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Boletim Letras 360º #442

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DO EDITOR 1. Caro leitor, aproveito a ocasião para situá-lo sobre o andamento da campanha para cobrir as despesas com o domínio e a hospedagem do Letras na web falada aqui desde o início em julho. Até agora, conseguimos o valor para o pagamento do primeiro — falta o segundo. Por isso, os dois pedidos continuam ativos.   2. Você pode adquirir um dos livros neste bazar ( aqui no Facebook e aqui no  Instagram ) . Caso não se interesse pelos livros, saiba, a partilha é já uma maneira de ajudar. Caso sim e não disponha de conta no Facebook, pode solicitar a lista através do e-mail informado a seguir. 3. Ou pode colaborar com doações avulsas via PIX e com qualquer valor; basta contatar pelo e-mail blogletras@yahoo.com.br ou por uma das nossas redes sociais. 4. E reitero, a todos que de alguma maneira ajudaram até agora, receba os agradecimentos. Obrigado pela companhia! Julian Barnes. Foto: Graham Jepson.   LANÇAMENTOS Eleito um dos melhores livros de 2020, romance...

O que fica entre o cair do sol e o ganhar da noite

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Por Tiago D. Oliveira Sobre os poemas, a sensação é mais do que palavras, o tempo atravessa-nos de forma inequívoca, encontra poros que acessam alojamentos para cada verso do livro As mobílias da tarde , de Francisco Perna Filho, publicado pela editora Penalux. Um objeto que organiza acabamentos para cada vão vazio de uma casa. E esta, ao passo que espreita é também ressignificada pelo barro da poesia a figurar cuidados e respostas que tocam paulatinamente.   Dividido em quatro partes, “A infância”, “Gênesis”, “Ao logo desses anos” e “De olhos bem abertos”, em 84 páginas Francisco consegue criar um espaço onde o tempo retoma o que o fez marcar e entregar poesia em suspensos rasantes do passado. A literatura apresenta suas armas em direção do que não se coloca nunca sob a ilusão de uma imagem passiva, o tempo não para, mas na poética do livro conseguimos tocar no passado novamente; a poesia invade a hora imediata e suspende a memória bem diante dos nossos olhos, a cada soma de ...

Fim de uma viagem, de Heinrich Böll

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Por Pedro Fernandes Heinrich Böll. Foto: Alain Mingam O nome é novo, a prática nem tanta. O debate ético, o de sempre, ainda que agora novamente o que antes era pura expressão ganhe o estatuto de produto, como tudo na geringonça do consumo. Em julho de 2021, um desenho original de Pablo Picasso foi queimado. O que poderia ser uma performance, irrepetível, interessada em chamar atenção para algum aspecto como a fragilidade da noção de valor ou a natureza implacável do tempo sobre o fim de tudo, se tornou recorrente e integra um sistema que envolve tecnologia, certo exibicionismo e, claro, muito dinheiro. De toda maneira, a palavra que sintetiza essa experiência é singularidade .   Tomemos o caso do rascunho “Fumeur V”, de Picasso. Alguém adquiriu a peça sabendo que seu direito de exclusividade será transferido para o mundo digital — para isso, o objeto precisa deixar de existir enquanto matéria física. Os non-fungible tokens (NFTs) permitem a validação do produto no novo formato; at...

Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares — O Sétimo Círculo

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  Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares. Arquivo: Clarín . À Divina comédia devemos o nome engenhoso da coleção inventada por Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares — O Sétimo Círculo: o sétimo é o círculo dos violentos. Os primeiros condenados que Dante encontra nessa parte do inferno são os suicidas, os violentos contra si próprios, personagens completamente inadequados para definir um gênero em que todo suicídio acaba sendo desmentido pela sagacidade do detetive.   Desde o seu nascimento, a coleção foi marcada pelo logotipo de José Bonomi (um cavalo de xadrez), a arte da capa do mesmo artista e as contracapas e informações sobre os autores, que Borges e Bioy escreviam quando se encontram. Notemos que a presença do cavalo preto felizmente contradiz Poe, que julgava a narrativa policial mais próximo ao jogo de damas e não ao xadrez. Porque no xadrez, de acordo com o escritor estadunidense, a atenção prevalece sobre a agudeza, e não é o melhor que vence, mas o menos distra...

Céu noturno crivado de balas, de Ocean Vuong

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Por Michiko Kakutani Ocean Vuong. Foto: Aram Boghosian.   Num dos ardentes poemas desta nova e notável antologia de poemas, Ocean Vuong justapõe os caóticos episódios da queda de Saigon em abril de 1975 aos versos de “White Christmas” [Natal Branco], de Irving Berlin — a canção tocada pela Rádio das Forças Armadas para avisar que a evacuação final estava em marcha: “ As árvores luzindo e as crianças ouvindo , o chefe de polícia / caído de cara numa poça de Coca-Cola. / A foto do pai do tamanho de um palmo encharcada / ao lado da orelha esquerda.”   Enquanto Bing Crosby entoa “ Que seus Natais sejam todos brancos ”, o fogo de artilharia rasga os céus de Saigon e “Um caminhão militar passa rápido na esquina, crianças / gritando lá dentro. Uma bicicleta é lançada / na vitrine da loja” e “Na praça lá embaixo: uma freira, em chamas, / corre em silêncio rumo a seu deus”.   O poema, intitulado “Canção matinal com cidade em chamas”, é inspirado nas recordações da avó do aut...

O telescópio invertido — J. G. Ballard

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Por Mauricio Montiel Figueiras J. G. Ballard. Foto: John Lawrence.   Em 1949, enquanto autores de ficção científica como Ray Bradbury — que na época escreveu suas fabulosas Crônicas marcianas (1950) — desviaram o olhar de um planeta marcado pelas cicatrizes da guerra e se voltam para o espaço sideral em busca de civilizações menos partidárias da autodestruição. O estudante de medicina James Graham Ballard, de dezenove anos, conduz um curioso experimento na sala de dissecação do King’s College, uma das atrações do “parque temático acadêmico” chamado Cambridge.   Numa “estranha sala de teto baixo, a meio caminho entre uma boate e um matadouro”, acompanhada pela memória do coelho que esfolou e cozinhou no final de sua estada de três anos na Leys School — o internato que entre 1923 e 1927 deu as boas-vindas a Malcolm Lowry, outro grande iconoclasta da literatura —, o jovem Ballard aproveita suas aulas de anatomia para começar a construir um telescópio mental com o qual focalizar...