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Casa das máquinas, de Alexandre Guarnieri

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por Pedro Fernandes Se esta fosse uma fala que tivesse oportuno interesse em servir de matéria para outro tipo de escrita que não esta do blog – texto que sempre tomo cuidado de não chamar de resenha dado as limitações de tempo e espaço numa apreciação mais profunda das leituras – bem poderia suar mais para escrever uma leitura que valha para a dimensão de Casa das máquinas , livro do poeta Alexandre Guarnieri publicado em 2011. Poderá ser ledo engano, mas é este um conjunto de poemas escritos pela letra da maturidade e com o cuidado e o zelo com a palavra a modo do que fizeram os nomes da poesia concreta e toda a tradição brasileira da objetividade verbal. Alexandre Guarnieri se mostra ser, ao menos com este título, o de uma nova gênese vocal na poesia brasileira, herdeiro nato da casa de onde vieram nomes como João Cabral de Melo Neto, os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Ferreira Gullar ( nos tempos em que foi um grande poeta ), entre outros; nomes com os quais...

Nebraska, de Alexander Payne

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Por Pedro Fernandes Nebraska bebe na fonte movie roads . A persistência de Woody com a ideia de que ganhou um milhão de dólares é o motivo e o impulso para a viagem a Lincoln, em Nebraska, para o resgate do prêmio. Uma fixação que aos leitores de literatura só o farão lembrar do Dom Quixote, de Cervantes – ainda mais porque essa personagem é um velho, de passado incógnito (ao menos para os filhos) e tido pela família com alguém que já bate bem das ideias. Se um dos filhos tem interesse de apressar a internação do pai num asilo, o outro, de condição desajeitada e em profunda crise no relacionamento, decide, qual Sancho, fazer as vezes de guia no resgate desse suposto um milhão. Talvez movido pelo impulso de sair da mesmice onde está encerrado, satisfazer os gostos do pai como se a realização de um último desejo dele, ou mesmo, como o próprio David a certa altura da viagem discorre, tentar aproximar-se mais do pai, este que, à medida em que se desenvolve o itinerário fica...

Helena e os entremundos da leitura

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Por Lee Pontes José Ferraz de Almeida Júnior. A leitura . 1892. O “mundo do texto” e o “mundo em que vive o leitor” não são faces da mesma moeda,  entretanto,  podemos  entender  ou  pensar  neles  como espelhos colocado um ao lado do outro, no qual o leitor os observa e os interpreta. Dessa observação ou dessa leitura dupla emerge o “mundo da leitura”, formado pela oposição entre confrontar o “mundo do texto” e o “mundo do leitor”. O “mundo do texto” cria livremente as relações por observação e criação linguística, em que os signos passam a funcionar como elemento de ligação entre o mundo composto na obra e o mundo do leitor.  Ou seja, pela ação  de  ler,  o  leitor  busca  na  sua  experiência  e vivência remontar aquilo disposto na superfície linguística. Tal relação  entre  linguagem e  representação  nunca  foi  simples  e  sem conflitos,...

Dom Quixote visto por Thomas Mann

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Por Cecília Dreymüller Dom Quixote e Sancho Pança, por Damião Martins (detalhe) Travessia marítima com Dom Quixote é um ensaio esplêndido, ou melhor dizendo, folhetim esplêndido, escrito de forma agradável para as páginas literárias de um periódico de Zurique, em que Thomas Mann comenta suas impressões de leitura durante uma travessia pelo Atlântico. O texto possui inclusive algumas tintas novelescas quando se dedica às passagens sobre viajante escocês cuja conduta inapropriada – hospeda-se na primeira classe, mas desce a fim de socializar-se com os passageiros da terceira – choca com o sentido estrito de casta de Thomas Mann: “Alguém tem que saber a qual ambiente pertence”. O que se apresenta como comentário improvisado do Quixote , estruturado ao modo de um diário de viagem, corresponde, não obstante – como descobriram os diários –, a um estudo minucioso do clássico e suas possíveis fontes, para o qual o ilustre viajante se documentou a fundo e consultou autoridad...

Alberto da Costa e Silva

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Alberto da Costa e Silva faz o trabalho de resgatar a memória de África com arte e elegância. É um poeta que está a escrever. As palavras são do escritor moçambicano Mia Couto em reação a escolha do nome do brasileiro para o Prêmio Camões 2014. Desde 2007 que acompanhamos ano a ano os galardoados com a honraria maior das literaturas de expressão portuguesa. E é sempre um privilégio dar com nomes aparentemente desconhecidos – principalmente quando são de figuras que se encontram no quintal de nossa casa, como é o caso de Alberto da Costa e Silva. À exceção de João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010), Dalton Trevisan (2008) e o próprio Mia Couto (2013), os nomes desse intervalo de tempo eram nomes por conhecer. Alberto da Costa e Silva é, dos nomes aqui mencionados, o de maior maturidade literária e possui como elemento para corroborar essa conclusão sua própria obra que se espraia entre a poesia, o ensaio, o memorial e o trabalho acadêmico. Se o ofício da poesia rep...

Boletim Letras 360º #67

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Como pode um desenho valer tanto? Tin-tin  bateu novo recorde em leilão. Mais informações ao longo deste boletim. Reprodução do papel que foi a leilão esta semana. Para que ninguém seja pego de surpresa e também para ir alimentando sua sorte desde já, é para breve a próxima promoção no Letras . Estejam atentos, portanto! Há muito que devemos essa e, lembrem-se que, tardamos, mas não falhamos. Esta semana, por aqui, foi de muito trabalho; foi de textos excelentes no blog; foi de notícias muito boas nas redes sociais – a lembrar mais um galardão do Prêmio Camões para um escritor brasileiro – enfim, para não perder de vista o que foi notícia, o já tradicional BO Letras 360º. Boas leituras! Segunda-feira, 26/05 >>> Inglaterra: Ouvir J.R.R. Tolkien Protegida por um fã, uma fita contendo um discurso perdido do escritor J.R.R. Tolkien está em processo de restauração para ser liberada ao público. A fita, que estava há 20 anos guardada no acervo do col...