Postagens

Lília Brik e Elsa Triolet, duas mulheres frente à vanguarda da insubmissão

Imagem
  Por María Robert Símbolos da vanguarda soviética: Lília Brik e Elsa Triolet Pablo Neruda chamou-as “a indomável Lili” e “uma espada de olhos azuis”. As palavras do poeta não apenas refletem tudo o que Lília Brik e Elsa Triolet fizeram para a intelectualidade do século XX, mas resumem o caráter explosivo de duas das figuras mais singulares da mitologia vanguardista.  As irmãs Lília (1891-1978) e Elsa Kagan (1896-1970) nasceram numa bem estabelecida família judaica de Moscou dos anos czares. O pai era advogado e a mãe professora de música. Desde bem pequenas pensaram um futuro cosmopolita, com uma sensibilidade requintada para as artes. Mas também era seres indomáveis. Juntas formam duas partes de um todo, duas forças da natureza que se complementavam entre si. Tiveram uma infância cômoda. Lília tinha 19 anos e Elsa 15 quando seu pai morreu subitamente; ao mesmo tempo, a mais nova enfrentou a intensidade do primeiro amor depois de cruzar-se com o homem que ...

James Joyce e Virginia Woolf como leitores

Imagem
Por Martín Schifino Os grandes escritores leem de outra maneira? Expressão suas intuições, toda vez, em textos diferentes aos produzidos pela crítica que não é criadora sozinha? Se alguém já fez essas perguntas, deve possuir parte das respostas. Mas deverão faltar definições, e um bom começo será encontrar com T. S. Eliot quando destaca a especificidade do crítico “cuja obra pode caracterizar-se como algo derivado de sua obra poética”. Sem dúvida, uma diferença essencial sobressai nessa “derivação”. Como nota o ensaísta e romancista ocasional James Wood, “o escritor-crítico, o poeta-crítico, se encontra em proximidade competitiva com os escritores sobre os quais fala”. A crítica, em duas palavras, forma parte de uma discussão contínua com os pares. Pode ser por isso o momento de expressar afinidades. E constitui uma oportunidade ideal para revisar a tradição. No seu limite, o escritor-crítico é como a assessoria de imprensa que imaginava Orwell em 1984 : ler o passado ...

Boletim Letras 360º #181

Imagem
Raduan Nassar: Uma edição com a obra  completa ma is inéditos do autor  chega às livrarias brasileiras em outubro. Aqui reunimos todas as notícias que circularam durante mais uma semana de atividades online nas redes sociais do blog, o Facebook e o Twitter @Letrasinverso. Temos um pequeno segredo para contar a vocês: envolve livros e amigos. Quando chegarmos aos 40mil amigos no Facebook, iremos fazer uma surpresa aos nossos leitores.  Segunda-feira, 01/08 >>> Brasil: Um retorno de Raduan Nassar? O escritor que desde 1997 não publica uma obra terá três textos inéditos editados no segundo semestre deste ano Deve sair em outubro como parte das comemorações pelos 30 anos da Companhia das Letras. Dois dos textos são velhos desejos dos leitores de Raduan: o conto "O velho" (1960), publicado na antologia francesa "Des Nouvelles du Brésil" (1998), e o ensaio "A corrente do esforço humano" (1981), publicado na Alemanha em 1987; junt...

A capa vazia mais completa do mundo

Imagem
Por Agustín Fernández Mallo No passado 16 de junho, e como todo ano nessa data, se celebrou o Bloomsday, momento no qual se recorda Lepold Bloom, protagonista do romance Ulysses , de James Joyce, assim como o dia em que se desenvolve sua trama. Não é incrível que a capa da primeira edição (1922) do, seguramente, livro mais influente da literatura do século XX seja precisamente esse deserto azul esverdeado? Poderia hoje se editar um livro com semelhante esvaziamento facial? Ou é esse vazio seu acerto e reivindicação? Salvo honrosas exceções não creio que alguém se atreva hoje a colocar no mercado um romance com uma capa desenhada dessa maneira. Só o gênero da poesia ainda admite tamanho descaso anti-publicitário, o que de certo modo é lógico; os leitores de poesia são tão fieis, tão absolutamente fieis, que pouco importa o desenho da capa. Se me ocorre agora pensar que o mundo está encapado, tem uma capa, quero dizer, com os livros não ia ser po...

Uma temporada no escuro, de Karl Ove Knausgård

Imagem
Por Pedro Fernandes Entre as possibilidades que possam explicar a razão porque essa série de livros de Karl Ove Knausgård ataca os leitores e os faz, submissos, enfrentar – sem parar um instante a leitura e quando para ficar preso ao torvelinho de situações que poderão se desenvolver em passagens seguintes ou até o desfecho de “Minha luta” – está um mal do qual padecem todos os humanos: essa curiosidade em saber sobre a vida alheia. Talvez não seja isso um ponto que tenha feito o escritor mergulhar nos mais de quarenta anos de sua existência para contá-la em livro; mas, é uma justificativa que responde não apenas por fenômenos editoriais em torno de romances desse gênero, também para aqueles cuja memória narrada é de um ser meramente ficcional. Logo, não se trata de uma curiosidade em torno do homem Karl Ove Knausgård, nem porque o narrado aqui pode e confunde-se com o experienciado pelo próprio escritor, mas porque as situações recobradas, de uma maneira ou de outra,...

A Literatura e os Jogos Olímpicos

Imagem
No mundo antigo, os poetas e os escultores modulam a presença social do divino. Por isso, estão no coração do certame olímpico. Os atletas vitoriosos eram cingidos com uma coroa de oliveira; o ramo era cortado com uma foice de ouro por um jovem eleito. Depois vinham as honras ao longo da vida: uma estátua ou um poema.  Embora já não estejamos numa época literária, nossa percepção do olímpico continua sendo estatuária e poética. Queremos continuar tendo os corpos proporcionados pelos mármores helênicos. E, sem haver lido Píndaro, ansiamos que se cumpra a promessa de suas odes triunfais. Foi ele quem disse (como os matemáticos dizem um axioma) que a glória olímpica perdura além da morte. No século VI a. C. este poeta de Tebas representa ideais uma só vez arcaicos e aristocráticos, duas linhas fortes que permanecem juntas no mistério do esporte olímpico, porque as inovações sociais e tecnológicas se desvanecem quando chega o momento da verdade. Embora aconteça em público, ...