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Augusto Monterroso. O mestre da brevidade

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Por Andrés Olascoaga A alguns autores bastam um texto para destacá-lo na história da literatura. No caso do escritor hondurenho Augusto Monterroso, esse texto foi um breve conto que tinha “interpretações tão infinitas como o próprio universo”, repetindo suas próprias palavras. Monterroso apresentou o referido texto, “O dinossauro”, na sua primeira reunião de contos, Obras completas (y otros cuentos) [Obras completas (e outros contos)] , publicada em 1959. Desde então seu trabalho literário, tal como a personagem principal de seu conto, se manteve presente no imaginário coletivo. Mas, seria injusto limitar a vida do escritor a apenas seu mais célebre texto. Afinal, sua história é uma das mais interessantes da literatura latino-americana. Nascido em 21 de dezembro de 1921 em Tegucigalpa, Honduras, Augusto Monterroso Bonilla cresceu mantendo-se distante da pátria onde nasceu e se instalou junto com seus pais na Guatemala. Durante a adolescência, o...

Notas à Borda dos Noventa: aprendendo a escrever menos

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Por Donald Hall Donald Hall, que faleceu em junho de 2018 aos 89, foi um prolífico poeta, ensaísta e editor cujo trabalho teve enorme impacto nas letras americanas. Foi o primeiro editor de poesia do The Paris Review e serviu aos EUA como poeta laureado. A sua Art of Poetry Interview apareceu na edição de Outono de 1991 da publicação referida. Antes de morrer, compilou um último livro de ensaios, A Carnival of Losses: Notes Nearing Ninety [Um Carnaval de Perdas: Notas à Borda dos Noventa], um excerto do qual aparece abaixo. Quando tinha dezesseis anos de idade, eu lia dez livros por semana: E.E. Cummings, William Faulkner, Henry James, Hart Crane, John Steinbeck. Pensava que progredia em literatura ao ler mais e mais rápido – mas ler mais é ler menos. Aprendi a desacelerar. Trinta anos depois, em New Hampshire com Jane, eu ganhava a vida com freelas de escrita o dia todo, então lia livros apenas à noite. Li Declínio e queda do Império Romano e seis imensos volum...

Boletim Letras 360º #316

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Finalizamos outra semana e já agora com uma novidade de primor: o blog sorteia um exemplar de A queda de Gondolin , a mais recente publicação da obra de J. R. R. Tolkien apresentada no Brasil pela HarperCollins Brasil. Para saber como participar basta visitar a post escrita por Guilherme Mazzafera que faz uma excelente apresentação desta obra. Recado anotado, vamos à semana magra de Carnaval. Cem anos de solidão terá primeira adaptação para a televisão Segunda-feira, 4 mar. Como Bukowski se tornou Bukowski Escrever para não enlouquecer  é um livro único na obra do velho Buk. Reunindo cartas redigidas e ilustradas por ele entre 1945 e 1993, não apenas revela as ideias e opiniões do autor sobre literatura e o ato de escrever, mas também oferece ao leitor a chance de conhecer os bastidores da vida do velho Buk contados por ele mesmo – da embriaguez da juventude errante até os anos maduros de fama. Compiladas por Abel Debritto, biógrafo do autor que editou d...

Treze obras da literatura que têm gatos como protagonistas

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Doris Lessing  “Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual” Carlos Drummond de Andrade, “Perde o gato”, de Cadeira de balanço É possível, tantos anos depois das primeiras narrativas que trouxeram o gato como protagonista, estabelecer a compreensão de um modelo de prosa, à maneira como se determina outros segmentos na literatura. Parece que o registro mais antigo dos bichanos na narrativa literária remonta ao período grego; nas fábulas de Esopo, o gato é retratado como um animal astuto, capaz de tudo para alcançar seus interesses. O fabulista grego sublinha, assim, a inteligência, a astúcia e a esperteza; se à primeira vista o gato consegue se dar bem, não deixa de cair nas graças daqueles a que persegue, como em “O gato e os ratos” e “O gato médico e as galinhas”. Isto é, tem lugar desde esse período a condição ambivalente que assumirá ao longo das representações literárias. O papel de malvado que se apresenta nas fábulas de Esopo é ...

Iris, Iris, a esplêndida rainha do baile

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Por Antonio J. Rodríguez Retrataram-na como uma burguesa que levava uma vida intelectual indiferente. Suas maneiras eram elitizadas e parecia carregar um orgulho disso. Era o tipo de pessoa que defendia que o bom homem vê as coisas de maneira diferente do homem medíocre. Que não tinha vindo ao mundo para ser de muitos amigos, é algo que gostava de deixar claro de imediato. Houve quem a descreveu como uma Vênus depredadora e cruel – embora como sempre acontece, também não são escassos testemunhos previsivelmente mais amáveis. No verão de 1990, Jeffrey Meyers publicou na Paris Review uma entrevista que revelava a temível Iris Murdoch (1919-1999) em seu esplendor. Admitiu que havia sido militante no Partido Comunista e que logo se cansou; soube aí o quão “espantoso” era o marxismo. Esquivou-se da bipolaridade de seu mundo passando por cima das duas grandes ideologias dominantes e assim foi parar no Oriente: “O budismo deixa claro que é possível ter uma reli...

O fluir dos lentos rios de metal: A Queda de Gondolin, de J.R.R. Tolkien

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Por Guilherme Mazzafera A publicação brasileira do mais recente livro de J.R.R. Tolkien, A Queda de Gondolin , é algo a ser celebrado. Lançado aqui em 30 de agosto de 2018, no mesmo dia que as edições inglesa, americana e alemã, trata-se de algo absolutamente inédito em nosso país, fato atestado pelo amplo interesse dos leitores que lotaram os eventos de lançamento em diversas capitais. Em experiência inédita para mim, pude ler a edição brasileira imediatamente após a britânica, o que permite uma melhor fruição da tradução bem como evidencia os efeitos de certas escolhas editoriais De cara, é preciso dizer a versão nacional, altamente convidativa em sua bela capa dura, é única: as folhas de guarda, que não costumam apresentar qualquer tipo de informação, são adornadas com belas representações dos brasões das 12 casas de Gondolin. Além disso, o livro é atravessado, do Sumário às Árvores Genealógicas, por pequenos detalhes em forma de linhas, escudos, flechas, barc...