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As várias faces de “Alice no país das maravilhas” (5)

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O jovem Peter Newell. O trabalho Peter Newell de ilustrar Alice no país das maravilhas , de Lewis Carroll, não é um dos mais conhecidos no Brasil. Por aqui, dentre outras publicações do ilustrador estadunidense, estão dois livros editados pela Cosac Naify: O livro inclinado e O livro do foguete . Mas, as ilustrações de Newell para o já clássico inglês, aparecidas pela primeira vez em 1901, o coloca no seleto hall  dos que melhor ilustraram Alice . E, pela ocasião em que o livro foi publicado casou certa controvérsia entre leitores, acostumado que estavam com ilustrações mais convencionais, como as de John Tenniel. Peter Newell nasceu em 1862, nos Estados Unidos; “filho da guerra civil” naquele país. Passou boa parte de sua vida em McDonough, Illinos, e depois foi viver em Nova York, onde estudou artes no Art Students League.  Em 1884, abriu seu estúdio em Springfield, de onde saíram os seus trabalhos, ora inclinados para o tom humorístico, ora para o poético. Pela é...

Um inédito de João Cabral de Melo Neto e outras novidades em torno do poeta

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O poeta João Cabral de Melo Neto em cena do filme Liames, o mundo espanhol de João Cabral de Melo Neto , em 1979. Foto: Instituto Moreira Salles. Já desde 2007 que a obra de João Cabral de Melo Neto começou a ser integralmente reeditada. De lá para cá, já se somam 12 títulos publicados. O destaque nesta reedição, até o presente é a publicação póstuma Ilustrações para fotografias de Dandara , livro que dá contas de um álbum criado pelo poeta para matar as saudades da neta, quando era embaixador do Brasil no Senegal. É o João Cabral despido do rigor estético, mas ainda da escrita breve, mas agora, coloquial. Na época, sempre eram remetidas correspondências com fotos de Dandara, as quais motivavam o avô a logo compor versos para a neta. Em 1975, já com um material reunido num caderno e considerável, João Cabral despacha para o Brasil com o título de “Ilustrações para fotografias de Dandara”. Guardado como relíquia de família pela mãe, Inez, foi a própria Dandara quem decid...

O lance é leiloar

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Sabemos que é de desinteresse do Estado cuidar da memória do seu povo. Desde que o capital desenfreou-se para manutenção de outras ordens ou desde quando cresceu um interesse pelo novo, não sabemos precisar ao certo este lugar,  tem sido assim.  De modo que, há coisas que vão sendo vendidas pelos responsáveis no intuito de passar adiante, de preferência para as mãos de algum responsável que tome para si o interesse de preservação negado pelo poder público, ou não, talvez alguns só queiram mesmo, como se diz por aqui, fazer um pé-de-meia. Sim, o desinteresse não é apenas estatal. A vida no capitalismo também corrompeu os valores mais íntimos como o da memória.  Parece que é este um mercado sem crises. Recentemente, uma quantidade significativa de objetos pertencente a Oscar Niemeyer foi a leilão; algumas peças, como desenhos do arquiteto brasileiro, que chegaram facilmente às cifras dos R$ 200 mil. Poema de Fernando Pessoa escrito em língua inglesa e dirigido à af...

Pelo Dia do Desassossego, reler este “Memorial”

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Pedro Fernandes Ler o Memorial do convento , este monumento literário de José Saramago, escritor que chega aos 90 anos hoje, 16 de novembro, é ler a sua própria figura – assim me expressei hoje a tarde na minha página pessoal. A afirmativa não é vazia. Enquanto ia fazendo minha releitura do romance que fecha exatos 30 anos agora em 2012, e um dos mais célebres do Prêmio Nobel de Literatura (deixem que eu faça este breve parêntesis para dizer por aqui o que disse numa fala minha noutra ocasião, era uma comunicação no II Seminário Internacional de Artes e Literatura Barrocas, que se fosse elencar os principais romances de José Saramago, colocaria este Memorial , O ano da morte de Ricardo Reis , O evangelho segundo Jesus Cristo e Ensaio sobre a cegueira como os quatro momentos epifânicos de sua obra) vi notando pelas frases colhidas, aquelas de maior impacto à sensibilidade leitora, aqueles em que ficamos algum tempo parados pensando em como isso é possível ser dito por uma pes...

Meio século do Boom literário latino-americano que mudou os rumos da literatura de língua espanhola

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Na foto, três protagonistas do Boom: Vargas Llosa (com sua mulher Patricia), José Donoso (e sua mulher Pilar Serrano) e Gabriel Garcia Márquez com sua mulher, Mercedes Barcha. Foto: El País. 1962 foi um ano prodigioso para a literatura de língua espanhola. Naquele ano, no Chile, era realizado o Congresso de Intelectuais de Concepción e pela ocasião foram publicados oito livros que se tornariam elementares para a literatura contemporânea na América Latina. Dentre eles, O século das luzes , de Alejo Carpentier, A morte de Artemio Cruz , de Carlos Fuentes, A cidade e os cachorros , de Mario Vargas Llosa. Fiquemos apenas com estes três romances porque representam a gênese de três grandes escritores que se tornaram universais. Um deles, Vargas Llosa, recebedor do mais importante prêmio literário, o Nobel. É por essa ocasião, vista como o ponto de partida para se criar, no mundo, um olhar mais acurado com o produzido nas letras da América Latina ou mesmo revelar nomes e de...

Um poema inédito de José Saramago

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Por Pedro Fernandes Foto: Marcelo Vigneron Em julho de 2011, o caderno-revista 7faces publicou uma edição eletrônica em homenagem à face menos conhecida de José Saramago, a do poeta. Agora, às vésperas do aniversário de 90 anos do escritor que será comemorado amanhã, 16 de novembro, mas que os eventos que dão contas data já estão acontecendo em todas as partes do mundo desde outubro, damos com um poema inédito do escritor.  Antes do poema, convém lembrar da historieta contada pelo jornal O mirante . É José Miguel Correia Noras quem assim comenta: numa sessão de apresentação do Memorial do convento , em 10 de dezembro de 1982, em Santarém, Saramago é interpelado - “Como se caracteriza como poeta? Identifica-se mais como poeta ou como romancista?” É sabido que, até aquela altura, só sabíamos de Saramago romancista pela publicação de Terra do pecado  - romance renegado até 1995 -, Manual de pintura e caligrafia e Levantado do chão ; mas já havia o escritor publica...