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A obra definitiva. Cesário Verde por Ricardo Daunt

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Para os leitores de poesia portuguesa ou os amantes da poesia de Cesário Verde e para a produção literária esta é, sim, uma grande notícia. O trabalho extenso de Ricardo Daunt sai agora em livro e revela o poeta português por inteiro. Na certeza de que talvez não haja mais o que se descobrir em termos de materiais alguma coisa que seja capaz de por em xeque o que já se foi pesquisado sobre Cesário, o livro traz com subtítulo “Texto definitivo”; aí estão reunidos toda poesia verdiana, cartas – que não são tantas – e detalhes biográficos agrupados numa minuciosa tábua cronológica. A primeira antologia de Cesário Verde que reúne a poesia escrita entre 1873 e 1886 foi organizada por Silva Pinto e publicada em 1887 num tiragem íntima, apenas para amigos do escritor; a edição pública só veio sair cinco anos depois. Os 22 poemas que se apresentam em O livro de Cesário Verde foram agrupados em duas seções, “Crise romanesca” e “Naturais” – divisão que obedeceu indicações do próprio au...

Ciclo de palestras em torno de grandes clássicos da literatura universal

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Entre março e junho próximos, grandes obras literárias, de escritores como Machado de Assis, Victor Hugo e Dostoiévski são o foco de um ciclo de palestras que ocorre a partir do próximo sábado na biblioteca Mário de Andrade, na região central de São Paulo. Serão 16 palestras no total que serão conduzidas por professores, tradutores e escritores. O tema do ciclo é o "Romance de formação: caminhos e descaminhos do herói" e tem como curadores os professores Marcus Vinicius Mazzari, professor de teoria literária da Universidade de São Paulo (USP) e Murilo Marcondes de Moura, professor de literatura brasileira da USP. Entendendo que o tema da "formação" indivíduo seja de relevância no âmbito da produção escrita de vários romancistas o ciclo quer pensar e discutir a questão a partir de uma perspectiva histórica e literária. Foram selecionados “clássicos de primeira linha” e convidados especialistas importantes na leitura das obras que se desdobrarão na mis...

Musicar Manoel de Barros

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Por Pedro Fernandes Manoel de Barros e o músico Márcio de Camillo. Foto: Arquivo pessoal de Márcio de Camillo. Não é para qualquer um o trabalho de musicar um poema. Alguns que são gerados para esse fim, outros nem tanto, que o diga João Cabral de Melo Neto, embora seja quase natural deste gênero literário que, com ou sem rima, longo ou curto, ‘portar’ certa musicalidade. Sim, e mesmo a poesia áspera de Melo Neto foi parar nas cifras da música.  Há resultados que não agradam ao ouvido. Mas, entre nós, a lista de trabalhos notáveis é generosa. Autores como José Miguel Wisnik e Caetano Veloso, por exemplo, já compuseram canções a partir de poemas Gregório de Matos; Raimundo Fagner musicou Florbela Espanca, Cecília Meireles, Ferreira Gullar; ou ainda Adriana Calcanhotto com Waly Salomão e tantos outros. Difícil é não existir alguém da música, neste país, que não tenha ido beber na inesgotável fonte literária. Agora, outro músico amplia a lista: Márcio de Camillo. Depois de u...

Claraboia, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes Edição brasileira de Claraboia . Desde que foi publicado, em 2011, o livro já teve mais de cinco traduções estrangeiras. Resisti ao livro durante dois anos. Editado em 2011 no Brasil pela Companhia das Letras e desde então já  na minha prateleira de quase todos os livros de Saramago, digo que não fui eu quem venceu Claraboia , mas Claraboia que me venceu. Resisti o quanto pude por uma razão sincera já confessada tantas vezes ao longo desses dois anos entre os mais próximos. Sei que o bom da leitura é sim o da releitura e alguns romances do escritor já me passaram pelas mãos em releituras pelo menos seis, sete vezes (sem exageros, porque nada mais natural para quem se dedica estudar a obra de um determinado escritor); mas pensar em entrar na livraria e não saber que dali em diante não chegará mais novidades do seu autor favorito é um vazio e tanto. Sei que há planos ainda de que até o fim desse ano seja editado as poucas cinquenta páginas escritas pa...

Quando a poesia vai buscar diálogo com a pintura – Carlos Drummond de Andrade e Candido Portinari

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Frontispício de  Quixote,  de Carlos Drummond de Andrade. O livreto foi editado no Rio de Janeiro em 1972. Entre 1956 e 1961, Candido Portinari produziu uma série com vinte e duas gravuras cujo foco eram duas personagens da literatura de Cervantes - D. Quixote e seu companheiro Sancho Pança. Quase vinte anos depois, em 1972, pela passagem do aniversário de 70 anos, Carlos Drummond de Andrade tomando por base as gravuras feitas pelo amigo pintor, lançou um livreto com 21 poemas. No ano seguinte, os poemas foram agrupados sob o título de “Quixote e Sancho, de Portinari” e publicados no livro As impurezas do branco . A construção dos poemas se confirma como uma leitura de dois vieses: o poeta ora olha o texto clássico do escritor espanhol, ora o conjunto da série de Portinari. A dinâmica das visões entrelaçadas no texto poético produz uma renovação nas duas imagens do Quixote, a do romance e a da pintura. Os desenhos foram todos feitos sobre cartão utilizando ape...

Toda a poesia, de Paulo Leminski

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Por Pedro Fernandes Paulo Leminski. Foto: Dico Kremer Paulo Leminski. Não é necessário revirar muito a web para ler e saber sobre o poeta nem é preciso ir muito longe também para encontrar um verso, uma frase, um poema, qualquer coisa que seja de sua autoria. Confirma-se hoje o que há muito nunca se suspeitou: Leminski está já entre os grandes poetas brasileiros. Dizemos isso porque o escritor foi apresentado na cena literária como sendo fazedor de uma literatura menor, isso ao lado de nomes como Ana Cristina Cesar, Chacal, Cacaso, entre outros. O grupo, entretanto, contribuiu para ‘desinfetar’ o lugar do poema no Brasil. É que, mesmo depois da virada modernista quando a poesia ganhou outras feições e saiu do lugar do empolado, que fazer verso ainda era coisa de ‘iluminado’; a poema ainda era o texto dado para poucos e sua circulação feita em espaços próprios. Noutras palavras, despojou-se o verso, mas o poema permaneceu de paletó e gravata – estamos pensando aqui em nome...