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Lamb: uma família entre outras

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Por Fernanda Solórzano   Não me lembro de ter visto um filme parecido com Lamb antes. Não é um julgamento de valor, embora poucas coisas me empolguem tanto quanto aqueles filmes que nos afastam de suas reações habituais. Vencedor do prêmio de melhor filme na recente edição do Festival de Sitges, dedicado ao cinema fantástico, e do prêmio de originalidade na seção Un certain regard , em Cannes, Lamb foi descrito como um filme de “horror sobrenatural”. O adjetivo é indiscutível: o acontecimento central da trama escapa às leis da natureza. Mas é uma história de terror? Eu não teria tanta certeza. Não é para os protagonistas; eles, ao contrário, sentem-se abençoados pela irrupção do sobrenatural na vida cotidiana. Sua experiência deve ser o critério a ser considerado.   Primeiro longa-metragem do islandês Valdimar Jóhannsson, Lamb se passa em uma daquelas paisagens que ilustram a ideia de “fim do mundo”: um vale montanhoso cuja majestade é de tirar o fôlego, mas que não necessa...

O que se passou entre Roberto Bolaño e César Aira?

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Por Juan Tallón Roberto Bolaño. Foto: Revista Paula . Em julho de 2008, César Aira (Argentina, 1949) ministrou um curso em Santander, organizado pela Universidade Internacional Menéndez Pelayo. Custava cem euros e incluía uma bolsa para se hospedar quatro noites no Palacio de la Magdalena. Por acaso, naquele exato momento eu tinha o dinheiro e me inscrevi. No primeiro dia, uma hora antes de começar, desci para o café da manhã e encontrei Aira sozinho, tomando um suco de laranja vagamente natural, e com um ovo frito no prato, que era meu café da manhã favorito, mas para o jantar. Sentei-me ao lado dele e depois de um tempo me dizia que o nome do seu avô era Robustiano e que era de Sobradelo, em Ourense. Aira não sabia, nem eu, que em Ourense existem três vilas com esse mesmo nome. Pouco depois, Michel Lafon, professor de literatura argentina na Universidade Stendhal de Grenoble, romancista e tradutor de Aira, Borges e Bioy Casares para o francês, juntou-se ao café da manhã. Cascavilhamo...

A criação do mundo segundo os maias

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Por Raúl Rojas Ilustração de Diego Rivera para Popol Vuh .    Os maias foram a única cultura na América indígena que chegou a ter um sistema de escrita avançado. Tão desenvolvido, de fato, que lhes permitiu esculpir seus mitos e lendas em estelas de pedra, capturá-los em cerâmica ou murais, ou registrá-los em livros feitos de finas folhas de casca de árvore, os chamados códices. Poucos exemplares dessa incipiente literatura mesoamericana sobreviveram à destruição na fogueira, produto do fanatismo religioso dos clérigos espanhóis. No entanto, o Popol Vuh , a narrativa sagrada dos maias quiché, pode ser salva do esquecimento. Antes da conquista, as lendas maias eram transmitidas principalmente oralmente, algumas das quais com séculos de existência. Após a conquista, talvez em 1550, o Popol Vuh foi preservado usando o alfabeto latino. Aparentemente os autores da transcrição eram nobres maias da área cultural quiché, onde hoje fica Santa Cruz, na Guatemala.   Popol Vuh sig...

Boletim Letras 360º #480

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    DO EDITOR   1. Caro leitor, como o tempo voa rapidamente, é possível dizer que já entramos na reta final para o próximo sorteio no clube de apoios ao Letras. Aproveite que este será o último sorteio da temporada nesse formato.  2. Como já disse noutras edições deste Boletim, desta vez, sairão três livros da editora-parceira Companhia das Letras: romance O avesso da pele , de Jeferson Tenório; o livro de contos Gótico nordestino , de Cristhiano Aguiar; e o romance Ossos secos escrito pelo coletivo formado por Luisa Geisler, Marcelo Ferroni, Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado.   3. Para se inscrever é simples. Envia R$25 através do PIX blogletras@yahoo.com.br ; finalizada a operação, envia neste mesmo endereço (nosso e-mail) o comprovante. O sorteio está previsto para o dia 29 de maio. A escolha dos títulos desta vez sublinha o Dia da Literatura Brasileira (celebrado no primeiro dia do próximo mês) e a pluralidade de novas vozes de nossa litera...

O silêncio lhe cai tão bem

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Por Rafael Ruiz Pleguezuelos Colagem. Frédérique Bertrand.   Nestes tempos de literatura selfi e, em que autores de curta e longa carreira tentam estar presentes em todas as fofocas digitais e esticar o pescoço ao máximo para serem vistos em cada foto, em qualquer evento, a notícia que um novo autor como Joseph Andras recusa um prêmio Goncourt e declara que valoriza sua independência o suficiente para se afastar dos holofotes deve ser visto como um salto contra a maré ao alcance de pouquíssimos. Neste momento, a polêmica sobre a manifestação desse jovem no Goncourt é mais viva — que inveja da cultura na França, onde as pessoas parecem realmente se importar com o assunto e chove rios de tinta sobre o acontecido! —, com hipóteses que vão desde a inexistência de tal Andras, acompanhada da suposição de que se trata do pseudônimo de um autor de carreira, até aquelas que sugerem que poderia ser todo um grupo que resultou na magnífica obra intitulada De nos frères blessés (Dos nossos irmã...