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Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles

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Por Pedro Fernandes Os espectadores que acompanham o trabalho de Kleber Mendonça Filho desde O som ao redor , seu primeiro trabalho de maior projeção, encontrarão em Bacurau , projeto que remonta segundo o cineasta a 2009, uma leitura que amplia sua exposição acerca dos complexos e das complexidades do Brasil. Embora seja uma produção dirigida a quatro mãos, nota-se alguns elementos fundamentais da estética do cineasta de Aquarius : as relações de poder numa sociedade em transição outrora marcada por cisões de classe, a revisitação a certos lugares de uma memória tocada por ventos quase saudosistas de um passado irrepetível ou o exame sobre alguma questão acerca de nossa identidade nacional cujas respostas tardam chegar devido ao nosso interesse de preservação da aparência e adiamento das soluções. O tema de Bacurau nos remete para o triste passado colonial, não especificamente no sentido histórico, isto é, não é este um filme cuja narrativa remonta o período de interve...

Quiasmo Malcolm-X: a tópica negra do descobrir o ouro

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Por Wagner Silva Gomes Quem pega um exemplar do último livro do autor capixaba Marcéu Rosário Nogueira, lançado pela editora BOLEKAJA (2019), lê em sua capa frontal de cor marrom, com letras grandes em negrito, o nome “Ação Dão”. A contracapa, de mesmo estilo, traz o nome “Cor Podre”. Há um estranhamento imediato no entendimento de que o nome do livro não é “Ação Dão” e a contracapa não é apenas uma frase mostrando o conteúdo do livro. Então, ao abrir o livro o escancarando, num ato luxurioso que a quem não o tratou com afeto pode causar um incômodo de repugnância (é amor ou estupro, se o seu olhar for colonial), como quem o coloca em uma copiadora para imprimir ou escanear, se surpreende com o nome verdadeiro do livro Coração Podridão . Detalhe, no poema OLHARmaTOCAdorDIZsó, o M, que pode ser de Machado de Assis, que traz em sua biografia o registro de ter trabalhado com impressões de textos em uma copiadora, onde aprendeu muito lendo os livros, diz ele em uma de suas ...

Penelope Fitzgerald: a escrita interior

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Por Pilar Adón Há muitas histórias da vida de Penelope Fitzgerald que parecem nos encorajar, inspirar, fazer com que vejamos que tudo pode acontecer se persistirmos e que nunca é tarde para começar. Somos fascinados por seu estilo, sua maneira de dizer tantas coisas e transmitir tantas emoções quando parece que ela quase não conta nada, mas também somos atraídos por sua biografia, esse compromisso e essa tenacidade literária que às vezes parecem derivar de uma teimosia saudável; somos seduzidos por sua erudição e tranquilidade, esse tipo de impassibilidade (diríamos oriental) que talvez constituiu uma das razões para adiar por tantos anos uma escrita que deveria ter começado antes. Entre outras coisas, porque tudo apontava que começaria mais cedo. Tudo parecia pronto, organizado e preparado para que a Srta. Penelope Knox escrevesse assim que saísse da universidade, tivesse sucesso e fosse uma das escritoras mais destacadas de sua geração. Mas, ...

Boletim Letras 360º #342

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Não tardará chegar nossa próxima promoção; os leitores que acompanham o blog no Instagram já estão avisados que em breve sairá um sorteio nessa rede social. E será com um clássico de Virginia Woolf. Bom, quem passar por aqui e dedicar alguma atenção a este Boletim, também está avisado. No mais, vejam a seguir as notícias que passaram pela semana em nossa página no Facebook e, dessa vez, o BO Letras 360º está completo, com dicas de leitura, vídeos, versos e outras prosas e baú de letras. Boas leituras! A Companhia das Letras reedita clássico que deu a conhecer a literatura de Toni Morrison. Segunda-feira, 2 de setembro A Companhia das Letras apresenta nova edição de O olho mais azul , de Toni Morrison . Romance de estreia da autora estadunidense, O olho mais azul  narra a história de Pecola Breedlove, menina negra que sonha ter olhos azuis numa época em que o modelo de beleza é o da atriz branca Shirley Temple. A trajetória de Pecola culmina na devastação: aos ...

Um rival de Flaubert

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Por Rafael Pérez Gay Durante muito tempo, o escritor francês Ernest Feydeau (1821-1873) foi para mim um mistério separado de uma admiração. O mistério era constituído por um escritor desaparecido no gosto do público com a passagem dos anos e pela admiração, é claro, pela obra de Gustave Flaubert. Esse enigma sempre começava com um fato transcendente: Madame Bovary vendeu 29 mil cópias durante os primeiros cinco anos de venda, enquanto o escritor agora desconhecido, Feydeau, alcançou um sucesso ainda maior com um romance, Fanny , que contava os relacionamentos de uma mulher casada com um homem mais jovem e isso, como o Bovary , foi um escândalo. Mas isso não era tudo, esse romance da vida de Flaubert estava além da venda de livros, da aceitação crítica e do falso ruído da imprensa literária: esses dois escritores eram amigos, trocavam cartas onde se confessavam sobre as dúvidas corriqueiras e essenciais de sua existência. Eles também compartilharam o a...