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Ernest Hemingway e Martha Gellhorn: a guerra era uma festa

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Por Tereixa Constenla Com 50 dólares e sem noção de espanhol, a jornalista estadunidense Martha Gellhorn cruzou a pé a fronteira para entrar, na chegada da primavera de 1937, num país em guerra. Era sério seu empenho. “Fui para a Espanha com os meninos. Não sei quem são os meninos, mas vou com eles”. Duas semanas depois, vivia numa cidade sitiada, num hotel cheio de importantes personagens, num espaço ocupado por um daqueles meninos: Ernest Hemingway. Em Espanha foi a primeira vez que Gellhorn pisou numa guerra, o que lhe despertaria novos interesse em depois ir à outras frentes de batalha no mundo todo até se despedir com as crônicas sobre a invasão no Panamá quando já tinha 81 anos. A fúria, sua energia motriz, tardou a extinguir-se em quase nove décadas de vida e ainda sobreviveu às dores necessárias que foram capazes de lhe permitir escrever sua biografia ao lado do seu ex-companheiro. Embora a morte de Gellhorn incite a pensar que havia feito as pazes com ela m...

Viva a música!, de Andrés Caicedo

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No dia 4 de março de 1977, Andrés Caicedo recebeu um exemplar de seu primeiro romance no apartamento 101 do edifício Corkidi, na Avenida Sexta de Cali. Seu protagonista chamou a si mesmo de Siempreviva. Horas depois, o autor tomou 60 comprimidos à base de secobarbital e caiu no sono (para sempre) sobre a máquina de escrever, uma Remington Performer. Nesse mesmo dia também haviam lhe entregado uma geladeira. Tinha só 25 anos. Esse romance, Viva a música , ficou sendo então o seu primeiro e único romance, construído pela colagem de estribilhos de salsa e de versos do Rolling Stones, além de orações pagãs, de frases de Edgar Allan Poe  e de Cela, o autor colombiano havia escrito: “Que ninguém saiba teu nome e que ninguém te dê amparo. Que não acesses às telemensagens da celebridade. Se deixas obra, morre tranquilo, confiando nuns poucos amigos. Nunca permitas que te transformem em pessoa maior, homem respeitável. Nunca deixes de ser criança”. E tem sido os poucos amigos...

Boletim Letras 360º #131

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O rosto inconfundível de Clarice Lispector. Imagem faz parte de um extenso arquivo disponibilizado online pelo Instituto Moreira Salles. Saiba mais detalhes ao longo deste boletim. Chegamos ao fim de mais uma intensa semana. Aqui os trabalhos andam a todo vapor! Sim, andamos com a revisão e contando a chegada do amigo 20 mil para colocarmos online nossa nova promoção. Agora, sem muita conversa, vamos ver as notícias que fizeram nossa página no Facebook esta semana ficar mais movimentada. Segunda-feira, 17/08 >>> Brasil: A literatura nórdica em terras tupiniquim Além da série de livros feita sucesso fenomenal do sueco Stieg Larsson Millennium , que ganha reedição com continuação, e da série Minha luta  do norueguês Karl Ove Knausgård, que já vai no terceiro volume editado no Brasil, há dois outros títulos recém-publicados por aqui que merece atenção do leitor sobre as letras dessa parte da Europa. Em Nós, os afogados , o dinamarquês Carsten Jensen const...

A ilha da infância, de Karl Ove Knausgård

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Por Pedro Fernandes A infância vista pelos olhos de um adulto. Talvez com esta frase o leitor consiga resumir as mais de quatro centenas de páginas do terceiro volume de Minha luta , título que, aos poucos revela a razão de enfeixar esse grupo de livros: trata-se de uma luta constante do autor com suas memórias, e, por mais limpas que elas pareçam aos nossos olhos não deixam de terem sido forjadas por uma potente força imaginativa. É evidente que essa nuance da criação a partir da matéria memorialística já se revelara para o leitor desde os primeiros títulos, A morte do pai e Um outro amor . Mas, nestes dois volumes estávamos ante um narrador envolvido com acontecimentos muito recentes ou de períodos da vida sobre os quais todos carregamos conosco mais ou menos nitidamente situações e impressões. Neste A ilha da infância , não. E, Knausgård é muito sincero, ou se utiliza dessa premissa, assim como do forte detalhismo, para nos colocar diante da verdade do narrado, sem...

Steinbeck e a rua das ilusões perdidas

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Por Maria Vaz   Confesso que me encontro deslumbrada pela miscigenação cultural e pela divulgação de ‘cultura’ em pequenos nadas escondidos no quotidiano de uma cidade que não dorme: São Paulo estranha-se mas não tarda a entranhar-se pela diversidade, pela novidade eterna, pela oferta e pelas surpresas culturais, acessíveis a todos que por aqui passam.  Foi assim – num misto de surpresa com felicidade literária –, que sorri, por exemplo, enquanto comprava um livro novinho, por dois reais, na Estação de metrô da Sé; foi assim que me perdi na variedade de livros de histórias que fizeram parte de outras histórias, desta vez, reais; foi assim que fui introduzida no mundo fascinante dos “sebos” desta cidade. Destarte, perdida num dos muitos sebos daquela cidade, polvilhados por poeiras de outros tempos, cruzei-me com Steinbeck, enquanto fui deambulando mentalmente pela sua “rua das ilusões perdidas”. A verdade é que nunca antes lera Steinbeck: como pode ...

Enigmas sobre a morte de Federico García Lorca

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Há mortes que transcendem tanto como a vida. É o caso do assassinato de Federico García Lorca; o poeta foi fuzilado em 1936 pela Ditadura de Franco. E ainda que fosse encontrado seus restos mortais a data nunca deve ser esquecida pelo simples fato de servir de prova sobre da brutalidade dos regimes ditatoriais e sobre a falta de limites do poder. As livrarias espanholas receberam mais uma edição sobre o tema. Agora, Marta Osorio publica O enigma de uma morte. Crônica comentada da correspondência entre Agustín Penón y Emilia Llanos (em tradução livre para El enigma de una muerte. Crónica comentada de la correspondencia entre Agustín Penón y Emilia Llanos , editora Comares); o título é mais um adendo sobre outra edição da autora Medo, esquecimento e fantasia: crônica da investigação de Augustín Penón sobre Federico García Lorca ( Miedo, olvido y fantasía: crónica de la investigación de Agustín Penón sobre Federico García Lorca ), dois textos indispensáveis no extenso inventári...