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Seishi Yokomizo, o rei do romance policial japonês

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Por Sergio Vera Hoje quando vemos, tão educados e tímidos, não podemos esquecer: os japoneses são guerreiros. Passaram séculos lutando entre eles, nunca a katanazo limpa, desde quando Tokugawa Ieyasu venceu na batalha de Sekigahara (1600). Assim que, para recuperar o tempo perdido, quando o Japão abriu suas fronteiras de novo em finais do século XIX, em apenas cinquenta anos, o país do Sol Nascente se meteu numa diversidade de confrontos. Sem perder a ironia, pouca coisa. Só uma guerra contra os chineses (entre 1894 e 1895) e outra contra os russos (1904-1905). E por onde os japoneses saíram? Em 1937 voltaram a invadir a Manchúria, começando a Segunda Guerra chino-japonesa que logo se diluiu na Segunda Guerra Mundial. E não contentes com tudo, em 1941, a Marinha Imperial Japonesa atacou a Pearl Harbor, base naval dos Estados Unidos e quartel-general da frota estadunidense do Pacífico, na ilha de O’ahu, no Havaí. Se até então foram bem sucedidos, no fim de tanta guer...

Clara dos Anjos: a chaga dos anos 20

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Por Thaís Farias Vargas Di Cavalcanti.  Lima Barreto: o triste contemporâneo Clara dos Anjos é um romance do “escritor maldito”, alcunha dada a Afonso Henriques de Lima Barreto pelo literato e jornalista H. Pereira da Silva. A trama é desenvolvida nos bairros do subúrbio do Rio de Janeiro, que se transforma em palco de denúncia social, onde o cotidiano da mestiçagem é destrinchado sem floreios, sem rodeios, marcando a exclusão daqueles que residem no “refúgio dos infelizes”, como enuncia o narrador desta triste novela. Cabe dizer antes de qualquer escrito que Lima Barreto foi avaliado negativamente no mundo literário, não só durante a existência corpórea, mas também postumamente. Muitos críticos, em especial aqueles que organizam os manuais sobre a história da literatura brasileira, relatam que o romancista escreveu sobre suas vivências, não dissociando as mazelas pessoais das obras; muitos desses críticos são ferozes no que concerne ao estudo de s...

Boletim Letras 360º #229

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Lima Barreto. Nunca se falou tanto sobre o autor e sua obra nunca foi tão reeditada como no ano sabático de 2017. Nesta semana vieram online as duas novidades divulgadas no último Boletim Letras 360º: o blog recebeu uma nova colunista, a poeta Fernanda Fatureto ; e iniciamos a promoção que sorteará os quatro volumes da série napolitana, da Elena Ferrante, editada pela parceira Globo Livros / Biblioteca Azul. No nosso Instagram . Segunda-feira, 03/07 >>> Brasil: A infância de Aninha. Uma coletânea reunirá textos da poeta Cora Coralina para os mais jovens A edição é da Global Editora, responsável pela obra de Coralina no Brasil. Lembranças de Aninha  reunirá 12 textos escritos pela poeta sobre sua infância em Vila Boa de Goiás, no final do século XIX. São textos já publicados em outros livros da autora, mas reunidos agora numa edição ilustrada. A antologia compila, entre outros, "O boi de guia", "A fala de Aninha – é abril e as meninas", ...

Easy Rider, Trainspointting, On The Road e nosso artificialismo moral e existencial

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Por Rafael Kafka Impossível assistir a filmes como Trainspoitting e Easy Rider sem pensar na busca desesperada à qual muitos se engajam dentro de nossa sociedade capitalista sem obter resultados satisfatórios. O que fica evidente em ambas as produções é o fato de que o vazio inerente à finitude da existência humana é intensificado por um modelo socioeconômico preocupado tão somente em disfarçar a angústia do ser por meio do ato de consumo, como bem expressou Bauman em seus ensaios sobre o mal-estar da sociedade pós-moderna. Sartre e outros existencialistas dizem que somos condenados a sermos livres. Todavia, os discursos de nossa sociedade assumem muitas vezes um viés ditatorial, sem muito espaço para a real livre escolha. Cada vez mais isso se evidencia em um discurso conservador desavergonhado, o qual se mostra de forma sutil e grotesca no filme dirigido por Denis Hopper. A nossa angústia é dirigida para um modelo inautêntico de existência marcado pela aparência. Neste c...

Inferno provisório, de Luiz Ruffato

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Por Pedro Fernandes Uma das características definidoras do bom escritor é sua capacidade crítica para com sua própria obra. Na medida certa ela significa um zelo com a língua e o leitor. Mas, a revisão repetitiva e contínua de uma obra é um agravo. Demonstra não só insegurança para com o seu projeto literário como um interesse pela submissão do leitor a uma obsessão da qual, raras exceções, a do estudioso da obra, por exemplo, ele não tem interesse em compartilhar. Ainda bem que não podemos inserir Luiz Ruffato nessa última lista, porque com Inferno provisório – assim como foi com De mim já nem se lembra – é, nas palavras do autor, a obra definitiva que começou a ser gestada em 1998 com a apresentação de Histórias de remorsos e rancores e findou quase uma década depois com Domingos sem Deus . No intervalo entre os dois títulos escreveu Mamma, son tanto felice , O mundo inimigo , Vista parcial da noite e O livro das impossibilidades . Em geral as histórias desse cicl...

Thomas Hardy: poeta e romancista

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Por Christopher Domínguez Michael São diversos os poetas que abandonam, total e parcialmente, a poesia pelo romance, seja porque a primeira forma literária é a da juventude por antonomásia ou porque as cordas da lira, arte maior, se rompem facilmente. Faulkner publicou seu primeiro livro de poesia – Vision in Spring [ Visão na Primavera ] – em 1921, isto é, muito antes de ser romancista, o mesmo fizeram Marcel Proust, Oscar Wilde, José Lezama Lima, Álvaro Mutis, Blaise Cendrars e muitos outros de nossos contemporâneos para quem a poesia não lhes dão, muitas vezes, o reconhecimento ou o dinheiro, real ou imaginado, dado pelo romance, o que está longe de ser um escândalo pois a literatura é, também, uma profissão. Outros, além da poesia, exerceram formas diversas da prosa, como Rainer Maria Rilke, sem abandonar o sacerdócio de poeta, e alguns, como D. H. Lawrence, prosadores, intercalaram sua carreira de escrita de romances com a escrita de poemas. Há casos diferentes, o...