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Helena e os entremundos da leitura

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Por Lee Pontes José Ferraz de Almeida Júnior. A leitura . 1892. O “mundo do texto” e o “mundo em que vive o leitor” não são faces da mesma moeda,  entretanto,  podemos  entender  ou  pensar  neles  como espelhos colocado um ao lado do outro, no qual o leitor os observa e os interpreta. Dessa observação ou dessa leitura dupla emerge o “mundo da leitura”, formado pela oposição entre confrontar o “mundo do texto” e o “mundo do leitor”. O “mundo do texto” cria livremente as relações por observação e criação linguística, em que os signos passam a funcionar como elemento de ligação entre o mundo composto na obra e o mundo do leitor.  Ou seja, pela ação  de  ler,  o  leitor  busca  na  sua  experiência  e vivência remontar aquilo disposto na superfície linguística. Tal relação  entre  linguagem e  representação  nunca  foi  simples  e  sem conflitos,...

Dom Quixote visto por Thomas Mann

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Por Cecília Dreymüller Dom Quixote e Sancho Pança, por Damião Martins (detalhe) Travessia marítima com Dom Quixote é um ensaio esplêndido, ou melhor dizendo, folhetim esplêndido, escrito de forma agradável para as páginas literárias de um periódico de Zurique, em que Thomas Mann comenta suas impressões de leitura durante uma travessia pelo Atlântico. O texto possui inclusive algumas tintas novelescas quando se dedica às passagens sobre viajante escocês cuja conduta inapropriada – hospeda-se na primeira classe, mas desce a fim de socializar-se com os passageiros da terceira – choca com o sentido estrito de casta de Thomas Mann: “Alguém tem que saber a qual ambiente pertence”. O que se apresenta como comentário improvisado do Quixote , estruturado ao modo de um diário de viagem, corresponde, não obstante – como descobriram os diários –, a um estudo minucioso do clássico e suas possíveis fontes, para o qual o ilustre viajante se documentou a fundo e consultou autoridad...

Alberto da Costa e Silva

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Alberto da Costa e Silva faz o trabalho de resgatar a memória de África com arte e elegância. É um poeta que está a escrever. As palavras são do escritor moçambicano Mia Couto em reação a escolha do nome do brasileiro para o Prêmio Camões 2014. Desde 2007 que acompanhamos ano a ano os galardoados com a honraria maior das literaturas de expressão portuguesa. E é sempre um privilégio dar com nomes aparentemente desconhecidos – principalmente quando são de figuras que se encontram no quintal de nossa casa, como é o caso de Alberto da Costa e Silva. À exceção de João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010), Dalton Trevisan (2008) e o próprio Mia Couto (2013), os nomes desse intervalo de tempo eram nomes por conhecer. Alberto da Costa e Silva é, dos nomes aqui mencionados, o de maior maturidade literária e possui como elemento para corroborar essa conclusão sua própria obra que se espraia entre a poesia, o ensaio, o memorial e o trabalho acadêmico. Se o ofício da poesia rep...

Boletim Letras 360º #67

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Como pode um desenho valer tanto? Tin-tin  bateu novo recorde em leilão. Mais informações ao longo deste boletim. Reprodução do papel que foi a leilão esta semana. Para que ninguém seja pego de surpresa e também para ir alimentando sua sorte desde já, é para breve a próxima promoção no Letras . Estejam atentos, portanto! Há muito que devemos essa e, lembrem-se que, tardamos, mas não falhamos. Esta semana, por aqui, foi de muito trabalho; foi de textos excelentes no blog; foi de notícias muito boas nas redes sociais – a lembrar mais um galardão do Prêmio Camões para um escritor brasileiro – enfim, para não perder de vista o que foi notícia, o já tradicional BO Letras 360º. Boas leituras! Segunda-feira, 26/05 >>> Inglaterra: Ouvir J.R.R. Tolkien Protegida por um fã, uma fita contendo um discurso perdido do escritor J.R.R. Tolkien está em processo de restauração para ser liberada ao público. A fita, que estava há 20 anos guardada no acervo do col...

Paz de Espírito

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Por Rafael Kafka Essa é mais uma crônica que começa citando Sartre. Fazer o quê se desde um pouco antes de começar a escrever no Letras eu já estava imerso no existencialismo como uma forma de cura para os meus problemas? Peço perdão aos meus leitores. Um dos livros dele mais interessantes lidos por mim foi As Palavras. Creio nunca ter falado desse livro em uma resenha especificamente, mas vivo a citá-lo em diversos textos por conta da retomada que Sartre faz de sua infância. Algumas pessoas, como Nelson Rodrigues, não acreditam na forma como o autor de O Ser e o Nada  desenvolve a reconstrução de sua infância. Para elas, aquilo é um personagem criado pelo existencialista para justificar o seu modo de ser. Apesar de ter ficado abismado com uma argúcia de pensamento muito assustadora para mim em uma criança de seis anos de idade, confesso que o retrato do jovem Jean-Paul Sartre muito me tocou. Mesmo sendo um livro curto, As Palavras consegue ser intenso e memoráv...

Refém da paixão, de Jason Reitman

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Kate Winslet e Josh Brolin em cena de Refém da paixão , filme que faz um retorno a era de ouro dos romances em Hollywood. O trabalho de Jason Reitman, entretanto, não é lá essas coisas. Depois de Amor sem escalas , filme sobre o qual deixamos algumas notas aqui , e de Juno , o trabalho mais bem elaborado e aceito positivamente pela crítica, Reitman mantém-se numa dura linha de decaída desde a apresentação de Jovens adultos . Ainda assim, Refém da paixão é um filme mediano, recupera uma era de Hollywood para os romances açucarados, e merece um pouquinho da atenção do público – principalmente os interessados em se soltar da rotina e preencher o tempo com um divertimento , mesmo não sendo esta obra uma comédia. Pelo contrário, consegue criar uma atmosfera de tensão permanente desde o início até o fim da narrativa, estando, portanto, mais para um trihller com pitadas de romance. O estilo de Reitman com este filme é sisudo.  Não é uma produção com enredo complexo ou pl...