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Reflexões sobre o romance moderno

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Por Pedro Fernandes (Notas de leitura a partir de  “ Reflexões sobre o romance moderno ” , de Anatol Rosenfeld) Anatol Rosenfeld em seu texto Reflexões sobre o romance moderno parte de três hipóteses a fim de refletir sobre o caudal de “transformações” porque passa o romance moderno. A primeira delas, e é a principal sobre a qual se fundamenta para constituição deste seu texto, é a de que em cada fase histórica existe um Zeitgeist , isto é, espécie de espírito unificador que perpassa todas as manifestações culturais e de pensamento. Evidentemente que isso se presentifica nos espaços nacionais, mas até mesmo em culturas de constituição tão complexa como a nossa, a Ocidental, admite Rosenfeld, com alta especialização e autonomia das várias esferas – tais como as das ciências, as das artes, as da filosofia – é possível traçar um fio que de interdependência que as unifica. A segunda hipótese é a de que o campo das artes se marca por um fenômeno a que ele chama de “desrea...

Psicose, de Alfred Hitchcock

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Suspense é tão bem engendrado que, mesmo que se conheça a identidade do assassino, o medo continua a funcionar Até quem nunca assistiu Psicose conhece a cena em que Marion (Janet Leigh) é assassinada no chuveiro. Cada detalhe dessa sequência foi explorado à exaustão em outros filmes, programas de televisão, desenhos animados, fotografias: a expressão horrorizada de Leigh gritando, a sombra da faca na parece, subindo e descendo, sangue espirrando, a trilha sonora assustadora de Bernard Herrmann. A histórica passagem revela muito do perfeccionismo de Alfred Hitchcock. Para filmá-la foi preciso uma semana inteira, com câmeras em 70 ângulos diferentes, em um total de mais de 90 rolos utilizados. Originalmente, não haveria som nela, porém Hermann apareceu no estúdio com  uma composição tão adequada que o cineasta sentiu-se obrigado a mudar de ideia. Mas não foi só a sequência do chuveiro que fez deste o trabalho mais conhecido de Hitchcock. Psicose traz também Norman Ba...

Por que ler os clássicos: os livros de Italo Calvino (Parte 3)

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Desde maio que iniciamos um passeio pelas leituras preferidas de Italo Calvino (ver o fim desta postagem). Acompanha-nos nesse itinerário o já clássico conjunto de ensaios Por que ler os clássicos . Com esta terceira entrada finalizamos esse roteiro. O livro, é preciso dizer, não é uma lista de leitura tal como transformamos ao longo destas três postagens; são críticas escritas sobre determinada obra ou autor e, justamente porque escreveu sobre, julgamos ser estas as leituras mais marcantes na formação literária do escritor, afinal, supomos que, se nem sempre falamos sobre aquilo que mais diz de nós, em grande parte é o raciocínio contrário aquilo que prevalece. No final desse itinerário é válido fazer outras ressalvas, como o fato de termos anotado os títulos que o Italo Calvino se refere diretamente. Como dizíamos, há alguns ensaios em Por que ler o clássicos , cuja referência é dada a um autor e não sobre uma obra específica. É o caso de Giammaria Ortes, Mark Twain e Ray...

Uma lista de filmes que José Saramago viu entre os anos 1970 e 1980

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O próprio José Saramago viria, mais tarde, fazer algumas peças para o cinema. Aqui, em cena do documentário Janela da Alma  (2001) É sabido da exposição organizada por Fernando Gómez Aguilera sobre a vida e a obra de José Saramago, apresentada em Lanzarote e em Lisboa. Junto com a exposição na capital portuguesa, a editorial Caminho, que tem publicado a obra do Prêmio Nobel da Literatura, trouxe a lume um catálogo preparado pelo curador espanhol. Uma das curiosidades que este texto nos apresenta é uma lista de filmes - recordando sobre a paixão de Saramago pelo cinema - que o escritor português viu entre os anos de 1970 e 1980. A lista é recuperada das anotações que constam, segundo informa Gómez Aguilera, de duas agendas pessoais do autor de Ensaio sobre a cegueira . 1976 La guerre est finie , de Alain Resnais Dia de cão , de Sydney Lument A flauta mágica , de   Ingmar Bergman 1977 O intruso , de Luchino Visconti Le mariage de Figaro , de Jean Meye...

Onze filmes que têm um dedo de Arthur Miller

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Arthur Miller, Marilyn Monroe e George Kukor nos estúdios de Adorável pecadora. O dramaturgo terá participado no roteiro do filme, mas não teve seu nome incluído nos créditos. Não é necessário sublinhar a grandiosidade de Arthur Miller como dramaturgo; a extensa quantidade de textos publicadas na mídia ano a ano e leva dos mais importantes galardões que ganhou são provas suficientes de que sua obra é brilhante. Mas, não foram apenas as peças para teatro, alguns contos, romance e memórias o que escreveu o estadunidense. Desde cedo, Arthur Miller manifestou interesse pelo cinema e fez ponta como ator ( O justiceiro , do amigo Elia Kazan), noutros, apesar de haver trabalhado não apareceu ( Adorável pecadora , de George Cukor), adaptou, produziu alguns roteiros, e, claro, seu envolvimento com Marylin Monroe, com quem ficou casado por cinco anos, são exemplos dessa proximidade sua com a sétima arte.  Por isso, decidimos preparar essa listinha de alguns filmes que têm algu...

Desafios de uma educação especial

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Por Pedro Fernandes A partir da década de 1993 a deficiência passa a ser vista como sendo proveniente da relação existente entre a pessoa deficiente e seu entorno – o mundo no qual a pessoa está inserida. Consideremos isto como o primeiro tímido passo para uma real aceitação de que deficiências passam a existir a partir do momento em que o mundo que rodeia seus portadores não dispõe de condições para executar com facilidade todas as atividades de pessoas tidas como normais. Apesar de já ser enxergada como casos especiais, ou seja, que merecem uma maior atenção, é a partir desse reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU), nesse ano, que a visão crítica para com o assunto passa a ser focalizada por outra ótica. A forma nova é a de que a diversidade é tida como heterogeneidade social, tanto que, a partir daí a educação passou a ser vista como sendo única forma satisfatória para haver de fato uma interação social e não apenas isso, mas o que tanto se chama por inclusão social...