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Cervantes e Shakespeare não morreram num mesmo dia

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O Dia Internacional do Livro é comemorado no dia 23 de abril porque nesse dia, em 1616, morreram os dois maiores escritores da literatura universal: Miguel de Cervantes e William Shakespeare. Mas essa coincidência é tão errônea como a maioria das teorias sobre os paralelismos entre as suas vidas e obras. Muitos especialistas ao longo da história têm comparado e encontrado semelhanças entre Dom Quixote e Hamlet ou  Rei Lear , entre Sancho e Falstaff, na duvidosa mescla de gêneros que os dois gênios se utilizaram ou simplesmente em sua contemporaneidade de vida e de morte. Mas, na verdade, as semelhanças entre eles são escassas. Muito escassas. O erro mais difundido é, certamente, o da data de morte dos dois autores. Toda a web  está repleta dele, de ponta a ponta. E, claro, a própria razão para a data celebrada no dia 23 de abril reforça o tom verídico da mentira. Sempre foi sustentado que os dois morreram num 23 de abril, em 1616, mas, nem um nem outro morr...

A caixa, uma poética da vida e da obra de Günter Grass

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Por Alfredo Monte Em 1998, maravilhado com a riqueza mirabolante da narrativa de Um campo vasto (1995), como acontecera tantas vezes na leitura do  recém-falecido Günter Grass ( O tambor , 1959; Anos de cão , 1963; O linguado , 1977; A ratazana , 1986), eu terminava uma  resenha, para a “A Tribuna” de Santos, afirmando peremptoriamente: «justiça seja feita e que Grass seja o próximo Nobel»; desejo pessoal metamorfoseado em vaticínio: no ano seguinte, ele foi anunciado como vencedor do prêmio, devido à «enorme tarefa de rever a história contemporânea lembrando os despojados e esquecidos, as vítimas e os perdedores, e as mentiras que as pessoas querem esquecer porque um dia acreditaram nelas». Na década seguinte, Nas peles da cebola (2006) representou uma reviravolta na reputação do escritor alemão. Ali se revelava alguém que, afinal (tardiamente, decerto), não queria se esquecer da mentira em que um dia acreditara: quando jovem, pertencera aos quadros da h...

O bicho de Franz Kafka

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Em 22 de novembro de 1912 Max Brod, o amigo íntimo que desobedeceu a ordem de Franz Kafka de queimar todos os seus manuscritos quando morresse, escreveu a Felice Bauer, a noiva do escritor. Tentou explicar que o autor passava por uma má época e que seus pais não eram conscientes de que para um ser excepcional “são necessárias condições igualmente excepcionais para que sua delicada espiritualidade não se apague”. Esse ser excepcional, frágil, tremendamente nervoso, básica e fundamentalmente obcecado pela escrita redigiu entre 17 de novembro e 7 de dezembro de 1912 uma das obras-mestras da literatura de todos os tempos. Publicou anos depois, em 1915. Assim, o ano corrente assinala a passagem de um século de vida daquela singular história que se inicia quando o caixeiro viajante Gregor Samsa, “depois de despertar de um sonho intranquilo”, descobriu que havia se transformado “num monstruoso bicho”.  A Companhia das Letras, que edita há alguns a obra no Brasil, aprovei...

O estado do bosque, de José Tolentino Mendonça (Parte III)

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Por Pedro Belo Clara. Chegando à penúltima cena da peça que nos ocupou o discurso durante as últimas semanas, e recordando que a mesma tem por número o VI e por nome "Diálogo do sonho", testemunhamos a entrada da última personagem ainda não introduzida: O Destino. Que, a bem da verdade, é uma presença feminina, concepção essa muito provavelmente influenciada pelas lendas das Parcas (ou Moiras, segunda a mitologia grega), as três deusas tecedoras do destino humano. Não estaremos diante de um novo solilóquio, pois a cena desenrola-se a par com John Wolf, regressado após a epifania existencial a que assistimos cenas atrás. No entanto, o episódio, acontecendo como num sonho, constitui uma espécie de “descida aos infernos” protagonizada por Wolf, o que poderá ser evidência que se estranhe tendo em conta a anterior cena onde entrou e tudo aquilo que aí aconteceu. É, portanto, natural conceber-se uma descida tal, vertiginosa e transformadora, antes de um momento de re...

20 anos de Ensaio sobre a cegueira

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Em 2015 cumpre-se 20 anos de um dos romances mais necessários à leitura na contemporaneidade: Ensaio sobre a cegueira , de José Saramago. Já é público que o Letras in.verso e re.verso por ser comandado por um leitor apaixonado da obra do escritor português tem dedicado certa atenção privilegiada ao que se passa em torno da bibliografia saramaguiana. Por essas duas condições, dedicamos assinalar essa data com esta promoção que é instante de abertura para outras atividades a ser desenvolvidas ao longo do ano cujo escopo é esse romance; tem também o intuito de ampliar o número de leitores beneficiados com a obra do escritor. Lembramos que foi o Letras que sorteou quatro edições de Memorial do convento e Levantado do chão quando os dois títulos passaram a integrar o catálogo da Companhia das Letras e depois sorteou outros quatro exemplares do romance inacabado Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas . Então separem mais um lugar na estante. Sortearemos agora um Kit En...

Boletim Letras 360º #113

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Esta semana abriu-se vestida de negro. O universo literário sofreu duas perdas irreparáveis: primeiro, soubemos, tão logo começou a segunda-feira, 13, da morte do Prêmio Nobel de Literatura em 1999 Günter Grass; poucos minutos depois, chegava do Uruguai a notícia da morte de Eduardo Galeano. E são essas duas notícias marcantes que abrem o Boletim Letras 360º da semana. Em memória dos escritores dedicamos de relembrar como assinalamos esse dia de luto. Já à beira do fim de semana notificamos mais um leitor do Letras que foi agraciado com os títulos sorteados na nossa mais recente promoção: leva um Kit “Dois irmãos”, a HQ e o romance. Segunda-feira, 13/04 >>> Alemanha: Morreu Günter Grass O escritor alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura em 1999 e autor de obras como O tambor  (1959) e A ratazana  (1986), morreu aos 87 anos: anunciou sua editora no Twitter.  >>> Uruguai: Morreu Eduardo Galeano O escritor uruguaio morre...