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As Novas cartas portuguesas 40 anos depois

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As três Marias. Juntas elas revolucionaram o estatuto do texto literário e do ser-mulher. Nos finais da década de 1960, Eugénio de Andrade publicou em edição bilingue sob o título de Cartas portuguesas , versão para Lettres Portugaises , publicado anonimamente por Claude Barbin, em 1669, e apresentado também como uma tradução, cinco cartas de amor de Mariana Alcoforado a um oficial francês. A jovem era freira e estava enclausurada no convento de Beja. Lisboa, 1971, Maria Isabel Barreno, já autora de Os outros legítimos superiores , Maria Teresa Horta , Minha senhora de mim , e Maria Velho Costa, Maina Mendes , decidiram escrever um livro a seis mãos. Como "espelho" as autoras tomaram a tradução de Eugénio de Andrade e escrevem Novas cartas portuguesas . As assinaturas das cartas nunca foram reveladas publicamente e a figura de Mariana tinha uma longa representação simbólica para o novo livro. Mulher abandonada, submissa, tomada por um discurso de paixão avassa...

Pelos cem anos da poesia de Augusto dos Anjos

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Por Pedro Fernandes Capa da 1ª edição de  Eu , de Augusto dos Anjos. Em 2012, a obra fecha um século de existência. A palavra para o poeta é material a ser instrumentalizado para a fundação de universos próprios – universos que correm ao lado do mundo comum, o enformam, conformam e deformam. Por isso, a palavra é sempre móvel e viva, ainda que pareça matéria inerte; inesgotável, ainda que pareça ter seu sentido cerrado num conceito em estado de dicionário; sempre livre, ainda que pareça matéria presa no papel. No caso de Augusto dos Anjos, a palavra adquire mobilidade, vivacidade, inesgotabilidade e liberdade da condição de oralidade e obtém a encenação e um tom vocal muito próprio. Não há como ler Eu – livro-enigma que fecha um século neste 2012 – sem que tenhamos na nossa frente uma boca deslocada do corpo que enuncia e encena a beleza verborrágica da palavra, toda ela pulsante e refigurada nos seus versos. Apropriar-se da leitura da poesia do paraibano é primeiro um exercí...

Memória de elefante, de António Lobo Antunes

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Por Pedro Fernandes Memória de elefante é o primeiro romance escrito por António Lobo Antunes ; foi publicado em 1979, depois de voltar de uma permanência na Guerra Colonial na África, experiência que irá perpassar como material temático boa parte da sua obra. É o primeiro romance de uma trilogia que continua com Os cus de Judas e Conhecimento do inferno ; os três, talvez se configurem como os mais importantes da carreira, não por razões estéticas, certamente, porque Lobo Antunes possui outros mais bem acabados romances (entre nós, é um autor ainda por se conhecer), mas esses três livros dizem a que veio o médico meter-se com a escrita. Os três são sucessos de crítica e inauguram em Portugal uma visão nada romântica da desenhada entre os daquele país sobre o que foram os anos de ocupação portuguesa nos territórios africanos. Não que estejam esses romances reduzidos a esse propósito, mas é o tema um dos mais caros à ficção contemporânea que se forma no pós-74.  O roman...

Branca de Neve e o caçador, de Rupert Sanders

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Por Pedro Fernandes Charlize Theron em cena como a rainha má. Seu papel convence e é responsável pelos melhores momentos de Branca de neve e o caçador . É lógico que nunca haveria de passar pela cabeça dos irmãos Grimm, os que primeiro registraram o conto da tradição oral europeia do século XIX, que a história pudesse se manter tão atual e capaz ainda de duas ressignificações como as que recebeu neste ano. A de agora, infinitamente superior à anterior, que trouxe a rainha má sob a bela interpretação de Julia Roberts e que comentei aqui . Também é a versão superior às que foram feitas por exemplo pelo Walt Disney, que, méritos à parte, saiu adocicando tudo quanto foi narrativa vista pelos olhos inocentes da cultura pop. E que não nos esqueçamos que as narrativas coletadas pelos Grimm nunca tiveram esse tom desenhado depois. O filme de Rupert Sanders parece não ter esquecido disso e conseguiu colocar na tela uma Branca de Neve com um tom muito próximo da violência psic...

Mais uma página da novela Kafka

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Franz Kafka, verão de 1906, quando se formou em Direito. Arquivo Klaus Wagenbach. Já havia comentado por aqui   sobre outros possíveis inéditos de Franz Kafka ainda fruto da decisão do amigo e editor Max Brod de não se desfazer dos papéis deixados pelo escritor, contrariando seu desejo. Se a desobediência de Brod beneficiou a nós leitores porque o escritor quando morreu só havia deixado alguns contos e uma novela publicados e hoje conhecemos dele mais que isso, por outro lado, formou-se uma história digna do próprio escritor tcheco. Ironicamente, Kafka previa esse imbróglio? Talvez todo escritor saiba da briga que pode causar entre herdeiros por causa de uns papéis valiosos. Mas, vamos lá. É que já entra para três anos que se descobriu os tais manuscritos de Kafka num apartamento em Tel Aviv. Eva Hoffe, no alto dos seus 70 anos e o estado de Israel se colocam num ringue pelos direitos aos papéis. O arquivo pode conter cartas, desenhos e, até manuscritos inéditos de Kaf...

Uma nova adaptação cinematográfica para Os miseráveis, de Victor Hugo

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Anne Hathaway caracterizada por Fantine na nova adaptação de Os miseráveis para o cinema. A adaptação mais recente para  Os miseráveis , de Victor Hugo, data de 1998. Antes, passou por uma série de outras releituras para a grande tela desde 1909, ano quando foi realizada a primeira versão cinematográfica, então dirigida por J. Stuart Blackton.  Agora, para finais de 2012, nos Estados Unidos, e fevereiro de 2013, no Brasil, o grande romance da literatura francesa volta às telas. O longa-metragem é dirigido por Tom Hooper, o mesmo diretor de O discurso do rei , e foi divulgado, por esses dias, o primeiro trailer.  A apresentação do livro de Hugo fecha um ano de ouro para o cinema. Não apenas porque relembra a altura os 150 anos do principal romance do escritor francês, como pela leitura inovadora proposta, já que a versão a ser apresentada agora é um musical com o repertório integral ao de 1985, quando foi montado na Broadway. Também foi em 2012 que o romance...