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As leituras de Virginia Woolf

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Você gostaria de saber o que liam – e o que diziam – seus escritores favoritos? Na web há um projeto, o UK Reading, constantemente em atualização, que apresenta facilmente, através de uma base de dados aberta que pretende documentar a história da leitura na Grã-Bretanha entre 1450 e 1945 e compreende, entre outras coisas, as experiências leituras de escritores famosos como Charles Dickens, Katherine Mansfield, Henry James ou Virginia Woolf. Sobre esta última há muita informação e aqui selecionamos alguns de seus comentários sobre diversos livros e escritores, em cartas escritas em distintas épocas e à distintas pessoas.    1. Sobre Crime e castigo , de Dostoiévski “Você não pode imaginar com qual desejo caímos sobre o material impresso, tantas vezes adiado pela necessidade de escrever. Li três novos romances em dois dias. Leonard desfrutou de Old Wives Tale como gatinho com um novelo de lã. Depois desta vertiginosa correria, agora corri com toda velocidade até Cr...

Salim Miguel

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Um silêncio que se constrói em torno de uma obra cujo interesse não se deixa contaminar pela sede do mercado não pode servir de parâmetro para dizer que um escritor e uma obra são menores; em grande parte, é esta uma clara displicência, primeiro dos seus contemporâneos, depois dos leitores sempre mais suscetíveis a encontrar e ficar restrito ao que lhe é oferecido como produto de primeira qualidade no dobrar de uma esquina. Muitos já terão reparado reiteradas vezes que o mal está não no escritor ou obra que se escondem mas naqueles que de algum tempo passaram a controlar e determinar o que tem se firmado como padrão de leitura. Nesse território de displicências ganha o leitor que não se deixa levar pelo que o mercado lhe impõe e busca de alguma maneira reconhecer o que está fora desse eixo; sim, porque fora dele, ainda se concentra boa parte do que podemos chamar de boa literatura. Assim se passa com a obra de Salim Miguel. Despreocupado em atender a demanda castradora ...

O Bairro, de Gonçalo M. Tavares

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É possível que a crítica já tenha se cansado de repetir a mesma constatação – que mesmo óbvia é necessário sublinhar quando o assunto é a literatura de Gonçalo M. Tavares: sua obra é possivelmente o projeto literário mais ambicioso e singular da atual literatura de língua portuguesa. Com um estilo que conjuga densidade e sobriedade expressiva, a capacidade de síntese e a ambiguidade, o escritor é dono de uma prosa afiada como um aforismo e certeira como um verso. Fora de seu país, outros escritores – não só a crítica – assim o compreende: Enrique Vila-Matas, por exemplo, em Espanha, já disse que Tavares é um dos seus mais valiosos nomes da literatura. Além da quase unanimidade da crítica e dos seus contemporâneos – há quem torça o nariz para certas experimentações estéticas suas – há outro fator que colabora na construção de seu nome dentro e fora de Portugal: sua obra está traduzida em mais de quatro dezenas de países. Um dos elementos que chama atenção é a capacidade ar...

Um planeta chamado Clarice Lispector

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Por Emma Rodríguez  Para falar sobre Clarice Lispector haveria que inventar novas palavras, comprar um dicionário do sublime, utilizar um novo alfabeto. É o que primeiro me vem para iniciar essa passagem pela obra de uma escritora especialíssima; tão especial que me atreveria a dizer que em certos momentos, enquanto a leio, tenho a louca ideia de que não é deste mundo, que parece ter vindo de distâncias inimagináveis para contar-nos histórias e para falarmos do que nos é mais profundo. Se toda leitura exige do leitor uma adequação, uma mudança de registro que o permita adaptar-se ao tom, à maneira, ao ritmo e ao tempo do que transcorre nos universos da ficção, no caso da escritora brasileira poderia falar-se de metamorfose. Há que mudar de pele para segui-la. Há que desejar e esperar que seja ela a que outorga a permissão para entrar em seus lugares desconhecidos, em suas atmosferas flutuantes, nesse rio de emoções que apenas os que estão dispostos a sentir, vibrar, pod...

Boletim Letras 360º #166

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Um extenso arquivo sobre Gabriel García Márquez está online. É a Gaboteca. Mais informações ao longo deste boletim. Últimos dias para se inscrever no sorteio de um exemplar do livro do ano: Todos os contos , de Clarice Lispector. Para saber todos os detalhes basta acessar este link de nossa página no Facebook; é por lá que a promoção é realizada até o dia 1º de maio. Recado dado, vamos às notícias que estiveram em destaque em nossas redes sociais durante mais uma semana online. Segunda-feira, 18/04 >>> Brasil: Uma coleção de bolso para publicação de poesia é apresentada a partir do mês de maio Pela Companhia das Letras. O selo Poesia de bolso tem confirmado obras como A teus pés , de Ana Cristina Cesar, Me segura qu’eu vou dar um troço , de Waly Salomão e Caprichos e relaxos , de Paulo Leminski; os três autores tiveram nos últimos anos a publicação de sua obra completa no gênero. De Ana C. - homenageada da Festa Literária Internacional de Paraty em 20...

Polifonia e sectarismo em A Brincadeira

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Por Rafael Kafka A Brincadeira, de Milan Kundera, é um romance construído de forma bastante engenhosa e que se caracteriza por reunir alguns temas recorrentes na obra do escritor tcheco. Temos presentes neste romance os jogos de amor, as questões existenciais ligadas ao ego e à identidade e a crítica aos regimes totalitários de esquerda que encabeçados pela União Soviética dificultaram demais a vida dos habitantes do leste europeu. A história gira em torno de Ludvik, um homem que quando jovem pertenceu ao quadro Partido Comunista. Todavia, em dado momento, ele faz uma brincadeira de aparência inocente e fútil em uma carta enviada a uma antiga namorada. A peça consiste em citar uma frase de Trotski, inimigo mortal dos comunistas stalinistas, o que é descoberto por membros da comunidade acadêmica da qual Ludvik faz parte. Levado a juízo, é expulso do partido e tem o direito de seguir os estudos negado, tornando-se uma espécie de pária na sociedade tcheca. O relato de L...