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Boletim Letras 360º #142

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Mataram Pablo Neruda. Um documento do governo chileno admite, oficialmente, pela primeira vez, que o poeta pode ter sido mais uma vítima da ditadura de Augusto Pinochet. Mais detalhes ao longo deste boletim. É sempre com prazer que publicamos essas notícias porque dizem do universo do Letras in.verso e re.verso; mas, gostaríamos de deixar registrado que marca inesquecível ainda no fim de semana passado, foi a celebração de mais um aniversário de Carlos Drummond de Andrade, ou como se tem convencionado, o Dia D. Este ano, ainda mais porque é o primeiro em que o dia dedicado ao poeta, 31 de outubro, foi também Dia Nacional da Poesia. E, por falar num dos nossos mestres da poesia, ainda está aberta à participação dos leitores para concorrer aos dois exemplares da Nova reunião de poesia , uma antologia organizada pelo próprio CDA com poemas de 23 de seus livros; veja aqui . Segunda-feira, 02/11 >>> Brasil: Toda poesia de Orides Fontela e inéditas mais um livro sob...

Vá, coloque um vigia, o não-livro de Harper Lee

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Por Renato Fernandes Harper Lee é autora de apenas uma obra, O sol é para todos . E continuará sendo, mesmo depois da publicação de Vá, coloque um vigia – livro vendido mundialmente com a falsa ideia de ser uma continuação do romance de 1960, quando na verdade, é uma versão possível ou rascunho dessa obra. A história desde a aparição do manuscrito à publicação com esse apelo comercial é cruel, divertida ou triste (e talvez melhor do que a própria resultada desse imbróglio); sim é quase uma novela e com um desfecho sem grande fôlego para a principal inventora – Tonja Carter – a mentora de trazer a lume esses papéis e torcer para que entre O sol é para todos e Vá, coloque um vigia , ainda tivesse uma terceira versão publicável da obra. Não teve. Muito recentemente os avaliadores do espólio concordaram que o restante dos papéis que ainda existiam eram sim outra versão de O sol é para todos , mas sem qualquer valor para publicação. O romance que deu o Prêmio Pulitzer a ...

Galveias, de José Luís Peixoto

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Por Pedro Fernandes Este romance de José Luís Peixoto é um rico painel de um Portugal profundo; aquele que se calhar só resiste – não com todas as cores – em Galveias. Este título é muito sugestivo, visto ser mais comum o leitor encontrar romances cujo nome é de uma personagem relevante para a narrativa e não o nome de um lugar; constatação esta que só nos faz concordar com uma linha de raciocínio: o espaço, não o único onde transcorre as ações das narrativas que enformam o romance, é a personagem principal. Não é o espaço único onde se passam as ações porque o escritor, mesmo embebido de certa verve realista e mesmo buscando desenhar figuras que são personagens de Galveias, acompanha aquelas que já ganharam as fronteiras fora da freguesia ou estão em trânsito pelas redondezas ou aí chegaram para firmar moradia, como é o caso da brasileira Isabelle, mineira emigrada para Portugal pela relação construída com uma portuguesa que lhe fez cair no mundo dos negócios com o co...

Das ficções e confissões radicais: "A gênese do Doutor Fausto"

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Por Alfredo Monte Após a Companhia das Letras ter colocado em circulação uma nova edição de  Doutor Fausto , seria bem oportuno o relançamento do livro que Thomas Mann publicou em 1949 sobre sua obra-prima: A gênese do Doutor Fausto 1 . Nele, o fato biográfico mais importante é uma intervenção cirúrgica delicada que o grande escritor alemão (então vivendo exilado nos EUA) sofre aos 70 anos. Após passar pela experiência, ele afirma: “O romance:  durante todas essas semanas ímpares e aventurosas, mantive-o próximo ao coração, fazendo na mente um rol de correções necessárias e diversos planos para o prosseguimento. Minha conduta de paciente exemplar, a ligeireza da minha recuperação, espantosa na minha idade, todo esse desejo de sobrevivência, essa verdadeira persistência em vencer a provação inesperada e tardia, não havia por trás disso tudo um secreto ‘Para quê?’ Não foi tudo a serviço da obra, não foi a partir do inconsciente que a tudo superei para er...

Franz Kafka e Milena Jesenská

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"As pessoas praticamente nunca me enganaram, mas as cartas sempre". A frase é de um conjunto de cartas de Franz Kafka pouco citado na história das missivas de escritores. São correspondências que ele manteve com Milena Jesenská. E quase todas estão tão carregadas de frases que são quase aforismos que a tentação é pegar um punhado delas à própria sorte e não dizer nenhuma palavra a mais. "O medo é verdadeiramente estranho, suas leis internas não as conheço, só conheço sua mão em minha garganta, e isso é realmente o mais horrível que já me aconteceu ou que jamais poderá ocorrer". Mas, há uma história que marca essa relação e que merece ser contada. O conjunto das cartas de Franz a Milena (as respostas de Milena a Franz estão desaparecidas) foram reunidas e publicadas originalmente em alemão ainda em 1952, pelas mãos de Willy Haas que por conta própria decidiu ocultar algumas passagens; em 1986, outra edição trouxe as missivas em sua versão integral e a...

Casa na duna, de Carlos de Oliveira

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Por Pedro Belo Clara Eis um nome de excelência do neo-realismo português. Dadas as anteriores discussões que neste espaço tivemos, sobre o autor e alguns dos seus trabalhos ( ver o final desta post ), a adjectivação não poderá constituir uma assombrosa surpresa. Apesar da obra publicada em prosa ser escassa, facto também agravado pelo precoce desaparecimento do autor, o seu nome será certamente um desses que adquirem uma dimensão somente justificada pelo génio que lhes assiste, sublinhado posteriormente no simples exercício material do mesmo.   Editado pela primeira vez em 1943, Casa na duna , um romance, poderemos dizê-lo, de “tenra idade”, apresenta-se como uma agradável surpresa aos olhos do leitor. Ainda que a versão tida por “definitiva” tenha surgido só em 1980, um ano antes da morte do autor, na sétima edição da publicação orientada pela Livraria Sá da Costa Editores, a narrativa encerra já linhas de notável maturidade. Carlos de Oliveira tinha apenas, ...