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As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand

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Às vezes parece que o cinema, por alguma razão inexplicável, move-se em direção a algum tema específico e vários títulos de uma mesma época abordam universos semelhantes.  É o que aconteceu com o fim do sonho socialista e dos ideais de uma geração, explorado quase simultaneamente em Os Sonhadores  (2003), de Bernardo Bertolucci, nos alemães  Adeus, Lênin!  (2003) e Edukators  (2005), e em As Invasões Bárbaras , do canadense Denys Arcand, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e do prêmio de Melhor Roteiro em Cannes. O tema não é novo na obra de Arcand, que sempre tratou de fortes posicionamentos políticos e morais. As Invasões Bárbaras é, na verdade, a continuação de outros de seus filmes, O Declínio do Império Americano  (1986). Lá, um grupo de professores universitários, debatia sobre sexo e comportamento, em um discurso que deixava clara a opinião do cineasta sobre a decadência dos valores regidos pelo capitalismo. Dezessete ano...

Das metodologias

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Esta é a parte de um projeto de dissertação e de uma dissertação que, todos nós que enveredamos por essas ideias de academia, mais sofremos no momento da escrita. Ainda mais quando temos de justificar o óbvio e o ululante porque senão corre-se o risco de o trabalho nosso ser qualquer coisa, menos algo da ciência . Eu diria, para início de conversa, que todos manuais de fabricação caseira para textos acadêmicos (e olhe que lista é enorme) são falhos. E o acadêmico deveria começar já por aí a não depositar toda fé com eles. Alguns deles são totalmente cegos e mudos. E a função de muitos é criar protocolos de aproximação para com a materialidade de análise/leitura que, não rara vezes, castra os limites de amplidão do pesquisador. Cada trabalho acadêmico tem sim sua/s metodologia/s própria/s ainda que o princípio seja referendado por algumas das abordagens dispostas nos manuais; logo, a única certeza que possuímos é a de que os livros de metodologia devem ser reelab...

Sabor de amar, de Paulo de Tarso Correia de Melo

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Nota:  Recebi o contato sobre a apresentação do livro Sabor de amar , do escritor Paulo de Tarso Correia de Melo e, ao buscar mais informações sobre, encontrei com um texto assinado pela repórter Maria Betânia Monteiro publicado no caderno Viver , do jornal Tribuna do norte ; texto que reproduzo logo abaixo com um outro ajuste de revisão.   Tarso dispensa apresentações para os leitores, porque é um dos mais conceituados escritores do Rio Grande do Norte, com uma obra já consolidada. Falo pela boca do também poeta David Leite. Ao dizer isso, confesso minha ignorância de ainda não ter a oportunidade de ler sua obra. Apenas poemas esparsos que catei tão logo soube desse novo livro. Mas vindo isso da boca de um nome que desponta como um nome significativo para as letras do estado, com seu Incerto caminhar (l ivro este que tive o prazer de ler e comentá-lo aqui) não tenho dúvidas em repetir por minha voz o que disse David Leite. Aliás, é ele quem assina o prefácio desta no...

20th century writers: making the connections

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É o nome de um programa desenvolvido pela The Open University britânica; é o espécime mais recente – e um dos mais elaborados, além de visualmente atraente – de um novo animal na floresta das conversas sobre literatura. Trata-se de uma espécie ainda sem nome, até onde sei, mas a falta não parece ser um problema, uma vez que quase todo dia nasce uma criatura nova. Enquanto não vem o batismo, poderíamos chamar o bicho de Brinquedo Literário-Digital. 20th century writers: making the connections (“Escritores do século 20: fazendo as conexões”) é um complexo infográfico que apresenta uma lista de autores britânicos sentados em círculo, como ao redor de uma távola redonda, e rabisca na tela a partir de cada um, a um clique do mouse, um emaranhado multicolorido de linhas que apontam temas comuns, relações de amizade ou inimizade, formação, gêneros que praticaram etc. A brincadeira pode ser acessada aqui . * Via Toda Prosa.

Par perfeito, de Robert Luketic

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Por Pedro Fernandes O casal enche os olhos deles e delas, mas o filme é muito ruim. Só mais uma história de amor. Básica. Jen (Katherine Heigl), conhece o homem perfeito, Spencer (Ashton Kutcher). Ele bonitão, educado e inteligente. O cenário em que se dá o encontro: Nice, paraíso francês. O que Jen não sabe é que Spencer ganha a vida como matador de aluguel. E se o sonho dele é escapar dessa vida sossegada e o dela sair dessa vida sossegada e, fazendo jus a máxima de que os opostos se atraem, eles findam se casando. O casamento dos sonhos até que em uma manhã, quando se dá início um roteiro de perseguição: o casal descobre que é alvo de um golpe milionário. O filme que parecia findar por aí com os pombinhos felizes, torna-se de num labirinto muito mal armado (é bom que se diga) em que a vida dos dois acaba por se transformar num jogo de vida ou morte. E finda aí. A nível de enredo não devemos negar que Robert Luketic ensaia bem sair da rot...

A alegria de Saramago

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Por Inês Pedrosa José Saramago em Lanzarote. Foto: Ulf Andersen/Getty Images. Fonte: Revista BRAVO! Uma das grandes qualidades de José Saramago — morto aos 87 anos em 18 de junho passado - era o de nunca ter sofrido daquela doença que o crítico americano Harold Bloom definia como "a angústia da influência". Vivia as obras alheias — de há quinhentos anos ou de hoje - com o genuíno orgulho de quem, acima de tudo, se identifica com a grandeza das coisas belas. Se sofria de alguma coisa, era da alegria da influência. Como diria o professor e escritor português Eduardo Prado Coelho, não tinha medo de gostar. Começo esta memória projetiva de Saramago sob o signo da alegria, porque estou cansada das recorrentes acusações de pessimismo que lhe foram sendo feitas. Muitas e muitas vezes lhe perguntavam porque se indignava tanto, porque fazia questão de futurar em negativo, quando a vida se mostrava tão afável com ele. Saramago respondia desabridamente a estas provocações, ...