Postagens

Rainer Maria Rilke: conter suavemente a morte

Imagem
Da correspondência entre o adolescente Franz Xaver Kappus e Rainer Maria Rilke ficaram as cartas-respostas do segundo, chamadas Cartas a um jovem poeta que ganharam reedição pela Biblioteca Azul / Globo Livros. Sem ver as missivas originais pode-se especular sobre a letra delicada e estilizada desenhada pela mão do poeta, tão ocupada em estratagemas de cortesia e formalidades. Basicamente, entre 1903 e 1908, o tcheco escreve ao “jovem poeta”, da Suécia, de Roma, de Paris ou Pisa. Reúne nesta série de cartas as temáticas de seu gosto, rilkianas, da solidão como “apoio”, como “casa”, da vida e da morte, como correntes inextrincáveis de mistério e do transe poético. Rilke aconselha a seu admirador sobre a busca primitiva, podemos assim dizer, o estilo próprio, a voz emancipada de influências. Um despertar de seu mundo interior e da relação de sensibilidade com o mundo, condições esperadas do poeta. “Para essas duas tarefas [amor e morte], que carregamos e transmit...

Os ídolos de Thomas Mann

Imagem
O Prêmio Nobel de Literatura alemão não deixou passar em branco a resposta para uma pergunta que deve rondar a cabeça de todo curioso por saber de um grande quais são os seus mais admirados. Claro, não nos deixou uma resposta pronta, que talvez grande parte deles não a tenha, mas, do que muito escreveu, sobretudo de ensaios sobre música, teatro e literatura, de prólogos, conferências, sabe-se as faixas de uma radiografia com os ídolos do autor de A montanha mágica . Neles, Mann aproxima-se de figuras como Wagner, Goethe, Tolstói, Zola, Tchekhov e de obras como Dom Quixote , de Miguel de Cervantes. Um excelente prosador, nenhum pouco pretensioso, que escolhe a anedota para chegar ao público. “Se me perguntarem que paixão, que relação emocional com as manifestações do mundo, da arte e da vida, considero a mais bela, mais alegre, proveitosa, imprescindível, responderia sem hesitar: é a admiração” – afirmava Thomas Mann. O grande escritor sustentou que dela é a fonte do amor, a ra...

Emily Dickinson, uma vida que se prolonga

Imagem
Foi o anjo da guarda das letras estadunidenses e está no centro da linha que vai de Anne Bradstreet a Sylvia Plath, a meio caminho entre o puritanismo e o suicídio. Mas amava a vida e aqueles eram tempos heroicos, com o estrondo da guerra civil ao fundo e o fragor dos baleeiros ou as emboscadas dos índios. Eram os dias de Moby Dick e O último dos Moicanos ; a época dourada de Folhas de relva e no centro daquele vendaval criativo uma menina se tranca em sua casa de Amherst, em Massachusetts, nos arredores de Boston, e se põe a escrever, se dedica a fazer literatura e conta a um papel o que lhe passa. Escreve alguns textos de corte intelectual, apesar de sua aparente sensibilidade. Repletos de uns traços que dão uma sensação de trêmula  cadência. Cria uma escrita difícil e exigente em que narra as pequenas tragédias da vida cotidiana, sem títulos, sem pretensões editoriais. Repetem-se as perguntas obsessivas, volta-se para a autocensura e a compaixão, numa indefinív...

Boletim Letras 360º #169

Imagem
Há um aviso fixado no topo do mural do nosso Facebook que convida leitores que escrevem e simpatizam com espaço do Letras para enviar contribuições com textos de natureza diversa; sobretudo resenhas sobre livros. Aproveitamos a ocasião para reforçar o convite tão essencial à subsistência de espaços como este. Para saber como preparar e enviar o seu texto, basta ir aqui . Aviso repassado, vamos às notícias que listamos, como já é de costume aos sábados, na página do blog no Facebook.  Anne Frank: em breve todos terão acesso virtual ao espaço onde se escondeu a menina judia autora de um dos textos sobre a memória do Holocausto dos mais lidos no mundo. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 09/05 >>> Holanda: A história da menina judia que compôs uma das obras mais lidas sobre o tema do holocausto ganhará forma através da realidade virtual (VR) O museu Casa de Anne Frank, localizado em Amsterdã, fará isso para ganhar o mundo. Um projeto prevê a d...

Quando defender a criticidade é ser subversivo

Imagem
Por Rafael Kafka Arte: Zeren Badar (detalhe) Em seu Verdade Tropical , no meio de tantos movimentos políticos e culturais importantes Caetano Veloso faz questão de citar o método Paulo Freire. Criado pelo pedagogo brasileiro, tal método consiste em utilizar aspectos do cotidiano dos estudantes para promover a alfabetização e o consequente letramento dos mesmos. Vale ressaltar, que letramento e alfabetização não são a mesma coisa: alfabetização condiz ao processo de aquisição da linguagem verbal e letramento é o uso social da língua. Todo letrado é alfabetizado, mas nem todo alfabetizado é letrado: muitas pessoas conseguem ler um texto, mas não consegue explicar o que entenderam do mesmo, ligando ao mundo concreto. Nesse sentido, o método de Paulo Freire se liga ao interacionismo de Vigotsky, importante teórico russo que desenvolveu a partir do construtivismo de Piaget a visão dos saberes humanos como algo socialmente construídos. Tanto o método quanto a forma de pensar...

Romances de Patrick Melrose, de Edward St. Aubyn

Imagem
Por Pedro Fernandes Sabe-se que St. Aubyn concluiu este ciclo de romances em 2012, quando as editoras resolveram publicá-lo num só volume; o projeto levou quase vinte anos para ser concluído: o primeiro volume foi publicado em 1992 e o último em 2011. No Brasil, talvez por uma razão mercadológica, a obra sai, provavelmente, em dois tomos: o primeiro com os títulos “Não importa”, “Más notícias” e “Alguma esperança”; o segundo deverá trazer “Mother’s milk” (O leite da mãe) e “At last” (O fim). Apesar de acompanhar toda uma vida – a da personagem que dá nome ao ciclo, projeção do próprio escritor – cada um dos romances zela pela objetividade e não se prende a ser um retrato pleno, se é que se pode falar em plenitude quando se fala sobre um, sobre essa figura capaz de despertar no leitor toda sorte de reações, sobretudo, as mais adversas. E foi, justamente por isso que, entre a alternativa de escrever três textos – um para cada livro – que poupei tempo para mergulhar na l...