Postagens

Em breve tudo será mistério e cinza, de Alberto A. Reis

Imagem
Por Pedro Fernandes Desde o modernismo e sua sede pela novidade das vanguardas que a literatura brasileira entrou por uma seara que nunca conseguirá escapar e toda efervescência de então deixará depois um rastro de cinza responsável, já se vê, por uma dormência na produção romanesca, preocupada esta com a capacidade de romper a qualquer custo (e muitas vezes de qualquer maneira) com a forma. Renderam poucos escritores que pelejaram pelo caminho iniciado com José de Alencar e Machado de Assis, e alguns alcançaram o êxito devido, mas outros terão caído no esquecimento, sufocado pela ideia de incapacidade em fazer-se romancista. Até que, contemporaneamente, desenvolveu-se o que costumo chamar de uma estética da violência; integralmente urbanóide, o escritor nato, pela nova fisionomia é aquele que consegue tratar exclusivamente da periferia, de preferência ao sabor de muito sangue e putaria, pouco conflito psicológico, que nunca fomos muito disso, e só. É evidente que minha qu...

O tango perdido de Borges

Imagem
Em outubro de 1965, Jorge Luis Borges foi durante quatro tardes a um lugar não muito grande e não identificado de Buenos Aires para falar sobre o tango. Já era admirado em todo o mundo; já havia perdido a visão e aprendido a compor textos de memória. Ainda não havia se casado e nem se divorciado de Elsa Astete, coisas que ocorreram no instante de três anos; nem as universidades (Oxford e Sorbonne, entre outras) rivalizavam por fazê-lo doutor honoris causa. As conferências estavam perdidas em algum lugar do passado. Quase nada se sabia sobre elas e por isso o mais provável é que haviam se perdido. Até que em 2002, o escritor Bernardo Atxaga recebeu umas fitas cassetes de um amigo que por sua vez havia recebido de outro amigo com uma mensagem de que aquele arquivo pertencia ao autor de Ficções. E era Borges. Confirmado primeiro pela companheira María Kodama que depois de escutar vários fragmentos, disse ser, sim, a voz do escritor, “a menos que haja algum imitador perfeito de ...

Boletim Letras 360º #30

Imagem
Iniciamos esse boletim reforçando alguns convites que postamos ontem, 13/09, em nossa página no Facebook: o primeiro deles é que finda na próxima sexta-feira as inscrições para concorrer a um exemplar de Vidas , o novo livro de Paulo Leminski publicado pela Companhia das Letras. Para isso, basta ir aqui e seguir o que diz o regulamento.  Depois, para dizer que pela segunda vez consecutiva o Letras concorre ao Prêmio TOP BLOG. E, claro, como bom leitor e amigo deste espaço, pedir o seu voto que pode ser dado tanto pelo Facebook quanto pelo e-mail. Basta clicar no banner à sua esquerda e pronto. Recados dados, vamos saber o que foi notícia esta semana em nossa página no Facebook? Tela inédita de Van Gogh descoberta nesta semana na Holanda. Leia mais no Boletim. Segunda-feira, 09/09 >>> Holanda: Identificada uma obra perdida de Van Gogh (imagem de abertura) O Museu Van Gogh admite que identificou uma pintura perdida de Vincent Van Gogh, que passou anos e...

A solidão imortal do vampiro (I)

Imagem
Por Márcio de Lima Dantas Cena  Nosferatu , de F. W. Murnau (1922). Lua: ergue-se ao crepúsculo            O mito do vampiro encontrou no final do séc. XX e início do XXI um substrato socioantropológico que o fez não apenas se revigorar, mas, sobretudo, engendrar novos arranjos e adquirir uma feição com contornos extremamente marcados, integrando, em definitivo, o conjunto dos principais mitos que constelam o patrimônio imagético do ocidente. Com efeito, o onirismo do mito do vampiro foi bastante tonificado nos últimos cem anos. Revigorado e modalizado de diversas maneiras e em vários meios, permaneceu preso à aura simbólica da lenda codificada na Transilvânia (em torno do séc. XV) e recriada literariamente na obra de Bram Stocker (séc. XIX). Sem dúvida, o vampiro e suas imagens encontram-se impressos na geografia física e inconsciente, fincando-se como um dos mais populares dentre a inumerável plêiade de seres imaginários que “at...

Os amantes passageiros, de Pedro Almodóvar

Imagem
Todos os atores principais reunidos num clique. Os amantes passageiros , de Almodóvar é um retorno do diretor espanhol ao melhor dos seus trabalhos. À primeira vista poderá parecer que deveremos estar diante de uma comédia pastelão; um filme com cara de produção barata regada a um humor escrachado. É bom ficarmos apenas com a segunda impressão. Não se pode zombar de quem tem o pleno domínio sobre aquilo que faz. E mesmo que se desvincule o nome de Pedro Almodóvar do filme, ainda assim sobrarão considerações eficazes para dizer que não está o telespectador perdendo noventa minutos de seu precioso tempo para ver uma coisa qualquer. É evidente que há momentos um tanto fracos da narrativa, como se parecesse estarmos diante de um diretor que quis esticar ao máximo uma cena para enfim alcançar o limite de tempo para um longa-metragem. O que, entretanto, não é bem o caso. Também quem está adaptado às últimas produções do diretor espanhol, como o surreal A pele que habito ou trab...

Ruben G. Nunes e seu admirável livro novo

Imagem
Por Thiago Gonzaga Detalhe da capa de O ponto oco , de Ruben G. Nunes, a partir de desenho do artista plástico Marcos Guerra. “O homem tem de se inventar todos os dias” Jean-Paul Sartre Carioca radicado em Natal, Ruben Guedes Nunes, Oficial da Marinha, veio residir na cidade potiguar em 1960 já como 1º Tenente, na Base Naval. E criou raízes, enveredando pela literatura, em estreia com o livro de poemas, Tempos Humanos  (1971) prefaciado por Câmara Cascudo, que exalta a beleza do trabalho literário do jovem escritor. Nos anos 70, Ruben G. Nunes, como passou a assinar-se, dá início a sua saga de ganhador de concursos literários, ao obter duas menções honrosas no Prêmio Câmara Cascudo de 1978 e Prêmio Fundação José Augusto de 1979. Ainda nessa década foi um dos premiados no concurso 5 Contistas Potiguares, promovido pela Fundação José Augusto. Porém, é no início dos anos 80 que o escritor dá um salto significativo na sua produção literária, e entra p...