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Boletim Letras 360º #487

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DO EDITOR   1. Saudações, caro leitor! Abro esta edição do boletim, para informar que ficará disponível um exemplar da edição especial do Ensaio sobre a cegueira , de José Saramago (Companhia das Letras, 2022) para sorteio entre os apoiadores do blog. Saiba mais sobre o livro aqui .   2. É possível ajudar ao Letras com valores a partir de R$10 através do PIX blogletras@yahoo.com.br . Mas essa é apenas uma das formas. Você pode saber mais sobre por aqui . E, cabe não esquecer que na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto, também ajuda a manter o Letras sem pagar nada mais por isso .   3. A todos que acompanham o trabalho do Letras , reitero os sinceros agradecimentos. Boas leituras e um fim de semana de descanso. Virginia Woolf. Foto: National Portrait Gallery.   LANÇAMENTOS   Dois livros para marcar a edição brasileira do Dalloway Day’22, iniciativa importada pela Editora Nós .   1. Muito à semelhança d...

Sobre o que é literatura

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Por Lucas Pinheiro Imagem: Cristina Coral.   O ponto de partida para compreendermos o que é literatura é reconhecer que buscar sua essência é complicado e pode estar fadada ao fracasso a tentativa de definição. É necessário atentarmos ao caráter funcionalista da literatura e não ao ontológico. As tentativas de definição de literatura pelos formalistas russos ou mesmo Terry Eagleton, por exemplo, foram construídas a partir de diferentes momentos históricos e sociais.   Tomemos Terry Eagleton. Ele parte do princípio de que a literatura remete a um conjunto de textos socialmente valorizados, portanto, textos julgados como literatura só podem ser compreendidos dessa forma a partir de uma perspectiva funcionalista, o que anula a busca ontológica, já que é preciso levar em consideração aspectos como o contexto social e histórico que estamos inseridos. Esclarecido que não há um conceito ontológico e limitador do que seria a literatura, o nosso objetivo a partir de agora é procurar en...

A. B. Yehoshua, o escritor que definiu a identidade de Israel

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Por Juan Carlos Sanz A. B. Yehoshua. Foto: New York Jewish Film Festival   Abraham Bulli (sobrenome de família) Yehoshua, o escritor menos conhecido e talvez o mais inovador de um trio excepcional de contadores de histórias hebreus com projeção internacional, junto com David Grossman e Amos Oz (falecido em 2018), morreu no dia 14 de junho de 2022 em Tel Aviv. Yehoshua sempre esteve na vanguarda da criação literária. Sua obra, traduzida para três dezenas de idiomas, aproxima a língua hebraica da revolução empreendida por grandes romancistas do século XX, como William Faulkner e James Joyce.   Defensor do direito do povo judeu de viver em sua ancestral pátria nacional, ele definiu fielmente os dilemas da identidade de Israel, ao mesmo tempo em que defendeu, a partir da esquerda trabalhista e pacifista, uma solução para o conflito palestino. Durante meio século apoiou a fórmula dos dois Estados, embora no final de sua vida tenha se inclinado para uma confederação com plena igual...

Ilusões perdidas, de Xavier Giannoli

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Por Solange Peirão   Quando Lucien de Rubempré, o jovem poeta provinciano e idealista, inicia seu trânsito por Paris, em busca de emprego e reconhecimento, acaba entre editores, de livreiros a jornalistas. A primeira confrontação mais direta foi com Étienne Lousteau, jovem como ele, de quem ouve a indagação: “você sabe o que é o meu trabalho?” E o romântico Lucien responde: “escrever sobre a Arte, a Beleza, o mundo…” A que o jornalista, sem rodeios, responde, na lata: “meu trabalho é enriquecer o dono do jornal!”   Estava dado, assim, o núcleo desse bonito filme de Xavier Giannoli que se inspira em Ilusões perdidas , uma trilogia que compõe, por sua vez, A Comédia Humana , como é conhecido o conjunto da obra de Honoré de Balzac.   E, em Paris, irá se cristalizar o que já se prenunciava na distante Angoulême. Aqui Lucien trabalha na gráfica do cunhado, escreve poesia e tem um affaire com Louise. Por meio dela, é introduzido no mundo da nobreza, pouco letrada e arrogante, ...

“Destino”, de Ryunosuke Akutagawa

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Por André Cupone Gatti e Guilherme de Almeida Gesso   Nenhuma frase resume tão expressivamente a persona artística de Ryunosuke Akutagawa quanto aquela de sua própria pena, escrita alguns meses antes de se suicidar, em janeiro de 1927: “Não tenho consciência de qualquer espécie, nem mesmo artística. Sensibilidade é tudo o que tenho.” Inegavelmente, a prosa de Akutagawa nasce do sensível e jamais o perde de vista. Esse contista japonês, considerado o maior de seu país no século XX, no entanto, acabou por construir narrativas com possibilidades interpretativas tais, que nos soa estranho aceitar unicamente a sensibilidade como fonte da sua criação ficcional.   Retórica à parte, Akutagawa, para além da sua maneira “à flor da pele” de criar, narrando o pasmo das superfícies, desenvolveu, em grande parte dos seus contos históricos, uma curiosa e discreta tensão entre as cores absolutas da tradição fabular e a coloração gradiente da modernidade. Foi o conto “Rashomon”, publicado em ...

As polêmicas vidas de Philip Roth

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Por Javier Aparicio Maydeu Philip Roth. Fotos: Eve Arnold   Nunca saberemos como Philip Roth resenharia esta biografia de Philip Roth, o romancista mascarado que quis se disfarçar de autobiográfico em Os fatos e que sempre precisava inventar suas próprias vidas e confundi-las com as vidas dos outros que sua profissão o levava a conceber em forma de personagens, jogando de desfigurar as fronteiras que separam o criador de suas criaturas, emaranhando o novelo de identidades.   Na famosa entrevista para The Paris Review , o autor de A marca humana deixou claro que “a ideia é transformar pessoas de carne e osso em personagens fictícios e personagens fictícios em pessoas de carne e osso. […] Um escritor é um ator. Tem que haver algum prazer neste trabalho, e é isso, andar por aí disfarçado. Atuar como um personagem. Fazer-se passar pelo que você não é. Fingir”.   E seus leitores sabem muito bem que ele perverteu fragmentos de sua vida disseminando-os entre seus personagens...