Postagens

O prêmio literário pela recusa de prêmios literários

Imagem
Por Ursula K. Le Guin Jean-Paul Sartre, um dos que recusaram o Prêmio Nobel de Literatura A primeira vez que ouvi sobre o Prêmio Sartre foi através de “NB”, a verdadeiramente agradável última página do Times Literary Supplement , assinada por J.C. A fama da premiação, nomeada em honra do autor que recusou o Nobel em 1964, está ou deveria estar, de qualquer forma, crescendo rápido. Como escreveu J.C na edição de 23 de novembro de 2012, “Tão elevada é a condição do Prêmio Jean Paul Sartre por Recusa de Prêmio que escritores por toda a Europa e América estão rejeitando prêmios com a esperança de serem nomeados para um Sartre”. Recém-listado para o Prêmio Sartre é Lawrence Ferlinghetti, que recusou uma premiação de poesia de cinquenta mil euros oferecida pela divisão húngara do PEN¹. A premiação é financiada em parte pelo repressivo governo húngaro. Ferlinghetti educadamente sugeriu que eles usassem o prêmio monetário para estabelecerem um fundo para “a publicação de auto...

Rudyard Kipling, diferente e singular

Imagem
Por Antonio Lucas Para Rudyard Kipling a vida era melhor compreendida se houvesse um livro no meio. Foi um autor exótico sem aceitar o exotismo como conduta. Um tipo tocado pela necessidade de escrever para ver melhor o mundo. As palavras foram o seu chão. E ele decidiu viver em pleno sol na literatura, contando histórias em quatro romances, em mais de 800 poemas, em inúmeros contos, centenas de cartas e em algumas memórias póstumas (como Something of myself ').  Muito além de autor de O livro da selva , Kim  e Intrepid Capittains , além dessa literatura de fantasia, além da fama e do dinheiro, há um homem marcado por profundas dores. Ainda aos cinco anos sofreu os maus-tratos de uma cuidadora: "Eu era espancado todos os dias... Comecei a ler tudo o que caía em minhas mãos, mas quando ela sabia que eu gostava disso mais que dos outros castigos, acrescentava-me a privação dos livros. de Foi então que comecei a ler às escondidas e consciente disso...", escreve em su...

Witold Gombrowicz e a arte de morder a realidade

Imagem
Por Mary Carmen Sánchez Ambriz Em seu Diário , Witold Gombrowicz apresentou uma síntese de seu plano de trabalho para Cosmos , seu último romance, publicado em 1967. Aí, ele deixa claro que é um “romance sobre a formação da realidade”, e enfatiza: “Será um tipo de romance policial”. É importante destacar essa comparação porque o romance tem sido definido como uma história policial  –   possivelmente por fins comerciais  – quando, na realidade, é um pouco mais complexo. Ele continua: “Ritmos furiosos, abruptamente acelerados, de uma Realidade desencadeada. E isso explode. Catástrofe. Vergonha. A realidade que de repente transborda devido a um acontecimento excessivo. Criação de tentáculos laterais… de cavidades escuras… de rupturas cada vez mais dolorosas”. Mas dizer que o último romance que Gombrowicz escreveu é um romance policial é limitar-nos a uma visão fragmentada da trama e não procurar mais considerar outras possibilidades. Como é esse Cosmos que ele ...

Boletim Letras 360º #345

Imagem
Nesta semana, depois de superar uma instabilidade nas redes sociais, conseguimos realizar o sorteio de O quarto de Jacob  (Virginia Woolf / Editora Autêntica) e os leitores que acompanham o blog aí têm agora a tripla chance de ganhar um exemplar de Melancolia , livro do poeta Carlos Cardoso publicado pela Editora Record em 2019. Sim, temos novo sorteio. Um exemplar vai para um leitor do Letras no Facebook, outro no Instagram e um no Twitter. Por isso, ao terminar de ler este boletim, não deixe de se inscrever. O livro está incrível – poesia de alto nível: garantimos. O sorteio acontece na próxima sexta-feira, 4 de outubro. Portanto, corra! Clássico de Nelson Rodrigues ganha reedição. Segunda-feira, 23 de setembro Reedição de Vestido de noiva , de Nelson Rodrigues Enquanto se recupera no hospital após ter sido atropelada, Alaíde é assombrada por lembranças de seu passado conturbado com Lúcia, a irmã de quem roubou o namorado, e pelas memórias lidas no diá...

Escritoras na contracorrente

Imagem
Por Maria Ángeles Cabré Se o mundo é formado quase igualmente por homens e mulheres, parece conveniente perguntar por que nas livrarias elas não aparecem na mesma proporção, muito menos na história da literatura, onde as escritoras quase sempre aparecem em notas de rodapé, simples apêndices de algumas leituras compostas em chave exclusivamente masculina. Não há uma resposta única para essa questão. O que teria acontecido com todas aquelas mulheres do passado que não se tornaram escritoras e que, por outro lado, contavam histórias quentes de amor ou enovelavam noites após noites com contos? É verdade que, os famosos contos de Perrault não são o resultado exclusivo de sua imaginação, mas histórias populares coletadas pelos autores nas estradas do interior da França. E se, como disse Virginia Woolf, o anônimo fosse uma mulher? É provável que muitos dos seus criadores fossem mulheres. Mas nunca saberemos; do mesmo modo que nunca saberemos quem pintou as pinturas não assinadas...

Melancolia, de Carlos Cardoso

Imagem
Por Pedro Fernandes Quem tiver lido a poesia de Carlos Cardoso – Na pureza do sacrilégio , é um bom exemplo – não deixará de encontrar na delicadeza do seu verso uma voz tranquila capaz de deixar expressar textualmente certo olhar taciturno sobre as coisas e o mundo. Alguém poderá se apressar em dizer que essa é uma condição natural de todo poeta. Mas, não se pode transformar uma recorrência numa universal. Isto é, há múltiplas possibilidades de ver e cada eu-poético recorrerá àquela mais natural capaz de intuir uma totalidade do seu mundo poético; reflexivo, irônico, revoltado, radical, político, saudosista, entusiasta, erótico, trivial, enfim, as variantes são inumeráveis. Um desses modos de ver decorre de “um descompasso entre o tempo em que deveria realizar-se uma certa experiência e seu efetivo cumprimento”, o que, Luiz Costa Lima, o autor dos termos antes apresentados em destaque num estudo com mesmo título do livro de Carlos Cardoso distingue de maneira...