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John Updike, o reverso do sonho americano

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Por Barbara Celis John Updike. Foto: Dennis Stock. Já não haverá mais livros polêmicos assinados John Updike. Ganhador de quase todos os prêmios literários, exceto o Nobel, a voz imprescindível do colosso das letras estadunidenses apagou-se para unir-se em silêncio às recentemente desaparecidas de Norman Mailer ou Saul Bellow. Com eles compartilhou inquietudes da geração e mais de uma acalorada discussão. Updike, um dos grandes cronistas das mudanças culturais e morais experimentadas ao longo do século XX pelos Estados Unidos, ficará como responsável, entre outras coisas, por elevar o adultério suburbano à categoria da alta literatura. O escritor morreu ontem, 27 de janeiro, em Beverly Farms, Massachusetts. Um câncer de pulmão lhe tirou a vida aos 76 anos; anos que foram suficientes para que o prolífico escritor publicasse 27 romances e 45 antologias com contos, ensaios, poesia e crítica. Ainda tinha um livro por publicar, My father’s tears and other Stories q...

As pequenas memórias, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes As pequenas memórias é um livro de emoções extremas; extremas, mas não gratuitas ou baratas como tem sido corrente hoje em dias de espetacularização. Seguindo um estilo que bem trabalhou nos cinco volumes dos  Cadernos de Lanzarote   - diários escritos desde que se mudou para um das ilhas do arquipélago das Canárias   - mas, mais romanceado - coisa que nos cadernos apenas figura como notas - este livro de José Saramago é não apenas um feixe de recordações sobre a infância até o princípio da juventude. As pequenas memórias  é um retrato sobre a formação de um escritor que, antes de tudo, é um interventor, um humanista. Um livro de memórias a que ele chama “as memórias pequenas de quando fui pequeno”.  Portador de uma poesia singela, esse livro reúne como num feixe fragmentos de memória ou os principais acontecimentos que levaram a Saramago ser a pessoa perscrutadora, reflexiva, humanista e interventiva que o é; compreensão que encont...

Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha

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Diagnóstico da condição brasileira sob a forma de ópera, filme é assinado por um dos maiores nomes da produção nacional Glauber Rocha possivelmente o mais genial cineasta nacional, já vinha de um curta memorável, O pátio (1959), e de um primeiro longa mítico, Barravento (1962), quando rondou este que é considerado por muitos o maior filme brasileiro já feito. Na verdade, algumas raras vezes ultrapassado por Limite (1930), de Mário Peixoto, e por outro do mesmo diretor baiano, a obra-prima Terra em Transe (1967). Mas Deus e o Diabo na Terra do Sol pisa em terreno sagrado do cinema nacional, que é o nordeste brasileiro, espaço simbólico que representa a realidade do país, suas origens e marginalidade em contraste com os grandes centros urbanos. Nos anos 60, com a efervescência do debate político, às vésperas do golpe militar de abril de 1964, o longa ganha importância suprema. Glauber, diferentemente do que se via nos documentários e do que outros cineastas fizeram nos ...

A vida e a obra de Aluísio Azevedo

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É muito difícil escrever romances no Brasil!... O pobre escritor tem de lutar com dois terríveis elementos – o público e o crítico. O público, que sustenta a obra, e o crítico, que a julga e às vezes a inutiliza; o público, que compra um livro para aprender; e o crítico, que exige que o livro sustente as suas idéias e pense justamente como ele – crítico. (Aluísio Azevedo,  Filomena Borges ) Os arquivos acerca do escritor dão conta de um sujeito que desde menino revelou inclinação às Artes. Ainda nos bancos da escola primária encontramos Aluísio Azevedo completamente fascinado pelo desenho, o que levou a família, presa ainda por uma psicologia do dom, matriculá-lo num curso de artes plásticas. Adolescente já desenhava bem. Chegou mesmo a pintar alguns quadros. E quando animado pelo sucesso que seu irmão Arthur Azevedo obtinha na Corte, partiu para lá. Foi confiante no êxito que ele obteria que fez a viagem. Em pouco tempo, impôs às redações de jornais como  O M...

Matar e criar

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Por Candido Pérez Gallego T. S. Eliot, 1947. Foto: George Platt Lynes No número de junho de 1915 da revista Poetry  aparece um poema de um tal T. S. Eliot ( A canção de amor de J. Alfred Prufrock ), que havia nascido em 1888 em Saint Louis (Missouri), passaria pela universidade de Harvard, por aquele período se casaria em Hampstead, Bertrand Russell o convidaria para o jantar de seu novo casamento e até propõe deixar-lhe um quarto em sua casa. A esposa tem uma instabilidade mental, é extremamente frágil  e logo terá a primeira crise importante. No fim, naquele poema se pintava um homem jovem prematuramente velho que passeia pelos bairros marítimos de Boston. Um texto que se abre de um novo modo e esmagador: "Sigamos então, tu e eu / Enquanto o poeta no céu se estende / Como um paciente anestesiado sobre a mesa". A poesia moderna acaba de entrar no panteão e faz uma homenagem a Baudelaire, Laforgue e Apollinaire. Se nos diz que será "tempo para matar e criar...

Cinco livros e cinco filmes para conhecer Charles Bukowski

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Por Pedro Fernandes Bukowski divide a crítica em dois grandes grupos: o dos que admiram sua ousadia e capacidade de fazer da experiência de vida, com linguagem simples e despojada, uma literatura e o dos que assinalam que somente isso ou meter-se em experiências depravadas é insuficiente para se produzir algo que possa ser chamado de literatura. Embates à parte, o fato é que o escritor cada vez mais tem ganhado espaço entre os leitores dentro e fora de seu país; e isso é nada mais que produto de uma motivação convincente de que a literatura não está restrita a um uso delicado ou rebuscado da linguagem. Ou que a literatura, para ser convincente, deve ter por “vocação” não apenas à construção de situações imaginativas, mas a transposição da matéria vivida. Um ou outro lado deve antes de assumir uma posição negativa em relação ao autor e sua obra conhecer sobre. Por isso, esta postagem. Ela copia uma sequência com a sinopse sobre cinco livros e cinco filmes indispensáveis p...