Postagens

Doze mais duas histórias de amor

Imagem
Muito cedo, com alguém da rua ou da escola, você já terá olhado para alguém com um carinho bobo capaz de despertar no pensamento e no corpo os desejos sobre os quais você pode chamar de paixão sem que saiba o que isso significa. Aliás, mais tarde irá descobrir que nunca saberá o que significa quando esses tais desejos, de novo, lhe atacar; não importa quão tarde seja ainda assim você continuará chamando isso de paixão. Também usará de uma variante: o amor. E não tardará encontrar definições de que este e aquela não são a mesma coisa. Há mais intensidade num, há mais dedicação no outro. Alguém dirá que são, tudo, bobagens. E mesmo sendo bobagens, engraçado, não conseguirá se desviar nem de uma e nem do outro. Porque se paixão e amor são convenções culturais, são também produtos de uma necessidade biológica da espécie humana. E é justamente por essa universalidade que terá levado ser os dois temas mais recorrentes na literatura. Em alguma circunstância da história tornou-se um...

Jaroslav Hašek

Imagem
Jaroslav Hašek foi um homem que demonstrou pouca coerência ao longo de sua curta vida. Até 1911, sem haver chegado aos 30 anos, fingiu sua própria morte; quando, recém convertido no escritor mais popular da então Tchecoslováquia, morreu de verdade, em 1923; seus conterrâneos não acreditaram, pensaram que estava fazendo outra de suas piadas. Já havia tentado suicidar-se atirando-se ao rio do alto de uma ponte de Praga e já havia passado uma temporada no manicômio, dado como morto outra vez quando foi para a guerra, tudo de grande proveito para sua literatura, mas nada útil para sua vida de fanfarrão e beberrão. As aventuras do bom soldado Švejk é sua obra-prima; serviu nas mais diversas variações do tipo "o que se dá para fazer com uma obra literária": de inspiração para filmes, séries para televisão, quadrinhos, óperas, musicais etc. Na Europa central e do leste, o soldado Švejk, o mais idiota e imbecil de seu regimento, é uma personagem célebre como o Dom Quixote,...

John Cheever

Imagem
Por Javier Morales Ortiz “Não dissimular nada, nem ocultar, escrever sobre as coisas mais próximas da nossa dor, a nossa felicidade; escrever sobre a minha falta de jeito com o sexo, o sofrimento de Tântalo, a magnitude de meu desalento – acreditar entrevê-lo em sonhos –, meu desespero. Escrever sobre os néscios sofrimentos da angústia, a renovação de nossas forças quando outras acabam; escrever sobre a penosa busca do eu, ameaçado por um estranho em vigília, um rosto apenas entrevisto pela janela de um trem; escrever sobre os continentes e o que povoa nossos sonhos, sobre o amor e a morte, o bem e o mal, o fim do mundo” (John Cheever) A leitura é um belo diálogo com o presente e com o passado, com escritores que morreram há anos e com outros que compartilham conosco o confuso momento que temos vivido. Acumulamos leituras, incorporamos novos autores à nossa família literária, relevamos outros, nunca totalmente. Além de outras coisas, somos o que já lemos, o que...

História do novo sobrenome, de Elena Ferrante

Imagem
Por Pedro Fernandes Há pelo menos duas linhas através das quais é possível construir uma leitura para o segundo volume da série napolitana – uma sequência de romances da italiana Elena Ferrante que se constrói em torno do desenvolvimento de uma figura alter ego, digamos assim, da escritora e sua amiga. Enquanto no primeiro volume, o leitor encontra o período que vai da difícil infância ao casamento de Lila, aqui, sabemos sobre a nova vida dela, como a Sra. Carracci, as desavenças com um companheiro do qual se arrepende haver se casado ainda na noite de núpcias e dos desencontros e subida nos estudos de Lenu depois de ganhar uma bolsa de estudos na Universidade de Pisa. Uma das linhas é a sobre a corrosão das relações pessoais pelo capital, se percebemos o motivo do casamento de Lila, as extensas preocupações do companheiro na estreita briga pelo território comercial com os Solara e o progressivo afastamento da amizade entre Lila e Lenu e a maneira como aquela ...

O homem do país azul, de Manuel Alegre

Imagem
Por Pedro Belo Clara Aqui temos, diante do olhar, uma obra que por grande parte da sua breve extensão revela vívidos testemunhos de uma época já extinta. Relatando-os com tamanho fervor e poesia, como só os profundamente humanos corações são capazes de o fazer, eleva-os em algumas situações quase ao estatuto de lendas, não estivesse praticamente a maioria das incidências que por estas páginas poderemos encontrar relacionada com um período específico da história portuguesa mais recente. Trata-se de um livro de contos, dez no total, lançado em 1989, que firmou o seu autor como um talentoso prosista. Tendo em conta o seu passado como poeta, e considerando o espaço temporal a que nos referimos, surgiu como a confirmação do talento de Manuel Alegre para outros voos literários que não aqueles que, com merecido louvor, já lhe eram conhecidos. Ademais, 1989 foi igualmente o ano de lançamento do seu romance Jornada de África , prova fulcral desta marcada mudança de género pratica...

Boletim Letras 360º #172

Imagem
Raduan Nassar, o Prêmio Camões de 2016. Sempre que se reclamar que no Brasil não se lê, poderíamos mostrar o boletim que ora é publicado; não é sempre, mas nesta semana os lançamentos de extensa significação por editoras diversas são tantos que até mesmo um leitor mediano talvez não seja capaz de dar conta de todos eles no que ainda nos resta de 2016. E, se há publicação, imagina-se que há, mesmo pouco leitores. É evidente que não queremos negar nossa medíocre capacidade de leitores, mas só gostávamos de pensar a questão por outro ângulo. Talvez pela pergunta: e os leitores, o que fazem pelos não leitores? A proposta deste blog se consolida como uma alternativa nesse breu. Tanto que, enquanto alcançamos quase 31 mil amigos em nossa página no Facebook, ousamos, por conta própria reinvestir na aposta de agradar nossos leitores: há uma promoção que sorteia um kit com três livros da Lygia Fagundes Telles à escolha do vencedor. Saiba mais indo aqui . Mas antes não esqueça de ver o qu...