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Sobre ser sem definição e a autonomia da mulher

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Por Rafael Kafka imagem: Alberto Tina Cunha Estava sem ideia para falar na crônica dessa semana, porém dois fatos importantes ocorreram e eu logo pensei em um tema interessante. O primeiro fato interessante se deu quando resolvi sair com uma amiga que não via há diversos meses para conversar e, por conta de uma pequena demora dela em aparecer, resolvi parar em uma livraria de um shopping de minha cidade e mesmo muito preocupado com as minhas dívidas, resolvi comprar Ser e Tempo , de Martin Heidegger. Em minha mente, era preciso comprar tal livro, pois há anos fujo da tarefa assustadora de lê-lo, por conta dos discursos dos ditos especialistas que em certos momentos de insegurança adquirem muita força em minha mente. O certo é que tal investimento se deve principalmente ao fato de que em minha curta vida intelectual eu preciso superar mais essa missão. O segundo passo veio de uma lembrança tida em meio à leitura do ensaio de fenomenologia acima citado. Enquanto ...

Robocop, de José Padilha

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Por Pedro Fernandes Primeiro foi o torpe Tropa de elite que pelo estardalhaço de bilheteria se tornou uma pequena franquia com dois filmes: o primeiro, munido de uma forte política do denuncismo acorda sobre a corrupção na Polícia Militar; o segundo, dotado do mesmo motivo do primeiro, mas mais agarrado a uma politicagem barata, aponta uma macroestrutura das corruptelas no Brasil. Ambos os filmes são medianos, mas o forte apelo popular – pelo tema tratado e pela linguagem despretensiosa – fizeram do seu diretor, José Padilha, e de atores como Wagner Moura (já conhecido por papeis melhores do que o Capitão Nascimento), saírem da surdina e projetá-los internacionalmente. Não fossem esses filmes que aliás vendem uma imagem bastante esgarçada do país, a direção da releitura de Robocop pelas mãos do brasileiro nunca tinha acontecido; como nunca teria acontecido se, em maior proporção, o Brasil não tivesse alcançado o gosto internacional. Este texto, deveria se firmar co...

Os caminhos de Isaías ou três voltas sobre o mesmo parafuso (Parte III)

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Por Alfredo Monte Lima Barreto em retrato feito após a segunda internação no  Hospício Nacional dos Alienados em 1919. 3. A Confissão (O romance) Désespéré de ce qu´il sait et ne peut plus annuler, mais fidèle malgré tout au Don Quichotte intransigeant qui lui dicte son ideal, il va rester écartelé entre deux exigences incompatibles et également impérieuses, l´une, utopique, qui l´entraîne irrésistiblement dans l´irresponsabilité de la rêverie; l´autre, realiste qui le contraint à regarder de tous ses yeux du côté des choses ´positives´ les plus propres à soulever en lui angoisse, mépris haineux, rage, dégoût... Marthe Robert, Roman des origines et origines du roman A má vontade geral, a excomunhão dos outros, tinham-me amedrontado, atemorizado, feito adormecer em mim o Orgulho, com seu cortejo de grandeza e força. Rebaixara-me tendo medo de fantasmas e não obedecera ao seu império... Lima Barreto, Recordações do escrivão Isaías Caminha No sexto c...

Maurice Sendak, o ilustrador de Liev Tolstói

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O trabalho que parece ter dado destaque à ilustração de Maurice Sendak foi Onde vivem os monstros . Há, evidente, uma série de fatores que contribuíram para isto: um deles, a adaptação feita para o cinema em 2009 por Spike Jonze e a declaração de gente famosa como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de que este é um de seus livros preferidos. Basta dizer, que apenas naquele país o livro alcançou a marca de 18 milhões de exemplares vendidos. No Brasil, Onde vivem os monstros foi editado pela Cosac Naify e os 10 mil exemplares também já voaram. Mas, há outro título ilustrado por Sendak e quase desconhecido do público brasileiro; ao menos, com o título que recebeu em 1963. Trata-se de Nikolenka’s childhood ( A infância de Nikolenka , numa tradução direta), de Liev Tolstói e é já uma raridade para colecionadores. O convite a Sendak foi enviado em 1961 pela lendária editora Ursula Norstrom. Veio em forma de uma extensa carta de motivação criativa já que sondagens...

Requiem – Uma alucinação, de Antonio Tabucchi

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Por Pedro Belo Clara Se somente fosse tomado em consideração o apelido deste autor, cuja obra aqui apresento, por certo que o leitor, com justa razão, não o consideraria de origem portuguesa. Como tal, seria adequado concluir que este trabalho que assino representa uma inocente “batota” ou uma aceitável traição ao propósito primordial desta coluna quinzenal, que se propôs, desde a sua fundação, a somente apresentar obras de autores oriundos de terras lusitanas. Permita-me, no entanto, que esclareça o tema um pouco melhor, uma vez que o mesmo não é tão linear como se poderá assumir. De facto, Antonio Tabucchi é um autor italiano nascido na cidade de Pisa durante a década de quarenta. Acontece que Portugal foi uma das grandes paixões que pintaram a vida de Tabucchi, ao ponto de, em 2004, requerer a nacionalidade portuguesa. Por isso, creio ser inteiramente justo que um dos seus mais emblemáticos trabalhos seja incluído do rol das habituais análises propostas por esta col...

Lewis Carroll: porque um dia odiou ter escrito Alice no País das Maravilhas

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Fac-símile da primeira página da carta de Lewis Carroll em que se sente cansado pela fama de Alice no País das Maravilhas . As aventuras de uma menina chamada Alice que cai um buraco para sair no País das Maravilhas converteram Lewis Carroll num autor reconhecido e bem sucedido, numa celebridade de seu tempo. Tudo terá chegado ao extremo que o criador daquele fantástico relato desejou um dia não haver escrito o livro que acabou por torná-lo em lenda literária. Charles Lutwidge Dodgson, o verdadeiro nome de um escritor que desejava guardar zelosamente sua privacidade sob o refúgio de um pseudônimo, reagiu mal quando sua identidade deixou de ser um segredo. A fama pública o fazia sentir-se como um animal de zoológico, tal como lamenta numa carta que escreveu a uma amiga, documento que acaba de vir a lume por ocasião de um leilão realizado recentemente em Londres.   “Toda esta sorte de publicidade conduz os desconhecidos a vincular meu verdadeiro nome com o livro, neste ...