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A cristalização do universo de Joyce: “Stephen herói” e “Os mortos”

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Por Alfredo Monte 1 Durante a primeira década do século XX, quando tinha vinte e poucos anos, James Joyce produziu os contos que, publicados somente em 1914, formam a coletânea  Dublinenses ; por essa mesma época também se dedicava a um imenso manuscrito,  Stephen herói  [ Stephen hero ], no qual inovava radicalmente uma das linhas mais fortes da ficção europeia, a do “romance de formação”. Ao contrário de Goethe (o ciclo Wilhelm Meister) ou Keller ( O imaturo Henrique ), não se tratava de um autor já vivido meditando e recapitulando o aprendizado de um jovem (geralmente, um artista), e sim do próprio autor em formação relatando esse processo enquanto o vivia. E não através da mera transposição autobiográfica, como é comum (ainda mais em escritores iniciantes), pois a Joyce pouco interessava o anedótico pessoal (pelo menos, nesse período de composição do romance de estreia), planejando que avultasse o lado “épico” da escolha do destino ...

Catálogo maçante das coisas comuns, de José de Paiva Rebouças

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Por Pedro Fernandes Aos olhos do leitor comum pode ser que um título como Catálogo maçante das coisas comuns não alcance a curiosidade suficiente de instigá-lo a leitura. Mas, é de se perguntar que título faria a atenção imediata do leitor comum. Convergência (Murilo Mendes), A rosa do povo (Carlos Drummond de Andrade), Poemas negros (Jorge de Lima), Coral (Sophia de Mello Breyner Andresen), A duração do deserto (Nina Rizzi), Cidade íntima (Leontino Filho) – para citar pequeno conjunto de bons poetas e de bons títulos que têm em comum a natureza de não produzir movimento que seja na curiosidade do leitor comum sobre a natureza de seu conteúdo.  No meu caso, também de leitor comum, mas daquele que tem o mínimo de curiosidade sobre as coisas comuns, deixo me guiar, diante desses títulos, primeiro pela dificuldade de se dar nome a tudo, depois, abrir-me em indagação sobre o porquê dos nomes, antes do porquê do nomeado. De modo que, se o título não se mostra como ...

Boletim Letras 360º #121

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Findamos mais uma semana. E temos o privilégio de dizer que já enviamos mais dois livros aos nossos leitores; desta vez, dois exemplares da nova edição preparada pela Alfaguara Brasil para a Antologia poética  de Mário Quintana. E, deixamos dois convites aos leitores: (1) pense na pessoa amada, inspire-se e escreva a uma mensagem nos comentários de uma postagem que estará no topo do nosso mural no Facebook até domingo (dia 14/06) - a mensagem que tiver mais curtidas levará um Kit com livros. (2) ainda está aberto o desafio, 1000 seguidores no Twitter , uma edição de Alice no país das maravilhas  (Cosac Naify). Tá difícil, mas... Moacyr Scliar. Manuscritos e datiloscritos do escritor estão on-line. Mais informações ao longo deste boletim. Segunda-feira, 08/06 >>> Brasil: Reedição da obra poética de Max Martins Para grande parte dos brasileiros é um desconhecido; mas é, na literatura brasileira, um dos nomes fundamentais. De Belém, chega-nos a notí...

O pensamento político de Fernando Pessoa

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Fernando Pessoa. “Fernando Pessoa (1888-1935) não era fascista. Nem admirador de Mussolini, Salazar, Hitler, sequer de Primo Rivera, líderes de regimes autoritários com os quais teve de conviver um dos maiores escritores do século XX e, sem dúvida, o mais enigmático”, assim apresenta Francisco Javier Martín Barrio sobre a edição recém-publicada pela Editora Tinta-da-China Fernando Pessoa, sobre o fascismo, a ditadura militar e Salazar , de José Barreto.  Barreto é sociólogo e historiador e tem se dedicado desde a última década a rastrear e descobrir os escritos políticos de Pessoa ou aqueles que tenha certo traço que possa ser enquadrado nesse rol. É um extenso quebra-cabeças. Nunca é fácil lidar com uma obra levada ao auge do inacabado como a do escritor português. E, como se não bastasse, ele ainda multiplicou-se em tantos e com opinião muito diversa.  Mas, parte da extensa dedicação de Barreto já está registrada. A edição trazida pela editora portuguesa integr...

Confesso minha afinidade com Alice Munro

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Por Emma Rodriguez “A mesma palavra prazer, havia mudado para mim; costumava pensar nela como uma palavra suave que descrevia uma autoindulgência mais discreta; de repente parecia explosiva, com as três letras da primeira sílaba soltando pressão como fogos de artifícios e terminando na delicadeza da última sílaba, seu ronronar sonhador”. Assim escreve Alice Munro em Lives of girls and women (em tradução livre  A vida das mulheres ) e leio, releio, sublinho a frase, penso e confesso que, se alguma vez decidisse escrever, gostaria de me parecer com a escritora canadense. Gosto de seu estilo reflexivo, a conjunção entre a descrição do que se passa por fora e o que está acontecendo dentro das personagens, o paralelismo entre os vales e abismos das geografias descritas e os sobe e desce das emoções, dos estados da alma. Confesso que minha atenção sobre a literatura de Alice Munro começou muito recentemente, também só a conheci há pouco tempo, mas há dois verões que n...