeira página da carta de Lewis Carroll em que se sente cansado pela fama de Alice no País das Maravilhas . As aventuras de uma menina chamada Alice que cai um buraco para sair no País das Maravilhas converteram Lewis Carroll num autor reconhecido e bem sucedido, numa celebridade de seu tempo. Tudo terá chegado ao extremo que o criador daquele fantástico relato desejou um dia não haver escrito o livro que acabou por torná-lo em lenda literária. Charles Lutwidge Dodgson, o verdadeiro nome de um escritor que desejava guardar zelosamente sua privacidade sob o refúgio de um pseudônimo, reagiu mal quando sua identidade deixou de ser um segredo. A fama pública o fazia sentir-se como um animal de zoológico, tal como lamenta numa carta que escreveu a uma amiga, documento que acaba de vir a lume por ocasião de um leilão realizado recentemente em Londres.   “Toda esta sorte de publicidade conduz os desconhecidos a vincular meu verdadeiro nome com o livro, neste ...

Boletim Letras 360º #54

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Ariano Suassuna e sua companheira no Carnaval. Foto: Patricia Satavis/ Folha Imagem. Bom, iniciamos este Boletim para dizer que, até a pouco já chegávamos a pouco mais de 200 inscritos na nossa promoção pelo Dia Mundial da Poesia – números que nos deixa muito animados. E na torcida para que a sorte sopre para aqueles que tanto nos acompanham, de coração. E, em ritmo de Carnaval (por isso a imagem de Ariano Suassuna, assim, todo serelepe no desfile da escola de samba Camisa Verde em São Paulo) para deixar registrado por aqui as novidades nas redes sociais do blog nesta semana que hoje chega ao fim. Por falar nisso, em Carnaval e em poesia, viram a sequência de Poemas para ler no Carnaval que demos início a publicação ontem, 28/02/14, em nossa página no Facebook? Isso vai até a quarta-feira de cinzas à noite. Segunda-feira, 24/02 >>> Espanha: Os cartões postais de Pablo Picasso  Ilustrados e enviados pelo pintor aos de seu círculo de amizade; círculo qu...

Pequenas rotinas, grandes mentes (Parte 1)

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Haruki Murakami numa parte de seus rituais diários. Acordar cedo, escrever, e correr. Picasso pedia a suas musas que, por gentileza, só o visitassem quando estivesse em seu atelier e trabalhando. Com manchas na camisa listrada e os pinceis preparados para aproveitar a inércia dessa coisa chamada inspiração. Porque por mais pura que se apresente a arte, dedicar-se a pintar, escrever, fazer canções ou fotografia têm muito da rotina, de hábito e obrigação imposta do artista para si próprio. “Sê monótono e ordenado em tua vida como um burguês para que possas ser violento e original em tua obra”, dizia Flaubert, por certo, todo um senhor burguês. William Burroughs tinha muito claro que estava obrigado a fazer uma mudança nesse trabalho raro: “O preço que um artista tem que pagar por fazer o que quer fazer é que tem que fazê-lo”. Mas, qual era a fórmula (se há) dos crânios privilegiados da História para convocar musas e pagar essa hipoteca? O jornalista Mason Currey tomado pela cu...

Gravidade, de Alfonso Cuarón

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É um filme feito pelo prazer de fazer um filme. E é por isto um filme quase perfeito, ainda que este termo seja um tanto perigoso de usá-lo depois de tantos anos de tradição cinematográfica. Mas, até chegar a esta constatação que bem poderia ser uma conclusão para este texto, é preciso dizer que elementos contribuem para o uso do termo. Antes, deixemos dito outra conclusão: Gravidade é um filme conceitual, mas sem se fechar nas fronteiras da arte em si. Se beneficia de toda uma série de recursos da longa tradição do cinema, mas sem se perder neles, usando, inclusive, da forma que tem se tornado moda desde Avatar , o 3D. Dá ao cinema em terceira dimensão, aliás, um rumo além do mero entretenimento com que alguns cineastas, talvez encantados demais com o aparato tecnológico, têm reduzido suas produções. Primeiro, o filme tem um enredo muito bem estruturado. Não permite brechas para divagações, suposições ou idealizações de fato. Embora não se beneficie do recurso deliberadame...

Em busca de Miguel de Cervantes

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Miguel de Cervantes por José Balaca Quatro séculos depois de que Miguel de Cervantes Saavedra, grande da literatura universal, morreu na pobreza, sua figura volta a interessar às autoridades espanholas. Saiu autorização por parte da prefeitura de Madrid para iniciar a busca pelos restos mortais do escritor, enterrados possivelmente no Monastério de Trinitárias, no Bairro das Letras, em 23 de abril de 1616. Foram os trinitários quem fizeram o resgate do escritor num cativeiro em Argel; Cervantes ainda teria vivido algum tempo em Madrid, até sua morte, em casa. As buscas começam no subsolo da antiga igreja monacal com a contribuição de um georradar, um equipamento capaz de, a partir de ondas, encontrar ossadas subterrâneas e delimitar suas dimensões e em grande parte, o território onde elas se encontram depositadas. Desde 1870, a Real Academia Espanhola tem a certeza de que houve no local nove sepultamentos e alguns dos restos mortais correspondem aos de um homem adulto. ...