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Alberto de Oliveira

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Da esquerda para a direita: Alberto Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, o trio do Parnasianismo Pode-se perceber, em Meridionais (1884), segundo livro de Alberto de Oliveira, a devoção ao “culto da forma”, sem que isso contudo significasse uma impassibilidade declarada e almejada. A diferença entre os parnasianos e os românticos (duas gerações entre as quais o poeta tem participação) é que a opção por abandonar um registro de natureza emotiva em prol de uma maior atenção para as sensações e impressões provocadas por algo real. Como diz o crítico Alfredo Bosi, o resultado é que os parnasianos deslocam “a tônica dos sentimentos vagos para a visão do real ”. Um exagero nessa tendência levou alguns poetas a adotarem uma postura de verdadeira adoração por objetos (vasos, flautas gregas, taças de coral, ídolos de gesso etc.). Alberto de Oliveira pode ser considerado dentre os parnasianos, um mestre na arte de compor poeticamente retratos, quadros, cenas, em que predomina uma ...

A lista negra de George Orwell

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Por José Miguel Oviedo Em 2003 cumpriu-se o centenário de nascimento do escritor inglês George Orwell, famoso sobretudo por seus romances A revolução dos bichos (1945) e 1984 (1949), duas notáveis alegorias (uma, satírica; a outra, aterradora) do totalitarismo que dominaria boa parte do século XX. Por essas obras e outras como Homenagem a Catalunha (1938), testemunho sobre sua experiência na Guerra Civil espanhola ao lado dos republicanos e de seu posterior desencanto pela repressão de trotskistas e anarquistas que se abriu no setor comunista, Orwell é reconhecido como um dos romancistas, ensaístas e jornalistas políticos de maior importância em seu tempo e mais influente no nosso. Soube ver os perigos da intolerância ideológica nos dois lados do espectro político e nos alertou sobre o que poderia ser o mundo do futuro – o que hoje vivemos – se não defendêssemos a liberdade e os valores democráticos. Mas, precisamente em 2003, em meio às celebrações e homenagens receb...

Luis Fernando Verissimo

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Semana dessas, Luis Fernando Verissimo apresentou seu mais novo romance em território de língua espanhola. O livro Borges e os orangotangos eternos , homenagem ao autor argentino Jorge Luis Borges, agora foi traduzido, depois de se encontrar nas prateleiras de outros países de língua estrangeira.  Pela ocasião, o escritor gaúcho citou o seu novo romance, Os espiões , cuja trama se passa no interior do Rio Grande do Sul; para ele é este o primeiro livro que autoencomendou — até então, diz, só escreveu para atender encomendas, uma observação que, certamente, tem a ver com a prodigiosa carreira desenvolvida nos jornais e periódicos brasileiros. E quantas encomendas! Sem contar Os espiões  foram mais de setenta obras publicadas e a criação de personagens que se fizeram famosas e fixadas no imaginário do leitor brasileiro como o Analista de Bagé ou a Velhinha de Taubaté.  Nascido em Porto Alegre, o escritor é filho, como entrega o sobrenome, de Erico Verissimo. Na...

Trecho censurado de Macunaíma

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Ilustração de Carybé para Macunaíma Manuel Bandeira teceu muitos elogios quando leu Macunaíma , sobretudo pela protuberância dos episódios picantes da obra. Mas, com medo da censura, Mário de Andrade fez um recorte do romance em que se era narrado, ao seu ver, circunstâncias que poderiam ser acusadas de pornográficas.  O recorte censurado descreve uma passagem do sexo de Macunaíma e Ci. Os cortes foram da versão original para a segunda edição da obra. Leia o trecho reproduzido aqui a partir da edição crítica da obra preparada por Telê Porto Ancona Lopez e publicada em 1988 pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina. * Um geito engraçado era enrolar a rede bem e no rolo elástico sentados frente a frente brincarem se equilibrando no ar. O medo de cair condimentava o prazer e as mais das vezes quando o equilíbrio faltava os dois despencavam no chão ás gargalhadas desenlaçados pra rir. Outras feitas Ci balançava sozinha na rede, estendida de atravessado. ...

“Eu não viajarei para Auschwitz”

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Por Pedro Fernandes Bem, leitor, confesso que minha consciência novamente me obriga a render matéria sobre um assunto que só pensei escrever apenas um artigo. Mas, o caso é forte. É daqueles, como diria uns, de rasgar a goela. Não desce de forma alguma. E calar-se parece consentir. Trata-se da novela Williamson, que discorri aqui noutro dia. Ele mesmo. O dito cujo mesmo que anda pregando aos quatro ventos que o Holocausto não existiu. Pois bem, esse mesmo volta à telinha de novo e de novo com a mesma história. Nesse vale a pena ver de novo, depois de uns imprensões fuleras de Ratzinger, que só convenceram a meio mundo de fanáticos de que ele está realmente preocupado com o caso, porque se realmente estivesse já teria feito o que João Paulo II fez, ou melhor, se se preocupasse com o caso sequer teria reabilitado o louco, Williamson afirmou, segundo o jornal Folha de São Paulo , à revista alemã Der Spiegel  que está disposto a rever as evidências históricas, mas que não vai visitar ...

Do poder da escrita

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Pedro Fernandes No princípio era o verbo - Bíblia, João, 1: 1-18 Uma folha branca. Ela é um desafio para escritor de qualquer nível vencido a cada momento em que novas palavras e idéias surgem para preenchê-la.  Vejo a escrita como um processo delicado. Através dela somos colocados diante situações que esperam ser resolvidas. Isso é o que chamo pensar com palavras.  Comparo escrever com entrar num mundo escuro e desconhecido. É um problema que nos traz satisfação e conhecimento. Agora mesmo é tudo breu. E a página se preenche com volteios, letra após letra, palavra a após palavra, formando uma ideia, uma situação. Já parou para imaginar o mundo como vivemos sem a escrita? Existiríamos até aqui?  Seríamos, muito provavelmente, um dos muitos elos perdidos como são os nossos antepassados de antes ou sem a escrita, aqueles que pouca coisa conhecemos e o pouco que conhecemos são de longas suposições.  Vejo a escrita como capaz de construir e erguer o universo que ...