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Boletim Letras 360º #59

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Fotografia inédita de Charles Baudelaire recém-descoberta. Saiba mais informações sobre ao longo deste Boletim.  Semana marcante; talvez a mais de 2014. Basta dizer que começamos na segunda-feira com um centenário e fechamos na sexta com outro. Octavio Paz e Marguerite Duras. Dois gênios (no real sentido que é conveniente o uso do termo). E, por isso, foi um corre para lá um corre para cá para oferecer aos leitores alguns fotogramas da vida e da obra dos dois escritores. Isso está marcado nas publicações em nossas redes sociais e aqui no blog. Mas, além disso, as notícias no universo da literatura, das artes e correlatos foram muitas. Umas boas outras nem tanto. Vamos lá? Segunda-feira, 31/03 >>> Brasil: Contos em alta Tem curto tempo que circula on-line nas redes sociais a série de contos Formas Breves. Idealizada por Carlos Henrique Schroeder, atual editor da  Revista Pessoa  e curador do Festival Nacional do Conto do Conto, a série da ...

O inverídico verdadeiro em O amante

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Por Alfredo Monte Marguerite Duras em 1955. Foto Studio Lipnitzki/ Roger-Viollet  I “Nas histórias dos meus livros que se referem à minha infância, não sei mais o que evitei dizer, o que disse, acho que falei sobre o amor que dedicamos à nossa mãe, mas não sei se falei do ódio também e do amor que havia entre todos nós, e do ódio também, terrível, nessa história comum de ruína e de morte que era a história daquela família, a história do amor como a história do ódio e que foge ainda à minha compreensão, é ainda inacessível para mim, escondida nas profundezas da minha carne, cega como um recém-nascido de um dia. É o limiar onde começa o silêncio. O que acontece é justamente o silêncio, esse lento trabalho de toda a minha vida. Ainda estou lá, na frente daquelas crianças possessas, à mesma distância do mistério. Jamais escrevi, acreditando escrever, jamais amei, acreditando amar, jamais fiz coisa alguma que não fosse esperar diante da porta fechada.” Assim, como...

Ninfomaníaca, de Lars Von Trier

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Diferentemente da dedicação de boa parte da crítica de cinema em ver os dois volumes de Ninfomaníaca com leituras distintas, não tomarei o tempo do leitor com isso; primeiro, porque, na verdade, os dois filmes são um, cortado da maneira como se apresenta a título de satisfazer as exigências das salas de exibição; segundo, justamente pela causa primeira, não há na segunda parte nada de novo do que se passa na primeira. Apenas se acentuam os limites das experiências sexuais de Joe. Lars Von Trier, de fato, tem assumido uma conceituada posição na atual conjuntura da produção cinematográfica. Talvez, ciente disso, e sempre querendo não se firmar em nenhum rótulo específico, o cineasta tenha sempre optado por ocupar várias posições - pensando que quase toda produção sua tem uma particularidade que a coloca numa posição quase que única na sua filmografia. No caso desse seu recente trabalho, o que quase se configura é uma produção fast food  inclinando-se quase que totalmente para o...

Matteo perdeu o emprego, de Gonçalo M. Tavares

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Por Pedro Fernandes Sempre tive comigo certa convicção de que as reduções são um tanto perigosas (convicção tautológica, pode ser, porque ter uma convicção parece que implica fazer reduções). Matteo perdeu o emprego  é o livro mais recente de Gonçalo M. Tavares a chegar ao Brasil. Sim, já há outro título depois deste e há muito publicado em Portugal. As simultaneidades de edição para o seu caso parecem ter acontecido muito pouco; o caso mais visível se deu com a publicação pela LeYa, de Viagem a Índia . Que esta obra aqui nos chegue, ainda que com certo atraso, é expressão motivadora de parabenizar a ainda estreante Foz Editora pelo trabalho. É que depois de vários títulos publicados no Brasil através de casas diversas, ficou visível que o trabalho desse escritor está no rol das obras necessárias (sempre) de contínua atenção e leitura. Isso significa dizer que já estamos diante de um elemento que adianta a conclusão que este texto poderia tomar: há que se ler a obra e ...

Poesia, de Alberto Caeiro

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Por Pedro Belo Clara Embora o real autor em causa seja um dos que tem o conjunto da sua obra mais digerido e esmiuçado pelo leitor lusófono, tanto que por vezes parece roçar o arriscado domínio dos “lugares-comuns”, a verdade é que um conhecimento superficial sobre certas temáticas não se poderá equiparar a uma avaliação mais demorada sobre as mesmas, ainda que se evite cair em extremos pouco proveitosos. Assim, com o intuito de clarear alguma visão mais toldada, ou simplesmente colocar “nomes em percepções somente ao leve percepcionadas”, se elegeu este valioso trabalho compilatório da “dispersa globalidade” que Caeiro produziu. A edição em causa, do livro que se pretende mais introduzir ao leitor do que propriamente analisar, remonta a 2001 e foi dada aos prelos sob a chancela da Assírio e Alvim. Na verdade, esta editora muito recentemente levou a cabo novos esforços de reeditar muitos dos trabalhos assinados por Pessoa e seus heterónimos, tornando-os, sob uma determin...

O mundo desnudo de um poeta - Octavio Paz

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Por Juan Cruz Abro alguns livros de Paz. São sua maneira de manifestar-se no mundo. Olhos azuis, camisas azuis, as mãos tranquilas passando as páginas como quem vira ondas. O mundo dos livros sabe mais; ele entrava como o feitor mexicano de palavras que eram mundos. O mundo de Paz, perfeito e nu. Apetite de Paz. Saio com calma. E com uma certeza: seu estilo era a inteligência do estilo. Libertad bajo palabra . Aspirava a Deus, a sê-lo. “Invento à véspera, a noite, o dia seguinte que se levanta em seu leito de pedra e recorre com olhos limpos um mundo penosamente sonhado”. Inventava a queimadura e o grito, “a masturbação nas latrinas”; o risco surrealista que compartilhou até aqui combinado com a inteligência; para fazer poesia se necessita intuição e raiva, imagem. “Fecha os olhos e perde-te na escuridão/ sob a folha de tuas pálpebras”. Isto é, por sua vez, palavra e arquitetura, o som da escultura que Paz vai despertando e que habita no interior das palavras. “Afunda ne...