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L’amour, de Michael Haneke

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Por Maria Vaz Quando se pensa em assistir um filme de amor, normalmente somos levados pelas vicissitudes de uma sétima arte mais comercial a ver uma comédia romântica de Hollywood em que duas pessoas se conhecem, passam por uns problemas e tudo acaba com uma espécie de ‘foram felizes para sempre’. Quem nunca caiu nessa armadilha idealista? Eu já. Há dias assim, em que tudo o que precisamos é de voltar a acreditar no amor. Sem pensarmos bem no que seja essa palavrinha, tão pequenina e banalizada. Um sentido perdido? Um misticismo para os que se deixam levar pela beleza de uma face que sempre enruga, de um corpo que um dia não irá mais para a academia, de um glamour que não se tem ao acordar, nem quando se lida com situações-limite que sempre batem à porta da existência. Será o amor o mero esbarrar químico de dois corpos que se dão bem, mas que só trazem inseguranças, complicações e desconfianças? Os mais realistas acharão que o amor é isso – os corpos – e que o resto é devanei...

Biografia involuntária dos amantes, de João Tordo

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Por Pedro Fernandes João Tordo. Foto: Fernando Dinis   “O amor também é uma mentira. A mentira mais velha do mundo”. As duas sentenças aparecem numa conversa entre o professor narrador de boa parte da história contada em Biografia involuntária dos amantes e a chefe de uma editora em Londres, Antonia McKay, e justapostas, como foram propositalmente apresentadas aqui, podem evidenciar sobre o que é este romance de João Tordo. Se não traduzem efetivamente a obra, são significativas para o estágio de permanente frustração que acometem as personagens envolvidas nos dramas centrais da narrativa. Pode-se mesmo dizer que a tentativa do narrador ao se enredar pela história trágica entre o poeta mexicano Miguel Saldaña Paris e Teresa de Sousa é uma tentativa – e sobre ela caberá ao leitor descobrir se é ou não uma tentativa igualmente frustrada – em reverter sua condição de sujeito à beira de sucumbir às forças indeléveis do amor. Isto é, não deposite o leitor grande arroub...

Sartre: a autenticidade e a violência

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Por Jorge Martínez  Contreras Jean-Paul Sartre morreu no dia 15 de abril em Paris, onde havia nascido há 74 anos. Numa entrevista publicada no início do ano no semanário francês Le Nouvel Observateur , havia declarado que viveria provavelmente mais cinco anos, talvez dez. Não sobreviveu nem dois meses às previsões. Sartre é agora um destino, o conjunto de suas obras e suas ações e dos juízos que sobre ele podemos fazer. Mas já que não poderá se defender do que no futuro afirmemos sobre sua vida e obra, comecemos por lhe infligir o inevitável e exato lugar-comum que o reconhece como um dos pensadores mais decisivos e prolixos do século XX. É dos poucos que puderam se expressar praticamente em todos os gêneros literários, sob o lema da nula dies sine linea (nenhum dia sem escrever). Publicou seis obras de cunho filosófico, quatro romances, um livro de contos, nove peças de teatro e duas adaptações, três roteiros de cinema, dez volumes de ensaios, três biografias e um infinida...

Aurora Bernárdez, sem Julio Cortázar

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O nome de Aurora Bernárdez nunca conseguiu ser desassociado da figura de Julio Cortázar, com quem se casou em 1953 e com quem viveu em Paris durante a etapa mais prolífica do escritor argentino, incluindo a de criação de O jogo da amarelinha . Mas com a publicação de O livro de Aurora (Alfaguara), vem à luz uma faceta desconhecida desta tradutora argentina filha de galegos, viajante ativa e, agora, escritora póstuma. A edição é publicada graças ao empenho do compositor e cineasta francês, amigo íntimo de Aurora Bernárdez desde o início dos anos 1980, e quem, junto com Julia Saltzamnn organiza o livro. Segundo Philippe Fénelon, não há mais nada além dos textos agora publicados. Isto é, este o primeiro e também o último livro da escritora. Livro que é uma revelação mesmo para alguns do seu círculo de amizades, afinal, se os mais achegados a Aurora sabiam que ela escrevia, mesmo assim, grande parte não haviam lido nada. “Ninguém, exceto sua irmã Teresa e Perla Rotzait, sua...

Boletim Letras 360º #227

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Neste domingo, 25 de junho, encerramos a promoção que sorteia um exemplar dos Contos completos , de Dostoiévski; como dissemos no Facebook, alcançando ou não a marca dos 200 inscritos, meta que havíamos estipulado para a realização do sorteio. Interessados em participar, basta ir aqui . Bom, sem delongas, eis, então, as notícias que copiamos esta semana no mural do Letras no Facebook. Muita novidade boa – diga-se. Uma polêmica palestra de Anthony Burgess inédita ganha edição em livro. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Segunda-feira, 19/06 >>> Brasil: A Sesi-SP Editora lança o Auto da Sibila Cassandra , de Gil Vicente A peça foi representada pela primeira vez no Mosteiro de Xabregas nas matinas do Natal à rainha viúva D. Leonor, provavelmente em 1503 ou 1513, embora a Compilação não dê nenhuma indicação sobre a data. Segundo as próprias palavras do autor, o auto trata "da presunção da Sibila Cassandra, que como por espírito profético soubesse o mistér...

Como enfrentar Ulysses

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Por E. J. Rodríguez James Joyce   Foi meu pai quem me aconselhou algumas vezes, com ênfase, a leitura de Ulysses . Suas recomendações sempre eram certeiras e sua paixão por este livro mais que evidente – ele havia lido quase de uma sentada a primeira vez e acreditou, crasso erro, que comigo ia acontecer a mesma coisa –, e então tentei mergulhar em sua leitura duas ou três vezes. E duas ou três vezes abandonei o romance depois de ler, ou melhor diria, de tropeçar entre linhas, durante um par de capítulos. Pensava que melhor dedicaria meus esforços a livros menos inóspitos. Há algo no início do Ulysses que pode desfazer o ânimo inclusive dos leitores mais treinados e dispostos. Posso dizer, é o único livro que tive de abandonar não porque fosse um mal livro, mas porque me dava por vencido. Esta é uma sensação que muitos leitores experimentam com este romance, embora exista uma minoria privilegiada, ou sortuda, ou talvez mais evoluída, que consegue mergulhar na obra j...