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Boletim Letras 360º #416

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  DO EDITOR   1. Saudações, leitor! Terminou no 1º, o prazo de candidaturas para ser um dos colunistas no Letras in.verso e re.verso . Fique registrado o agradecimento aos autores que enviaram suas inscrições e a todos que divulgaram esta chamada.   2.  Até o final do mês de fevereiro será divulgado os nomes dos selecionados pelo e-mail de inscrição, numa das edições deste Boletim Letras 360º e nas redes sociais do blog.   3. Aproveito a ocasião para lembrar que o Letras está sempre aberto ao recebimento de textos. Para saber como, basta visitar este endereço .   4. Reitero a expectativa de que você se encontre são e seguro. Agradeço a atenção. Boas leituras! Selma Lagerlöff.   LANÇAMENTO   O rei Lear da estepe , de Ivan Turguêniev, uma obra com vida própria, repleta de enigmas e sutilezas. Atento ao que havia de mais original na cultura europeia de seu tempo, mas com os afetos e a sensibilidade firmemente ancorados na realidade russa, Ivan Turg...

Fuga do Campo 14 e a resistência contra o não dito

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Por Rafael Kafka O campo literário das narrativas de sobreviventes ou relatos de testemunho são ricos repositórios de experiências humanas, os quais demonstram as amplas dimensões daquilo que caracterizaria uma essência humana. Tais relatos são importantes gestos de resistência que revelam as profundezas de acontecimentos que mais que queiramos esquecer precisamos lembrar de suas existenciais como forma de combate às ideologias nefastas que os geraram. A literatura de testemunho é provavelmente o gesto de resistência mais significativo em ti, pois estamos lidando com a dimensão do trauma em uma nova essência. Não é mais um fato que ocorreu e se torna recorrente pela memória e sim um conjunto de fatos que por si só formam um todo opressivo que reduz a humanidade a uma massa amorfa viva. Diante desse fato, falar sobre o que se viveu, escrever sobre isso, revisitar o trauma é um gesto de coragem e de desnudamento profundo, a maior demonstração do sujeito se defrontando com o absurdo de s...

Índice médio de felicidade, de David Machado

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Por Pedro Fernandes David Machado. Foto: Leonardo Cendamo / Reprodução “As pessoas pedem ajuda sem perderem um minuto a pensar nas implicações desse gesto, uma certeza incrível de que estamos sempre prontos para largarmos aquilo que temos nas mãos e irmos.” A curiosa sentença não seria isso se não fosse seu autor alguém que com um grupo de amigos tentou investir numa plataforma virtual que pudesse servir às pessoas na troca de favores, realizando umas com as outras o que não estavam ao alcance de realizar sem a ajuda de alguém. Um ano depois do insucesso do projeto, Daniel se questiona sobre quais razões podem levar as pessoas a não procurarem no outro um apoio que seja.   Conformado ou não com o fracasso da ideia, uma série de acontecimentos penosos invadem a vida da personagem, a começar pelo desemprego depois de se dedicar quase duas décadas como importante funcionário de uma agência de turismo. São os difíceis anos de uma das vagas da crescente crise instaurada no seio do capi...

O verdadeiro combate de Albert Camus

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Por Rafael Narbona Albert Camus, 1948. Albert Camus se tornou uma espécie de santo secular. O sacerdote e teólogo belga Charles Möller lhe dedicou algumas páginas extraordinárias em Literatura do século XX e Cristianismo (tradução livre), destacando seu caráter exemplar como homem e seu compromisso como escritor. Sem chegar a ser “um mártir laico”, Camus compreendeu que sua vocação literária não era algo meramente estético, mas sim uma forma de solidariedade com seus semelhantes. Com apenas trinta anos, colocou sua escrita a serviço do Combat , o jornal clandestino da Resistência contra a ocupação nazista. Era o ano de 1943 e ainda não gozava do reconhecimento que mais tarde o tornaria um dos grandes escritores de sua época, com obras-primas como O estrangeiro , A peste ou O homem revoltado . Seu relacionamento com o Combat durou de março de 1944 a junho de 1947. Nesse período, ele escreveu 138 editoriais e 27 artigos. Mais tarde, acrescentaria algumas peças soltas.   Em seus pr...

Maldição e dessacralização: elogio da realidade em Angiolieri e Pasolini

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Por André Cupone Gatti Pier Paolo Pasolini. Foto: Dino Pedriali   I. O termo “poète maudit” surgiu séculos após a morte daquele que o inspirou. Aceita-se que foi Alfred de Vigny, em pleno romantismo, o primeiro a empregar a expressão, ao se referir ao poeta francês do fim da Idade Média, François Villon, na sua obra Stello . Ao discutir os problemas da relação entre os poetas e a sociedade, o romantismo conferiu um significado inflamado ao “poeta maldito”, personagem trágico, desventurado e errante, à beira da loucura. Paul Verlaine, ainda no século XIX, revitalizou o termo, ao inseri-lo no contexto dos poetas finisseculares de inclinação simbolista e decadentista. Ainda personagens desventurados, mas não tão trágicos como inicialmente, os “poètes maudits”, no entendimento de Verlaine, eram aqueles obscurecidos e incompreendidos no meio literário, provocativos no comportamento e muitas vezes herméticos no estilo. Corbière, Rimbaud e Mallarmé foram os principais paradigmas do poeta ...

Ricardo Piglia em busca do tempo perdido

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Por Patricio Pron Ricardo Piglia. Fotograma do documentário 327 Cuadernos , de Andrés Di Tella   “Gostaria de editar este diário em sequências que sigam as séries de acontecimentos”, escreve Ricardo Piglia: “todas as vezes que me encontrei com amigos em um bar, todas as vezes que fui visitar minha mãe. [...] Não uma situação despois da outra, senão uma situação igual a outra”. A doença degenerativa que foi diagnosticada três anos antes de sua morte em 2017 impediu o escritor argentino de dar forma a esta tentativa pereciana de esgotar a experiência; porém, alterar o que seu autor denomina “a causalidade cronológica” é um dos propósitos mais habitualmente repetidos ao longo de Los diarios de Emilio Renzi , cujo terceiro e último volume permite agora vislumbrar o que Piglia poderia ter feito com seus diários se tivesse obtido um adiamento da sentença: em sua segunda seção, “Un día en la vida” [“Um dia na vida”], o autor ordena as situações narradas ao longo de vários anos em u...