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Zico, Zeffirelli e a energia abandonada

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Por Antonio Callado Está bem arraigada no espírito da gente a ideia de que permitimos que se separasse, em nossa cultura, o físico do espiritual. A imagem que nos obceca – aparentada à do paraíso perdido ou a de alguma fazenda em que tenhamos passado a infância – é a das antigas olimpíadas, em que a poesia e os cânticos se misturavam às competições. Sófocles, como lutador, era muito bom no ringue. E era dançarino. Liderou em 480 a.C. o coro que celebrou a vitória de Atenas contra os persas. Era então um jovem atleta. Desfilou pelado. No entanto, reconhecidas as diferenças, surge uma suspeita. A de que se os intelectuais e artistas perderam, por preguiça, contato com o mundo dos músculos e do esforço físico, os atletas continuam ligados ao mundo da emoção e do esforço mental, mesmo em pleno reino do profissionalismo. Vejam o futebol. As imagens da Copa estão ainda com a gente. Tanto as equipes modestas – a de Honduras, por exemplo, ou a dos Camarões, – como as da Fr...

Copa do Mundo de Literatura

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Sim, o futebol, tema que vimos perscrutando em alguns nomes da literatura nacional e estrangeira num conjunto de compilações que tem circulado por aqui quase que diariamente nesse período de Mundial, pode ser um elemento e tanto para falar sobre literatura! Publicação do caderno “Galeria” do jornal A Tribuna , de Santos, nosso colunista Alfredo Monte trouxe a magnífica ideia de uma listinha básica com dicas literárias de países que estão na Copa do Mundo. Ao invés de um embate para no final sair um ganhador, todos os citados são ganhadores e merecem, certamente a atenção dos leitores. “Infelizmente, não é possível estabelecer uma relação de igualdade entre as produções literárias dos países participantes da Copa por uma razão muito simples: a lacuna nas traduções. Nenhum escritor de Camarões (Grupo A), da Costa do Marfim (C), sequer da Costa Rica (D), ou do Equador e Honduras (o que desfalca muito o grupo E), e olhe que são países do nosso continente, falantes de uma língua-ir...

Em “Fazenda Modelo” ele deu nome aos bois

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Por Dirceu Alves Jr “De cada três músicas que faço, duas são censuradas. De tanto ser censurado, está ocorrendo comigo um processo inquietante. Eu estou começando a me autocensurar. E isso é péssimo.” Em desabafo publicado na imprensa no início dos anos 70, Chico Buarque assumiu que não estava tão imune ao objetivo da ditadura militar – o de calar ou, pelo menos, inibir a criatividade do artista. Depois de 14 meses de exílio na Itália, entre 1969 e 1970, o compositor reencontrou o Brasil no auge da repressão com o governo de Emílio Garrastazu Médice (1969-1974). O veto ao samba “Apesar de você” inaugurou uma sequência aparentemente infindável e, mesmo que o álbum seguinte, Construção (1971), tenha saído sob a condição de que Chico alterasse alguns versos, o compositor sentiu a necessidade de ares menos viciados para respirar. Procurou driblar a birra dos homens de farda no teatro, criando ao lado do cineasta Ruy Guerra o musical Calabar – o elogio da traição . Às vésperas...

Primeiro, o escritor

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Por André Toso Chico Buarque, o menino, no Colégio Santa Cruz. Em 1964, a escola foi palco do primeiro show e das primeiras publicações 'inventadas' por ele. No ano de 1958, o estudante Francisco Buarque de Hollanda passeia calmamente pelos corredores do Colégio Santa Cruz, instituição frequentada pela elite paulista. Carrega em uma das mãos um raro exemplar da primeira edição da obra Macunaíma , de Mário de Andrade. Aos 14 anos, o menino escolhera a dedo o exemplar que emprestaria das estantes forradas de livros que seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, colecionava em casa. A presença constante de intelectuais em seu cotidiano e o interesse e a curiosidade precoce por textos literários foram importantes para os passos iniciais do escritor. No artigo “O historiador escrever sobre seu filho Chico Buarque”, publicado no dia 19 de outubro de 1991, na Folha de São Paulo , Sérgio afirma que desde muito jovem o filho gostava de devorar obras de seus es...

O futebol não preenche coisa nenhuma*

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Por Graciliano Ramos © Elton Manganelli Pensa-se em introduzir o futebol, nesta terra.  É uma lembrança que, certamente, será bem recebida pelo público, que, de ordinário, adora as novidades. Vai ser, por algum tempo, a mania, a maluqueira, a idéia fixa de muita gente. Com exceção talvez de um ou outro tísico, completamente impossibilitado de aplicar o mais insignificante pontapé a uma bola de borracha, vai haver por aí uma excitação, um furor dos demônios, um entusiasmo de fogo de palha capaz de durar bem um mês. Pois quê! A cultura física é coisa que está entre nós inteiramente descurada. Temos esportes, alguns propriamente nossos, batizados patrioticamente com bons nomes em língua de preto, de cunho regional, mas por desgraça estão abandonados pela débil mocidade de hoje. Além da inócua brincadeira de jogar sapatadas e de alguns cascudos e safanões sem valor que, de boa vontade, permutamos uns com os outros, quando somos crianças, não temos nenhum exercício...

Boletim Letras 360º #69

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Traços para O jogo da amarelinha por Celeste Ciafarone. Novidades sobre a série de imagens para o romance de Julio Cortázar ao longo deste Boletim.  O Brasil começou bem a Copa do Mundo de 2014. Nós também. Abrimos uma série de publicações extras por aqui e nas redes sociais do Letras sobre o tema Literatura e Futebol. Por "Gol de letra" passarão muitos e significativos nomes da literatura nacional e estrangeira que deram pulsão a ideia de que o Futebol pode, sim, servir de tema e matéria para a Literatura. E mais: no dia de abertura do Mundial, disponibilizamos aos leitores a tão devida promoção; correrá todo o mês de junho e sorteará não um, nem dois, nem três livros, mas kits muito bacanas! Bom, não dá para perder nada, não é? Nem isso, nem o que foi notícia durante a semana na página do blog no Facebook. Vê só! Segunda-feira, 09/06 >>> Brasil: Bolaño inédito 2014 marca o aniversário de 10 anos de 2666 – o romance que tem desconcertado críticos...