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"Carla Lescaut" e a narrativa potiguar no inicio do século XXI

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Por Thiago Gonzaga “Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta/romancista já passou por ele antes de mim”. Sigmund Freud Na já famosa obra Literatura em perigo , o filósofo e linguista búlgaro radicado em Paris, Tzvetan Todorov, defende que, o texto literário tem muito a dizer sobre o ser humano, principalmente porque se permite incursionar para além do censurável, revelando assim o indivíduo, o particular, entre outras coisas. Esta é umas das capacidades de incursão que o escritor realiza, adotando o ponto de vista do outro e tentando desvendar os mistérios íntimos do ser humano. Ora, analisemos, apesar de a literatura não ter o compromisso de retratar a realidade, ela é desenhada a partir da verossimilhança, favorecendo a apreensão e compreensão de certo tempo, de um espaço, dos acontecimentos construídos e reconstruídos. Por conseguinte, levará o leitor a refletir, e modificar, a sua leitura de mundo e, de alguma forma, analisar a sua própria...

Julio Cortázar: “As coisas me chegam como um pássaro que pode passar pela janela”

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Por Emma Rodríguez Há muitas fotografias de Julio Cortázar que nos ajudam a situá-lo em seus lugares de trabalho, ante a máquina de escrever, armando as peças diversas de suas histórias, sempre jogando. Mas ao ler suas Aulas de literatura , livro que compila as aulas ministradas na Universidade da Califórnia, Berkeley, em 1980, a imagem emergente e viva em toda obra é a do professor. Andava a longos passos pelo espaço fechado da sala de aula, anotava palavras, frases, na lousa, convidava e se sentia à vontade conversando com seus privilegiados alunos? Sondemos, mas, sem dúvida, os alunos deviam sentir-se tocados com uma varinha mágica a pensarem na sorte que tiveram de escutar um professor nada comum, o professor “menos pedante do mundo”, como escreve no prólogo do livro Carles Álvarez Garriga. As aulas de Cortázar gravadas e depois transcritas, nos seduzem porque manifestam a capacidade do escritor na transmissão de conhecimentos e experiências, mas, sobretudo, porque...

Tristan Tzara: do caos à ordem

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Por Neiva Dutra Tristan Tzara, cujo verdadeiro nome era Samuel Rosenstock, nasceu em Moinesti, na Romênia, em 16 de abril de 1896. Começou a escrever poesia muito cedo e, aos dezessete anos, já era colaborador de uma das revistas de vanguarda de seu país, Simbolul . Em 1915, adotou o pseudônimo pelo qual ficou conhecido e que significa “triste em meu país”. No mesmo ano mudou-se para Zurique, para estudar ciências humanas e filosofia. Ali se converteu em um dos fundadores do Cabaré Voltaire, um clube artístico onde os dadaístas passaram a se reunir desde então; no espaço havia um teatro e uma sala de exposições e conferências. Junto a Jean Arp e Hugo Ball, foi um dos criadores e líder do movimento dadaísta. Em 1918, subscreveu o Manifesto Dadá, a declaração programática mais importante do movimento que revolucionaria a arte através da sua negação, buscando romper com todos os parâmetros estabelecidos ao longo da história da arte ocidental.  Autor de...

Boletim Letras 360º #142

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Mataram Pablo Neruda. Um documento do governo chileno admite, oficialmente, pela primeira vez, que o poeta pode ter sido mais uma vítima da ditadura de Augusto Pinochet. Mais detalhes ao longo deste boletim. É sempre com prazer que publicamos essas notícias porque dizem do universo do Letras in.verso e re.verso; mas, gostaríamos de deixar registrado que marca inesquecível ainda no fim de semana passado, foi a celebração de mais um aniversário de Carlos Drummond de Andrade, ou como se tem convencionado, o Dia D. Este ano, ainda mais porque é o primeiro em que o dia dedicado ao poeta, 31 de outubro, foi também Dia Nacional da Poesia. E, por falar num dos nossos mestres da poesia, ainda está aberta à participação dos leitores para concorrer aos dois exemplares da Nova reunião de poesia , uma antologia organizada pelo próprio CDA com poemas de 23 de seus livros; veja aqui . Segunda-feira, 02/11 >>> Brasil: Toda poesia de Orides Fontela e inéditas mais um livro sob...

Vá, coloque um vigia, o não-livro de Harper Lee

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Por Renato Fernandes Harper Lee é autora de apenas uma obra, O sol é para todos . E continuará sendo, mesmo depois da publicação de Vá, coloque um vigia – livro vendido mundialmente com a falsa ideia de ser uma continuação do romance de 1960, quando na verdade, é uma versão possível ou rascunho dessa obra. A história desde a aparição do manuscrito à publicação com esse apelo comercial é cruel, divertida ou triste (e talvez melhor do que a própria resultada desse imbróglio); sim é quase uma novela e com um desfecho sem grande fôlego para a principal inventora – Tonja Carter – a mentora de trazer a lume esses papéis e torcer para que entre O sol é para todos e Vá, coloque um vigia , ainda tivesse uma terceira versão publicável da obra. Não teve. Muito recentemente os avaliadores do espólio concordaram que o restante dos papéis que ainda existiam eram sim outra versão de O sol é para todos , mas sem qualquer valor para publicação. O romance que deu o Prêmio Pulitzer a ...

Galveias, de José Luís Peixoto

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Por Pedro Fernandes Este romance de José Luís Peixoto é um rico painel de um Portugal profundo; aquele que se calhar só resiste – não com todas as cores – em Galveias. Este título é muito sugestivo, visto ser mais comum o leitor encontrar romances cujo nome é de uma personagem relevante para a narrativa e não o nome de um lugar; constatação esta que só nos faz concordar com uma linha de raciocínio: o espaço, não o único onde transcorre as ações das narrativas que enformam o romance, é a personagem principal. Não é o espaço único onde se passam as ações porque o escritor, mesmo embebido de certa verve realista e mesmo buscando desenhar figuras que são personagens de Galveias, acompanha aquelas que já ganharam as fronteiras fora da freguesia ou estão em trânsito pelas redondezas ou aí chegaram para firmar moradia, como é o caso da brasileira Isabelle, mineira emigrada para Portugal pela relação construída com uma portuguesa que lhe fez cair no mundo dos negócios com o co...