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A poesia de Zila Mamede

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Por Pedro Fernandes Recentemente adquiri uma edição belíssima organizada pela Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EDUFRN) com a produção poética da Zila Mamede. Meu primeiro contato com a obra mamediana se deu ainda na Faculdade, com outro poeta, o professor Leontino Filho, na disciplina Literatura Potiguar (que ainda é ofertada como optativa, mas que deveria ser componente curricular obrigatório nos currículos dos estudantes de Letras do Estado).  É sobre a poeta que escrevo estas breves notas para inaugurar no espaço onde estão João Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, entre outros, sua presença. Nos dias seguintes, o leitor encontrará por aqui a reprodução de um longo texto sobre a obra de Zila Mamede; uma seção especial, não apenas porque este ano é especial, mas porque a poesia da poeta é especial. Estamos comemorando cinqüenta anos de produção poética sua, marcada pela estréia de Rosa de Pedra , em 1953. E esta data não pode passar em branco. Z...

David Foster Wallace: o melhor cronista do mal-estar dos Estados Unidos

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Por Eduardo Lago David Foster Wallace David Foster Wallace é o melhor cronista do mal-estar da sociedade estadunidense na época entre os séculos XX e XXI; tinha 46 anos quando foi encontrado na noite de 12 de setembro enforcado em sua casa em Claremont, Califórnia. O corpo foi descoberto pela companheira do escritor, Karen Green, que imediatamente entrou em contato com a polícia local. O mundo só soube da morte do escritor um dia depois e foi motivo de extensa comoção na comunidade literária dos Estados Unidos. Uma das notas mais persistentes ouvidas depois da notícia torna-se pública, foi o pedido do escritor que o internassem numa unidade de vigilância hospitalar porque não se sentia capaz de controlar sozinho sua pulsão suicida. Foster Wallace foi uma personagem muito querida tanto pelos estudantes e colegas da Universidade de Pomona, onde ministrava aulas de escrita criativa, como por seus companheiros de profissão. Talvez uma das características mais chamativas de...

Joseph Roth

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Um dia de maio de 1939, um homem agonizava no Hospital Necker de Paris consumido pelo álcool e desaparecendo num delírio. Veio-lhe a morte; foi enterrado no cemitério de Thiais numa pequena cerimonia assistida por judeus e católicos, comunistas e não-comunistas, republicanos e monárquicos. Em sua lápide ficou registrado sua procedência e sua profissão: “Escritor austríaco morto em Paris”. Aquele homem se chamava Joseph Roth e foi um dos nomes mais importantes de seu país no século XX.   Pouco antes de morrer havia terminado de escrever um romance curto a que deu o título de A lenda do santo bebedor . Nela escreveu “Deus dê a todos nós, os bebedores, tão leviana e bonita morte”. Uma morte de absinto e embriaguez. Noutro de seus romances mais celebres, Marcha de Radetzky , definiu melhor que ninguém a necessidade de álcool àqueles que “bebem com sede de alma, que é a sede do bebedor”. Joseph Roth foi o escritor dos exilados. Nasceu em 2 de setembro de 1894 em Brody, um...

O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman

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Tema tabu na cultura ocidental, a morte é tratada com ironia inédita no cinema, misturada a uma visão realista sobre a idade média Ingmar Bergman estava mesmo inspirado em 1957. Nesse ano, o cineasta sueco lançou dois de seus melhores filmes, Morangos Silvestres e O Sétimo Selo , bem diferentes entre si: o primeiro é uma descrição realista e contemporânea de um dia na vida de um professor que revê sua vida ao viajar à cidade natal, para receber um prêmio. Já O sétimo selo (vencedor do prêmio do júri em Cannes) se passa da Idade Média. O cavaleiro Antonius Block (Max von Sydow) volta das sangrentas cruzadas com a própria fé abalada, e encontra seu país devastado pela peste. Acompanhado de um escudeiro (Gunnar Björnstrand), Block observa a destruição prevista na Bíblia (o título do filme é tirado do livro do Apocalipse) e dá de cara com a Morte, que veio para levá-lo também. Por que uma alegoria e por ser focada na Idade Média, é fácil acreditar que O Sétimo Selo tenha men...

Clarice Lispector: entrevistas ― Erico Verissimo

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Todos conhecem, mesmo de que ouvir falar, a saga O tempo e o vento . Na mesma proporção, obras como A hora da estrela e A paixão segundo G.H. Mas, saberia o leitor que os dois autores dessas obras foram amigos de longa data e intimidade? Pois foram. A amizade entre Erico Verissimo e Clarice Lispector ― e por extensão, o convívio das duas famílias ― foi profusa. Tanto que ela chegou a convidar Erico e sua esposa, Mafalda, para serem padrinhos de seus filhos Pedro e Paulo Valente. Os registros dessa convivência estão nas fotografias, como as registradas na estadia em Washington e nas quais vemos em cores os fotografados, e nas muitas cartas trocadas.   Para agora, copiamos uma entrevista da própria Clarice. Está reunida num livro bastante singular, Clarice Lispector: entrevistas , publicado no ano passado pela Editora Rocco. Aqui, conversam sobre a recepção da obra de Erico Verissimo pela crítica especializada, a carreira e os desafios do ofício de escrever, sobre a fama, as alegr...

Jorge Fernandes e seu livro de poemas

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Por Pedro Fernandes O ano é 1920. A capital do Estado se resumia a uma cidade provinciana; quase parada. A noite natalense resumia-se às festas da Igreja e, como atesta-nos o poeta Veríssimo de Melo, aos raros dias de agitação da política nacional. No cenário literário apenas os cafés eram os centros da boemia, das atividades culturais e dos saraus recheados de sonetos. Isso também nos é constatado nos vários textos que Câmara Cascudo escrevia nos jornais da época.   Num deles, “Cabelos curtos ou compridos”, em 1924, no jornal  A Imprensa , Cascudo apresentava o resultado duma pesquisa no mínimo engraçada, mas que refletia bem o espírito do povo norte-rio-grandense por essa época: fez ele uma entrevista com quinze pessoas – poetas, jornalistas, comerciantes, teatrólogo, médico –, perguntando acerca do cabelo feminino, se o preferiam curto à moda inglesa ou se longos e encaracolados. O resultado foi que seis votaram pelo primeiro, seis pelo segundo e três pelos dois, o que nos ...