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Por que somos obrigados a ler um pesado romance como Moby Dick?

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Por Kiko Amat Moby Dick é “um dos livros fundamentais da história da literatura universal”, segundo o Wikipedia e muitas pessoas, em sua maioria professores universitários. Foi publicado em 1851, e apesar de representar um grande fracasso comercial para Herman Melville, também o consagrou (com os anos) como um dos pais do romance moderno (em sua modalidade acadêmico-impenetrável). Melville foi pioneiro de várias coisas, como inventar o penteado Hipster ou encher seus escritos com alusões literárias até o ponto de se reduzi-los à lama. Melville, na época, naufragou do mesmo modo que este romance, assim talvez não seja necessário colocar-lhe o pé no pescoço. O pobre homem terminou seus dias esquecido, obsoleto, gritando com os que lhe serviam, protestando em conferências, brigado com Hawthorne e, pior de tudo, escrevendo poesia. Seu legado não passaria disso até que seu corpo começasse a se converter em fertilizante para uma extensa legião de discípulos post morte...

A escritora Prêmio Nobel de Literatura que salvou do nazismo outra escritora Prêmio Nobel de Literatura

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Por Tereixa Constenla A poeta Nelly Sachs No dia 10 de dezembro de 1966 a poeta alemã Nelly Sachs (1891-1970) recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo, compartilhado com Shmuel Agnon. Em seu discurso havia mais que agradecimentos. No verão de 1940 a amiga alemã veio à Suécia visitar Selma Lagerlöf para lhe pedir um refúgio para ela e sua mãe. Na primavera de 1940, depois de meses difíceis, Sachs e a mãe chegaram a Estocolmo. Já havia acontecido a ocupação da Dinamarca e da Noruega. Mas, a grande romancista já não estava. Lagerlöf havia morrido pouco antes da chegada das duas. Selma Lagerlöf, “a grande romancista”, a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel de Literatura (foi em 1909), a autora traduzida para meia centena de idiomas, morreu no dia 16 de março de 1940 sem saber se sua intervenção havia sido suficiente para salvar a poeta e sua mãe, ambas de raízes judaicas, da máquina de extermínio nazista. Graças à sua mediação, fugiram de Berlim no últ...

Sor Juana Inés de la Cruz por Octavio Paz

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Sor Juana Inés de la Cruz significa várias para a cultura em língua espanhola. Em 1982, Octavio Paz deu à estampa uma biografia capaz de esclarecer algumas dessas faces. A obra então publicada pela editora espanhola Seix Barral foi apresentada na Universidade Autônoma de Madri com uma conferência sobre esta mulher que “precisou se tornar monja para poder pensar”. Um dia depois, o próprio autor comandou um recital com poemas de Sor Juana na Universidade de Barcelona. É esta obra que agora, a tradução de Waldir Dupont, ganha reedição no Brasil pela editora Ubu.  A biografia escrita por Octavio Paz é fruto de oito anos de trabalho e nasceu “da sedução que exerce esta mulher em particular, que é uma intelectual orgânica no sentido estritamente gramsciano, que, como tal, termina enfrentando-se à ortodoxia e ao poder em cujo seio estava integrada e que sofre em si mesma a colaboração da própria ideologia com seus acusadores até chegar a autoacusação”. Octavio Paz se sentiu se...

Boletim Letras 360º #252

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Os cheiros do fim de ano estão no ar. E, em nossa página no Facebook, já queremos saber qual livro marcou em 2017 você e por quê . As respostas serão compiladas numa lista de melhores do ano dos nossos leitores, tal como fizemos no ano anterior. Também no Instagram, iniciamos as dicas de presentes de fim de ano — livros, é claro! A seguir as notícias que copiamos em nossa página no Facebook.  Gabriel García Márquez, em 1976. Do arquivo do escritor na Universidade do Texas. A primeira parte foi digitalizada e está online. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 11/12 >>> Brasil: Um novo projeto editorial para a obra de Clarice Lispector Já havíamos noticiado da ideia da Editora Rocco depois do sucesso de vendas com a edição Todos os contos  de reunir as crônicas da escritora numa obra semelhante. Depois a ideia de reunir a obra em caixas. E agora, eis que vem a lume um novo projeto gráfico e editorial para a obra...

As obras de Cortázar que terminaram no lixo

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Por María Laura Avignolo Cortázar em sua casa em Saignon. O sino da igreja medieval de Notre Dame de Pietá marca as horas, sem peregrinos. É o único som que rompe o silêncio outonal em Saigon, um povoado preso entre as rochas da Provence francesa, mergulhado num profundo sono. A agência dos correios agora está fechada, mas graças à sua luta, Martine Veyron, é uma sua representante que faz existir ainda a presença de um carteiro no lugar. Ela foi quem lutou para que o único ponto de contato entre Saigon e o resto do mundo continuasse sendo o pilar desta comunidade de mil habitantes no verão que se reduz a menos de seis centenas no inverno. E Julio Cortázar haveria apoiado. Em “La Poste” (o correio) se iniciou o vínculo entre Julio Cortázar e Saigon, seu secreto e pequeno esconderijo. Entre ele e seus habitantes, que ainda recordam-no como um gigante de dois metros que caminhava a grandes passos, falava com todos e gastava uma hora de sua casa – na periferia do pov...

Diva Cunha: a viva carne da palavra

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Por Márcio de Lima Dantas A escritora Diva Cunha desponta na cena literária norte-rio-grandense ainda quando professora de literatura portuguesa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde editou sua dissertação de mestrado, uma pesquisa sobre o mito sebastianista na literatura portuguesa, cujo título é Dom Sebastião: a metáfora de uma espera (1979). Publicou os seguintes livros de poesia: Canto de página (1986), A palavra estampada (1993), Coração de lata (1996),  Armadilha de vidro (2004) e Dádiva  (2017). Dizer da poesia de Diva é anunciar em voz alta uma dívida para com o feminino, é a palavra nominando um débito para com esse gênero, é o resgate corajoso de uma mulher em plena maturidade cronológica e detentora dos artifícios formais capazes de engendrar um efeito poético no qual estão soldados sensibilidade e reflexão acerca da condição feminina. Com efeito, na poesia de Diva, o signo poético é habilmente trabalhado para causar o resulta...