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Passe de letra

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Por Paulo Mendes Campos Mário Filho conta no  Romance do Futeboluma partida histórica na qual o poeta Augusto Frederico Schmidt tomou parte, esforçadamente, mas em vão.  Em crônica antiga, Rubem Braga descreve a manhã de sol que levou às areias da praia escritores de Copacabana e Ipanema, uns contra os outros.  Também tomei parte no hilariante cotejo, no time de Copacabana. Aníbal Machado revelou-se um jogador impetuoso (foi extrema do Clube Atlético Mineiro); Vinícius de Moraes, platônico de bola, sentiu logo o menino e foi fazer companhia às moças; o atual Embaixador Lauro Escorel foi um escolástico inútil; Di Cavalcanti, esfuziante goleiro, dizia sempre que as bolas haviam passado por cima do inexistente travessão; o próprio Braga era um zagueiro tontíssimo, porém valente. O melhor jogador em campo, um médico de óculos, calvíssimo, entrou de enxerto, sendo amigo de Aníbal; foi nele que o Braga acertou uma de suas traulitadas, dizendo: “Para...

Cão como nós, de Manuel Alegre

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Por Pedro Belo Clara Na edição quinzenal desta coluna apresenta-se uma das obras que, sem margem para dúvida, mais vendas alcançou no historial recente do autor em causa. De facto, a conquista da vigésima quinta edição em pouco mais de dez anos após o seu lançamento, traduzindo-se num volume de vendas superior a cem mil exemplares (tendo em conta as limitações do mercado português, os números são bastante satisfatórios), comprova a evidência: o presente trabalho assume-se como uma das obras mais bem sucedidas deste famigerado autor. Nascido em Águeda, no ano de 1936, Manuel Alegre é uma personalidade multifacetada da sociedade portuguesa. Destacado desportista durante a sua juventude, alcançou o honroso título de campeão nacional de natação. No entanto, o seu incessante combate contra as ditatoriais premissas do regime fascista que no país então imperava contribuiu, e muito, para o início da vida política do autor. Em 1963 foi preso pela polícia do estado (PIDE). No ano ...

Boletim Letras 360º #68

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Raridade: Vanessa Bell e Virginia Woolf, irmãs e amigas de longa data. Essa relação é motivo para um documentário em fase de preparação pela BBC inglesa. Mais informações ao longo deste boletim. Mais um fim de semana! Mais um boletim! Estaremos com programação especial no período da Copa do Mundo ou a Copa das Copas. Já havíamos feito um prenúncio do que maquinávamos. Os leitores saberão nesta semana sobre essa movimentação. Mas, só adiantamos que teremos leituras de Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues, José Lins do Rego, Ruy Castro, entre outros. Também nesse período estaremos em campo com uma seleção de títulos a serem ofertados aos nossos leitores numa promoção muito bacana! Estejam atentos, que o movimento é grande! Segunda-feira, 02/06 >>> Portugal: José Saramago, eu te dedico... A revista portuguesa Sábado apresenta em sua edição 526 uma reportagem acerca das dedicatórias deixadas por amigos de José Saramago em livros que integram a bibliot...

Casa das máquinas, de Alexandre Guarnieri

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por Pedro Fernandes Se esta fosse uma fala que tivesse oportuno interesse em servir de matéria para outro tipo de escrita que não esta do blog – texto que sempre tomo cuidado de não chamar de resenha dado as limitações de tempo e espaço numa apreciação mais profunda das leituras – bem poderia suar mais para escrever uma leitura que valha para a dimensão de Casa das máquinas , livro do poeta Alexandre Guarnieri publicado em 2011. Poderá ser ledo engano, mas é este um conjunto de poemas escritos pela letra da maturidade e com o cuidado e o zelo com a palavra a modo do que fizeram os nomes da poesia concreta e toda a tradição brasileira da objetividade verbal. Alexandre Guarnieri se mostra ser, ao menos com este título, o de uma nova gênese vocal na poesia brasileira, herdeiro nato da casa de onde vieram nomes como João Cabral de Melo Neto, os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Ferreira Gullar ( nos tempos em que foi um grande poeta ), entre outros; nomes com os quais...

Nebraska, de Alexander Payne

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Por Pedro Fernandes Nebraska bebe na fonte movie roads . A persistência de Woody com a ideia de que ganhou um milhão de dólares é o motivo e o impulso para a viagem a Lincoln, em Nebraska, para o resgate do prêmio. Uma fixação que aos leitores de literatura só o farão lembrar do Dom Quixote, de Cervantes – ainda mais porque essa personagem é um velho, de passado incógnito (ao menos para os filhos) e tido pela família com alguém que já bate bem das ideias. Se um dos filhos tem interesse de apressar a internação do pai num asilo, o outro, de condição desajeitada e em profunda crise no relacionamento, decide, qual Sancho, fazer as vezes de guia no resgate desse suposto um milhão. Talvez movido pelo impulso de sair da mesmice onde está encerrado, satisfazer os gostos do pai como se a realização de um último desejo dele, ou mesmo, como o próprio David a certa altura da viagem discorre, tentar aproximar-se mais do pai, este que, à medida em que se desenvolve o itinerário fica...

Helena e os entremundos da leitura

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Por Lee Pontes José Ferraz de Almeida Júnior. A leitura . 1892. O “mundo do texto” e o “mundo em que vive o leitor” não são faces da mesma moeda,  entretanto,  podemos  entender  ou  pensar  neles  como espelhos colocado um ao lado do outro, no qual o leitor os observa e os interpreta. Dessa observação ou dessa leitura dupla emerge o “mundo da leitura”, formado pela oposição entre confrontar o “mundo do texto” e o “mundo do leitor”. O “mundo do texto” cria livremente as relações por observação e criação linguística, em que os signos passam a funcionar como elemento de ligação entre o mundo composto na obra e o mundo do leitor.  Ou seja, pela ação  de  ler,  o  leitor  busca  na  sua  experiência  e vivência remontar aquilo disposto na superfície linguística. Tal relação  entre  linguagem e  representação  nunca  foi  simples  e  sem conflitos,...